Murilo Mendes no Mam

12 de outubro de 2023

É sobre Murilo Mendes, mas sobre Adalgisa Nery que quero quero escrever.

Fui ao Museu de Arte Moderna no Ibirapuera e aprendi sobre essa poeta.

Sobre Murilo já sabia.

Dela não conhecia nada.

Vou pesquisar.

Admirei a coragem e a elegância.

Amanhã volto ao Mam.

Não deu pra ver tudo.

Parabéns aos organizadores.

PRAIA

1 de outubro de 2023

Publico agora fotografias da praia da Enseada, no Guarujá.

Gosto de olhar o mar. É infinito, embora haja navios eventualmente. E ilhas.

Daqui pra frente visitarei vários mares.

Natal em Nova York

10 de janeiro de 2023

Um Natal entre obras de Hopper, esculturas romanas coloridas, trabalhos preferidos de Monet e Van Gogh, árvores de Natal do Metropolitan, do Rockfeller Center, um Natal só com minha filha, meu filho do outro lado da linha telefônica, esse ano saí do Brasil.

O frio é frio mesmo, não nevou como eu queria, só chuviscos de neve, teve muito sol.

Minha irmã e eu fomos concebidas nessa época porque nascemos 26 de setembro. Hoje, 26 de dezembro, é o aniversário de nossa mãe Ana Maria.

Natal pra mim é uma época que eu tenho vontade de pular, dar um salto. Desďe que minha mãe morreu é assim. Esse ano ainda bem que eu não senti essa sensação de estar em trânsito. Tinha tanto trabalho pra fazer que mal percebi os poucos enfeites na rua e nas avenidas em São Paulo. A data da viagem se aproximava e eu pensava se dessa vez embarcaríamos: a viagem tinha sido adiada duas vezes por causa da Covid.

Só que dessa vez nada acontecia no meio do caminho. Estava tudo certo. Nenhum desvio, Nova York e seu frio nos esperavam. Esse ano desmarquei muitas viagens e essa, parece, aconteceria. A do ano novo, pra Salvador, eu desmarquei.

O frio em Nova York não foi tanto. Nos Estados Unidos foi. Tudo virou gelo e pessoas morreram. Na cidade o sol estava maravilhoso, radiante e, depois, choveu, mas não houve nevasca. Vimos paisagens coloridas, quadrados dourados de sol refletidos nas ruas, nos prédios, em todos os lugares. E caminhávamos rápido porque todo mundo anda rápido. Ainda estou aqui. Agora no avião, esperando a decolagem. Escrevo aos poucos.

Pra que andar rápido? É a regra. Por favor, eu pensava, vamos devagar. Eu precisava respirar. Mas eu não falava isso, eu pensava.

Eu atravesso a rua devagar, ando devagar, vejo as coisas devagar. Porque eu quero. Eu prefiro. Não me contamino pelo jeito frenético deles aqui. Como há turistas por aqui.

E as costas doeram por um tombo que tomei na cozinha antes de vir. Ainda doem, mas menos. Lá recomendaram-me um remédio na farmácia e uma placa ou algo assim, com mentol. E fui melhorando.

Adorei as estátuas romanas coloridas do Metropolitan. Adorei passar o Natal com minha filha no Blue Note. Adorei ver as pinturas de Hopper no Whitney. Adorei ver Barbara Kruger no Moma. E Klimt na Neue Galerie. Na Neue Galerie há uma exposição dos objetos usados no filme Casablanca, que Lauder ama. Os passaportes, a mesa, as taças, os cartazes. Tantos encantos.

Hotel Atlântico

13 de novembro de 2022

Esse hotel, de 1922, uma cidade de praia, que tem um pouco de São Paulo, de Rio de Janeiro e de Salvador, tudo ao mesmo tempo, uma cidade onde me sinto estranha e em casa, de onde tenho medo de não voltar, onde há navios que partem para o mundo, onde há milho na praia, mar, edifícios tortos, drones, fontes, crianças nas fontes, Santos.

Seis lugares da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco

30 de junho de 2022

O primeiro lugar: o túmulo de Julio Frank.

Dava para entrar ali ou não dava. Ele tinha sido da Bucha. E  o que era a Bucha? Existia, não existia, algum professor teria participado da sociedade secreta?

Sempre passei meio rápido pelo  túmulo, logo à esquerda da entrada,  nunca acreditei que debaixo do cimento houvesse algo que tivesse sido o senhor Julio Frank.

O segundo lugar: o elevador dos professores. Apertado. O primeiro elevador à esquerda. Pequeno, de grades formando losangos. Os professores desciam e subiam por aquele elevador minúsculo. Uma ou duas vezes peguei  carona, constrangida. Fizeram-me extrema deferência, não me lembro bem o mestre que autorizou minha entrada. Lembro, mas não vou contar.

Terceiro lugar: a escada. Quarto degrau. Ali sentei-me com muitas e muitos amigos, li, conversei, esperei a chuva passar, fiquei olhando o pátio. Tenho fotografias com Lúcia, Cláudia, Lilian, Lili, Hajnal, Tereza.

Quarto lugar: o Departamento Feminino. Que faculdade do mundo pode ter um lugar só para mulheres descansarem, fazer tricô, cochilar? A minha faculdade tinha e eu gostava disso. Gostava de me sentar nos sofás de couro e  ficar livre dos olhares masculinos, gostava de fechar um os olhos. Hoje em dia espaços exclusivos para as mulheres voltaram a ser necessários para amamentação, para qualquer outra privacidade feminina. Na época eu gostava de ficar quieta ali no DF.

Quinto lugar: o salão nobre. Já me sentei em uma pequena mesa em frente à mesa maior, um degrau abaixo, defendendo a tese de doutorado sobre igualdade no direito processual penal brasileiro. Estar no salão nobre é sempre uma honra, em qualquer situação, em qualquer de suas posições. Na plateia estive bem mais de uma vez.

Sexto lugar: Sala de aula da turma de penal, quinto ano. Somos da Turma de 1985, antes da Carta de 1988. Presenciamos a Constituinte logo depois de formados.

Tivemos aula com o Professor Manoel Pedro Pimentel, um dos idealizadores da Reforma Penal de 1984, que eu admirava demais. Ele escreveu textos muito claros que   eu sabia quase   de cor. Usava óculos com lentes escuras em aula, e andava de lá para cá no tablado explicando a diferença entre erro de tipo, erro de fato e erro sobre a ilicitude do fato. Eu compreendi muitíssimo bem essa diferença e até hoje é o que mais sei em direito penal.

Minha última lembrança feliz do Largo de São Francisco é do lado de fora, no ano de 2018. Era de noite, e estavam passando um filme na parede da praça em frente, “A paixão de Joana D’Arc”, de Dreyer.

Encontro agora o filme no YouTube e assisto perguntarem a Joana no julgamento: Jura dizer a verdade, nada mais que a verdade? E ela diz: sim.

Todo mundo sabe o lugar em que Joana D’Arc termina: a fogueira.

Mesmo com a fogueira o filme é muito lindo, assim como a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Texto publicado em “Não sei se é fato ou se é fita…Memórias da Turma de 1985, São Paulo, Max Limonad, 2022, coordenação Cristina Mastrobuono

Viver com cães e gatos

28 de março de 2022

Faz tempo sei que escritores e gatos combinam. Vejo fotos de uns com os outros. Parece que gatos inspiram boas histórias.

Eu mesma tive meu primeiro gato aos 59 anos. Meus primeiros gatos, uma gata e um gato, Mafalda e Bambu.

Vieram da rua. Ou dos muros. Andavam em parques suspensos, pendurados em rodapés noturnos, acompanhando uma mãe atordoada que buscava alimentos abandonados por pessoas esquecidas ou generosas.

Um dia minha irmã deu um ponto final nessa missão. Ela chamou um caçador. Ele pegou a gata e os gatões, estafados. Ela cuidou, vacinou e fiquei com dois bebês e ela um. A mãe escapou e vive nos muros e visita ainda a filha gatinha.

Meus gatos são de apartamento. Mafalda acomoda-se no vaso de plantas da sacada e observa do alto o movimento do vento e dos pássaros. Penso se ainda espera pela mãe.

Agora eles têm Lola, minha querida cachorrinha cor de mel que se sente a dona da matilha, que protege todos e a mim também, mandatária de todas as mães, embora também ela criança.

Tina, ela sim mais velha, embora menor, não quer organizar espaços, só quer ficar sozinha e em paz no seu canto ou no nosso colo.

Bambu deita na minha barriga, no meu peito, e me olha, me olha. Ele se acha meu namorado. Meu irmão. Meu melhor amigo. Lola tem ciúmes, mas não ousa interferir na nossa relação.

Agora mesmo ele chegou. Empurra minha mão com sua carinha linda e firme. Amo todos de um jeito especial. Mas Tininha é a que escolhi em um fim de tarde muito triste, em que ela também estava triste, a última shi-tzu, a que sobrou, que se aninhou em meu peito quando pedi pra ver.

Tininha é muito altiva. Não se rebaixa, só passeia quando quer, só come quando quer, não faz nada contra a vontade. Não tem medo de nada. Ela confia na vida. Tolera Lola, tolera os gatos, gosta muito de mim.

Lola e Bambu ficam cada vez mais amigos. Ele se deita entre as pernas longas dela e ela deixa que ele descanse com jeito de mãe, ele é o bebê que não teve.

Mafalda chega junto na hora de dormir, no escuro ela se encosta em mim. Está aprendendo a receber carinho. Como gosto dela.

Não posso deixar de falar do Mobi, o meu cachorro. Dele só falo, meu cachorro, que era o que eu dizia quando ele chegava junto, e ele entendia.

Sobre “Sexo, amor e concursos públicos”, de Ruy da Silva Próximo (São Paulo, Novo Século).

11 de maio de 2021

Quando a gente começa um livro e não consegue parar de ler a vontade imediata é saber mais sobre o autor.

Foi o que aconteceu nesse isolamento do primeiro semestre de 2021, trabalhando em casa, lendo as notícias tenebrosas da política, da covid política, da covid saúde, das mortes, da onda de mortes, das mortes na favela de Jacarezinho no Rio de Janeiro, que me deixaram triste e mais que triste, indignada e desacorçoada (essa é uma palavra que minha avó usava muito).

E a morte do ator Paulo Gustavo também me deixou triste porque eu não sou de assistir comédia brasileira no cinema, mas dele eu gostava muito, e quem não? Ele até inspirou o nome de um personagem meu.

Nunca conto esses segredos, mas aqui eu vou contar, em homenagem ao Paulo Gustavo.

Quando eu ia ao cinema, antes da pandemia, quando ir ao cinema não era um ato de subversão, antes de começar o filme, ele aparecia falando algumas coisas sobre desligar o celular. E ele mencionava Carlos Alberto. Eu não lembro nada, só a voz dele, Carlos Alberto. E eu pensava, esse nome é muito bom, Carlos Alberto, é um personagem muito bom, muito curioso esse personagem com quem ela fala, a mãe interpretada pelo Paulo Gustavo (agora eu sei, é o pai dele).

Gente, minha memória mistura tudo, eu não sou boa para contar fatos, eu sou boa para sensações e impressões.

E dei esse nome, Carlos Alberto, para o personagem do marido de Sabina em “Feliz aniversário, Sílvia” (Patuá).

Ele ganhou esse nome pela voz de Paulo Gustavo, foi muito legal.

Esse personagem, pra mim, tem muita personalidade, ele existe mesmo.

E passei a assistir aos filmes de Paulo Gustavo. Ele deu nome a um personagem meu. Isso é importante pra mim, quando alguém me inspira esse alguém passa a fazer parte da minha vida.

Nesse livro, “Feliz aniversário, Sílvia”, há uma personagem, Sabina, que é tradutora e uma escritora de best sellers, trilhardária, mas o marido não sabe. O marido, o Carlos Alberto, não sabe que ela é a escritora famosa. Ele não sabe que ela é rica e tem  dinheiro guardado em contas no exterior. Ele não sabe nada da vida secreta dela.

Mas nem tudo é desesperança.

Quando li “Sexo, amor e concursos públicos”, de Ruy da Silva Próximo (Novo Século, 2021), eu fiquei mais animada, eu dei risada, eu me lembrei de quando andava a pé pelo Centro de São Paulo, de quando era jovem advogada, de quando imaginava como seria o meu futuro, de quando havia um trabalho a ser feito.

E quando eu li esse livro, “Sexo, amor e concursos públicos”, de Ruy da Silva Próximo,  eu me lembrei dos livros de Sabina, todos best sellers. E percebi que Ruy da Silva Próximo, o autor, é um personagem também. Essa é uma advertência feita no início do livro, aliás, mas eu só li essa advertência no fim do livro.

Sabina também escreve sob pseudônimo: Anna B. Timble. Minha personagem, Sabina, encontrou um personagem na vida real, Ruy da Silva Próximo.

Eu gostei muito do livro de Ruy (já o trato de Ruy, um amigo). O narrador cresce na leitura, fiquei muito próxima dele. Não é à toa que se chama Próximo.

E a história se desenvolve em São Paulo, em lugares por onde andei, no Centro, na Líbero Badaró, na Benjamin Constant, no Bairro da Liberdade. Ruy anda por lugares muito familiares para mim, de ônibus, a pé. Ele estuda para ser promotor de justiça, é um jovem advogado e se dispersa com festas e garotas.  É meio tímido, mas ao mesmo tempo ousado, tem pouca grana, também, dá pra sentir sua angústia  ao se ver dividido entre estudar e experimentar as doçuras da vida (uma angústia bem suportável).

 Ele precisa passar no concurso para promotor de justiça, ele tem esse ideal além de tudo, um ideal de vida. E ele segue seu caminho fazendo uma coisa e outra,  desviando-se dos obstáculos e conquistando etapas.

Depois desse primeiro momento de identificação com uma angústia matreira, que me fez rir e sentir afeto por ele, vem o segundo, agora formal: o índice do livro. O índice é muito bem feito, tanto na ordem como na escolha dos títulos. Dá vontade de ler o livro, ainda que escolhendo, aleatoriamente, os capítulos, o que não fiz, já que segui a sequência.

As introduções aos capítulos são ótimas. Edição, diagramação, perfeitas. O ritmo da fala do Ruy é peculiar, não se assemelha a nenhum ritmo literário conhecido.

Ruy tem  a voz do personagem. Ele fala rápido, mas não tanto a ponto de saltar na página para dar impressão de modernidade ao estilo. Ele fala  rápido com as pausas naturais da personalidade. E algumas frases terminam com a ironia necessária, não excessiva, não forçada, como “a verdade é que eu não teria dinheiro nem para a pipoca”.

As diversas referências a Napoleão no capítulo 2 são super sutis, cômicas, sem serem pesadas. A sutileza aparece também em “A queda não causou qualquer contusão ou dano físico” (p. 145).

Isoladamente, as frases irônicas podem parecer simples, mas, quando examinadas no contexto, juntas, mostram o personagem, seu modo leve de ver o mudo e de experimentar a ansiedade de prestar concursos públicos.

Ruy é uma pessoa um pouco atrapalhada, mas também confiante no seu destino. Não desperdiça os momentos da vida: “Não havia missão, predestinação ou presságios, só um trabalho a ser feito”.

O Salão azul é o lugar de Ruy, o Everest de George Mallory, e não há nada demais nisso, é uma conquista natural essa. É só um trabalho a ser feito.

O livro é bom e divertido, o sexo está na medida certa, faz parte da vida de Ruy, a gente lê com naturalidade.

O livro é escrito por um pseudônimo masculino   sem ser machista e essa característica, hoje, é muito interessante: o que Ruy pensa sobre as mulheres não atingiu meu feminismo ou minha sororidade. Eu achei o livro bacana e bem escrito. Ruy é um personagem que mal chegou e já tem nome e endereço fixo.

Veio para ficar.

Espero a continuação.

Domingo no Masp: Degas

17 de janeiro de 2021

É a segunda vez que visito o Masp desde março, quando começamos a andar de máscara, depois da pandemia.

Nas duas vezes estava quase vazio, seguro. As salas são muito espaçosas e todas as pessoas respeitam o distanciamento.

A exposição de Degas, com ênfase nas esculturas, e na pequena bailarina, é deslumbrante. Pensei que iria me incomodar com as fotografias imensas de Sofia Borges, mas, pelo contrário, elas iluminaram as mulheres belíssimas de Degas.

Publico aqui algumas fotografias que fiz porque poucas pessoas podem visitar o museu nessa época e, assim, mostro.

O Masp é o museu que mais gosto de todos os que já visitei no mundo. É porque foi o primeiro, tirando o museu da pesca e o museu do café, ambos em Santos. Minha mãe nos trouxe em um aniversário de meu pai, um domingo. Acho que ela estava de cor de rosa. Subimos a serra. Morávamos em Santos. Eu me lembro até hoje das meninas de Renoir, que revi várias vezes depois, e hoje também.

Já visitei o Masp em várias situações e encontrei o acervo de várias maneiras. Hoje estava tudo muito bem, achei.

Os cavaletes de Lina estavam lá segurando suas obras. O Masp é, além de tudo, um museu pequeno. Não é preciso ficar nele várias horas para ver o que se deseja.

A visita de hoje foi emocionante. Lembrei da primeira visita com minha mãe e vi mais uma vez a pequena bailarina. Tenho em casa uma miniatura que comprei em uma lojinha de museu, gosto muito.

E a vacinação começou no Brasil, o que tornou esse domingo também inesquecível.

A temporada 2 de Procurando Dylan

1 de setembro de 2020

 

 

Na Temporada 2 de Procurando Dylan estou inserindo algumas imagens no podcast para as pessoas que ouvem no You Tube.

Esse episódio é sobre o documentário Eat the document. Vale assistir pra entender também a época, todo o processo de construção do artista Bob Dylan. O episódio 1 foi sobre o filme Renaldo & Clara.

Antes do lançamento do novo álbum de Bob Dylan

15 de junho de 2020

Sexta-feira, 19 de junho, Bob Dylan lançará o álbum Rough and Rowdy Ways.

Comecei a fazer essa série de podcasts antes de saber que Bob Dylan lançaria um álbum novo. Foi antes do lançamento de Murder Most Foul (bobdylan.com) e logo no início dessa terrível pandemia, do nosso e do meu isolamento,  dele também, quando cancelou os shows que daria no Japão em junho.

Eu já havia iniciado  um projeto de livro com passagens sobre Bob Dylan, livro que estou ensaiando escrever, projetando, tentando, exercitando.  Os podcasts fazem parte de estudos prévios. As possibilidades da música, da poesia, da literatura, do cinema de Bob Dylan são infinitas e, de vez em quando, apreendo um pouco e compartilho aqui.

Estou animada com o novo álbum que vem aí. Falo dele no episódio 5. Falarei de novo depois de sexta-feira.

Aqui  o índice dos episódios:

1- Sobre a canção Murder Most Foul

2-Sobre Dylan em 1965-1966

3-Sobre Dylan e o Prêmio Nobel

4-Sobre a música Hurricane

5-Sobre Rough and Rowdy Ways, que será lançado 19 de junho

6- Sobre os álbuns Self Portrait e Another Self Portrait

7-Bob Dylan em 1964: o show no Philharmonic Hall de Nova York

8- Sobre Shot of Love, álbum de 1981-a canção Lenny Bruce

Aqui os links para os episódios no You Tube e no Spotify:

 

Chopin, livro de Valerio Mazzuoli

17 de maio de 2020

Chopin: elementos de pianística e impressões sobre a vida e a obra, publicado em 2020 pela editora Letramento, Belo Horizonte), de Valerio Mazzuoli, é dividido em três partes.

A primeira trata da pianística chopiniana. A segunda traz impressões sobre a vida de Chopin (1810- 1849). E a terceira concentra cronologia da vida e da obra do grande músico. Há, ainda, última parte para o catálogo das obras.

O que mais me impressionou neste livro foi o texto o estilo elegante, leve, conciso, absolutamente bem sucedido ao sintetizar informações extensas sobre Chopin e sua obra.

Logo se descobre que a obra de Chopin gira só em torno do piano. Todas as notas são importantes, assim como as pausas. O pianista precisa estar muito concentrado na execução, sempre desgastante.

O pedal, a partir de Chopin, passou a permitir, no piano, o som do balanço das árvores, das ondas do mar. O piano teve, ainda, possibilidades ampliadas, recursos pianísticos antes não utilizados, como cantos-fantasma, elementos-surpresa, além ritmo diferente, como Mazurkas (peça em três tempos dançada em pares, o entrelaçamento formando figuras geométricas), ou Polonaises. Chopin nasceu na Polônia, viveu por muitos anos na França. Amava, também, a Polônia.

O relato sobre os estudos de Chopin (27 composições) é muito interessante. Chopin os preparou para que o executante pudesse vencer desafios, inclusive de resistência.

Não menos relevante é a parte sobre a vida de Chopin, seus amigos, seu amor por George Sand. Há uma fotografia belíssima tirada no estúdio fotográfico de Louis Auguste – Bisson em 1949. É a foto que inicia este texto.

Valerio Mazzuoli é jurista e pianista, mas, aqui, deve ser destacada sua dedicação à obra de Chopin. Este livro mostra que ele conhece profundamente aspectos técnicos do piano de Chopin, assim como sua vida. Ele transmite, ao leitor, o encanto que sente ao ouvir, tocar e estudar Chopin.

Ao final do livro está o catálogo integral da obra de Chopin e é possível, assim, ouvir Op. 32, Noturnos de 1836-1837, por exemplo, na ordem em que compostos.

Agora, por exemplo, interessei-me em ouvir Op. 28, 24 Prelúdios (1836-1839).

Procurei no Spotify e encontrei várias gravações, tendo escolhido a de Martha Argerich, pianista que adoro.

Este é um livro que vai me acompanhar quando ouvir Chopin, porque explica sem impor, sugerindo, com suavidade.

O podcast Procurando Dylan

1 de maio de 2020

 

Bob Dylan me acompanha desde que comecei a ouvir música. Ele muda, eu mudo, gosto de outros músicos, mas sempre dele, também. Acompanho tudo, tenho os álbuns, gosto da evolução da voz dele, das letras, dos livros, assisto aos documentários.

Comecei a escrever um livro sobre ele e até estou escrevendo, mas percebo que pode ser complicado. Os romances e os contos dependem só da minha imaginação e das pesquisas; o livro, não.

Bob Dylan  escreveu suas crônicas e eu escrevo minhas crônicas sobre o que eu penso dele, o que sinto e como entendo as músicas e letras. Posso entrelaçar com algum momento da minha vida.  Sinceramente, ainda não sei como fazer isso. Escrevo exercícios, mais erro que acerto.

Nesse tempo em casa fico em casa, trabalho em casa, hoje saí para dar uma volta na praça pela primeira vez,  penso em quem não tem casa, em quem está preso de verdade, em quem está em prisão superlotada, em quem está no hospital dentro daqueles escafandros que parecem roupas de astronauta (Leonardo da Vinci imaginou umas roupas assim, vi em uma exposição recente), penso que posso pegar esse coronga ou qualquer pessoa de quem gosto bastante e não quero pensar nisso, penso que nas guerras a sensação dos bombardeios devia ser pior, a sensação de iminência da morte que deveria haver todas as noites devia ser pior,  as pessoas se casavam antes dos homens partirem para o front, penso nessas coisas e estou aqui escrevendo nesse dia 1º de maio de 2020 no escritório da minha casa.

Acaba de sair o terceiro episódio do podcast que estou fazendo sobre Bob Dylan, esse podcast em que organizo as informações. Juliano edita e faz o som e Babette faz a arte. É um podcast em família. Coloco aqui o link pra vocês ouvirem. Está no You Tube e no Spotfy e estamos tentando colocar no Itunes, não sabemos ainda se vai dar certo.

É um podcast desse período em que estamos meio sozinhos, mas espero que continue,  cada vez tenho mais o que contar.

 

https://www.youtube.com/watch?v=EaKwctiq4G4

 

 

 

 

Poema que escrevi em 2019: dois quadros

31 de dezembro de 2019

 

um lugar pra onde vou de vez em quando

 

uma vez a cada três ou quatro meses

 

lá tem mar

e tudo o que sempre teve

 

objetos,  móveis, cadeiras de praia, as redes velhas e as novas

os brinquedos esquecidos

 

lá uma estante com livros velhos e conservados

revistas de culinária de 1998

revista com fogos de ano novo em 2000

 

marca de um quadro na parede

um quadro que não tenho mais

dei para uma amiga porque não conseguia olhar pra ele

foi pintado por uma vizinha

um sol, o mar, o guarda-sol de muitas cores

uma pintura cuidadosa

 

a pintora

uma moça que nunca mergulhava no mar

só tomava sol

não nadava

 

quando ela morreu eu não fiquei sabendo

quando soube que ela morreu já tinha dado o quadro de presente

eu não aguentava olhar pra ele e por isso dei

um quadro estático

aí eu quis ver de novo

lembrar como era

 

minha vizinha, com quem eu tomava um café de seis em seis meses,

que não entrava no mar embora tenha pintado uma marina,

não existe mais

 

nem ela e nem o quadro (pelo menos não na minha parede)

 

agora um quadrado vazio

De vez em quando na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio

21 de novembro de 2019

 

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De manhã está todo mundo se preparando para o dia, dá pra ver a expectativa no rosto. Na hora do almoço a avenida fica lotada. Pessoas entram e saem dos bares e restaurantes. Há muitos árabes, um deles é melhor, compro esfihas pra levar pra casa.

 

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No fim da tarde tá todo mundo aliviado, o dia de trabalho ou funções terminou.

Há quatro farmácias ou mais entre a Avenida Paulista e a Alameda Ribeirão Preto. Tenho visto muitas farmácias por toda a cidade. E o Supermercado Extra na Brigadeiro é grande demais – nunca vou lá.

Do outro lado da Paulista está a Livraria Martins Fontes, em uma galeria, dividida em três lojas, uma para livros em geral, outra para livros de arte, arquitetura, culinária, outra para livros técnicos de informática. Às vezes encontro um colega perto dos livros de política e filosofia. Quando não escapamos um do outro cumprimentamo-nos constrangidos. Ele e eu parecemos cúmplices no que diz respeito aos livros, mas nunca conversamos.

Na outra galeria ainda, atravessando a rua, está o Sushi Gen, restaurante japonês do Shimizu, que morreu faz um tempo. Acompanho a história do restaurante, agora o filho dele veio do Japão pra cuidar. Quando Shimizu estava vivo eu me sentava no balcão e ficava olhando ele cortar peixes e modelar o arroz, muito concentrado. Fiquei um tempo sem ir e um dia entrei e Shimizu  não estava mais. O Sushi Gen  continua ótimo.

A Conectas, ONG de direitos humanos, está em um dos edifícios  da galeria, e a minha dentista também. Na mesma galeria está o Correio de onde envio meus livros para as pessoas quando tenho tempo, lá a fila é sempre grande.

Voltando ao lado que vai para o centro está a igreja, soberana. Eventualmente  entro e rezo um pouco, ou entro e saio, ou penso, ou nada. A igreja é um lugar onde se pode descansar, está sempre fresca.

Do outro lado da rua estão os bares, as tortas doces e velhas expostas nas vitrines, pessoas dormindo na calçada, nunca dá pra ver o rosto, se desse ninguém olharia porque é triste ver. Não dá pra ver o rosto porque elas se cobrem bem.

Quando caminho a pé pela Avenida Paulista para o Conjunto Nacional passo pela Gazeta, pelo cinema, pelo teatro. Aos poucos a cena muda, as pessoas não dormem mais na rua, só vendem coisas diversas, cachecóis ou colares ou pinturas. E há muitas bancas de jornal que vendem de tudo, até jornal. E filmes de DVD. E livros.

Sempre trabalhei no Centro, então a Brigadeiro pra mim é muito familiar, consigo quase meditar ali. É um estar e não estar, o pensamento em um lugar e os pés no chão.  Depois de um tempo fico invisível: preciso desses intervalos.

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PanaCota Literária

10 de novembro de 2019

Nanete Neves e eu estamos fazendo um podcast semanal, PanaCota Literária. Já está no Youtube e no Spotfy e  logo estará em outras plataformas. Em 10 minutos conversamos sobre um tema literário e convidamos pessoas que trabalham com esse tema pra falarem sobre o que fazem, escrevem, editam. O primeiro episódio foi sobre ficção científica brasileira. Ouvimos Luiz Bras.

O segundo será publicado na terça-feira, dia 12 de novembro, e será sobre poesia.  Juliano Costa, músico, compôs uma entrada pra gente e edita as conversas que gravamos. Estamos bem animadas porque juntamos pessoas bacanas, que realizam projetos bacanas, que falam sobre eles pra ouvintes bacanas também. O podcast é uma forma de comunicação espontânea e informal que aproxima as pessoas.

Aqui está o episódio 1: PanaCota Literária.

Dia da professora

15 de outubro de 2019

Hoje é dia da professora.

Tive ótimas professoras e já quis ser uma delas. Sou professora de cursos eventuais, espaços de troca de experiências e ideias, também em plataformas virtuais, trabalho que adoro. Mas não exerço o magistério.

Não consegui ser a professora que entra na sala de aula todos os dias no mesmo horário, mesmo tendo acordado com dor de cabeça ou de dente ou com febre. Não sei se aguentaria a rotina. Já me senti frustrada por não ter sido a professora que eu queria ser, só que hoje penso que foi melhor pra mim. Tive oportunidade de exercer meus defeitos e talentos de outras maneiras.

Faz pouco tempo conheci a fala de Paulo Freire. Quando fui para a África, para Guiné-Bissau, li sobre o trabalho de alfabetização que ele ajudou a estruturar depois da independência, a partir de 1975. Li várias entrevistas e biografias de Paulo Freire e uma das ideias em que mais acredito é a de que estamos sempre aprendendo, não importa de que lado, sendo aluno, professor, ou colega. Um dos livros dele tem o título mais ou menos assim: “A África ensinando a gente”. E o outro: “Por uma pedagogia da pergunta”.

Outra ideia é a de que podemos fazer um mundo cada vez melhor por meio da educação. Essa ideia  parece  óbvia e simples, mas é muito difícil de ser posta em prática.

Falo aqui no dia da professora e em Paulo Freire, professor. Li que na África Elza, com quem na época era casado, cuidava da parte mais concreta do trabalho. Minhas primeiras professoras foram mulheres. Só bem mais tarde tive professores homens, o primeiro foi de química, a gente chamava de Carlão. Mas aprendi a ler e escrever com as mulheres, e a gostar de literatura com mulheres também.

Então, para mim, é mais afetivo falar em dia da professora, 15 de outubro.

 

Um pouco sobre “se o que eu vi”, de andré caramuru aubert

30 de agosto de 2019

Poesia é como música; não consigo explicar, tecer um discurso.

Registro aqui a de André Caramuru Aubert, cujo livro (Editora Patuá) tem esse nome lindo e a capa mais ainda: se o que eu vi.

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São 93 poemas.

Fotografei alguns:

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Há outros mais longos e igualmente bonitos no livro.

Já li, de André Caramuru Aubert, poeta, tradutor e autor de ficção, o romance Poesia Chinesa (Sesi-SP).

O personagem é professor e também se chama André. Ele ensina poesia chinesa e conhece muito a norte-americana. Acreditei no romance com sua aluna, Simone. E tem a Clara, da vida real.

A poesia está no livro todo, André (autor) conseguiu levar para a ficção. As aulas dele (agora falo do personagem) são muito boas e ele gosta de Bob Dylan e Charlie Haden.

Quase não falo de música, mas é porque gosto muito, e Bob Dylan está no grau máximo da minha predileção.

Charlie Haden também também é um dos preferidos.

https://youtu.be/3VkHjig6MSI

Bauhaus-100 anos

2 de junho de 2019

bauhaus, com b minúsculo, porque no âmbito da escola alemã o artista gráfico Herbert Bayer criou uma fonte tipográfica simples, sem maiúsculas. Para a língua alemã essa era uma proposta transformadora: os substantivos, em alemão, são grafados em maiúsculas.

Quando penso em Bauhaus  vejo uma cadeira larga em linhas retas: a cadeira Wassily, planejada por Marcel Breuer, de aço cromado e couro.  Li que ele teve a ideia da cadeira andando de bicicleta.

Depois vêm outras imagens, como edifícios em linhas retas, quadrados. Tel Aviv, em Israel, tem muitos deles. Até mesmo os edifícios dos Ministérios em Brasília teriam sido projetados a partir de linhas inspiradas na escola alemã (se bem que Walter Gropius teria dito que a Casa das Canoas, de Oscar Niemeyer, era bonita, mas não multiplicável).

As construções em blocos idealizadas pela Bauhaus facilitavam a reprodução e a multiplicação e Oscar Niemeyer sustentava a ideia de arquitetura autoral. Mas há semelhanças entre o trabalho de Niemeyer e as regras da Bauhaus, como explica  Viviane Vilela em texto publicado em página do Instituto Goethe na internet: “Entretanto, as diferenças manifestadas por Niemeyer em relação aos princípios da Bauhaus não impedem a identificação da presença de preceitos caros à escola alemã até mesmo em Brasília. O uso da estrutura metálica no processo construtivo, assim como a implantação serial dos prédios da Esplanada dos Ministérios, o planejamento urbano da cidade a partir de um ponto zero e a abstração da forma arquitetônica são devotos de apostilas e pranchetas gestadas a partir dos preceitos da escola alemã”
https://www.goethe.de/ins/br/pt/kul/fok/bau/21385377.html.

Walter Gropius (1883-1969) foi o fundador, em Weimar, da Bauhaus (1919-1933), escola alemã de arquitetura, design, artesanato e arte. Escola porque reunia pensadores e artistas e artesãos cujos pensamento e ação estavam direcionados a elaborar um mundo concreto, funcional e reprodutível. Paul Klee e Wassily Kandinski foram, também, professores da Bauhaus.

Gropius pretendeu criar um movimento, uma escola que privilegiasse a experiência, o processo de realização.  Quando surgiu, em Weimar, a Bauhaus apoiava o trabalho artesanal e estava fundamentada no expressionismo, valorizando individualidade. Com o tempo, já na cidade de Dessau, adotou a tecnologia e a produção em série. Hoje essa ideia parece comum, mas, em 1919, era inusitada.

Walter Gropius criou a Bauhaus em Weimar. Depois foi instalada em Dessau e, por último, em Berlim, onde terminou por perseguição nazista. O regime nazista, instalado na Alemanha a partir de 1933, associava a Bauhaus ao marxismo, aos judeus e, por isso, a escola foi fechada.

Bauhaus primava pela elegância das formas e simplicidade das linhas do design. Uma das frases sempre lembradas é “menos é mais”, ou “less is more”, atribuída ao arquiteto Ludwig Mies van de Rohe, que, na época da segunda guerra, foi para os Estados Unidos, como aliás foram Walter Gropius e Anni e Josef Albers. Anni fez trabalhos lindíssimos em tapeçaria, combinando cores com geometria e equilíbrio. O MoMa, em Nova York, 1949, mostrou seus trabalhos em uma exposição individual, novidade, na época,  para uma designer.

A Bauhaus não existiu por muitos anos (1919-1933), mas, até hoje, influencia o modo de aprender, ensinar, fazer arte, construir, combinar cores e formas. Difundiu arte para todos e multiplicação dos trabalhos.

Alunos e professores da Bauhaus  dedicavam-se a idealizar fantasias diferentes, originais e inusitadas, exibidas em bailes. Um deles chamou-se Festa do Metal, pois as vestimentas eram feitas com colheres, frigideiras, papel de alumínio.

O movimento Bauhaus associava o funcional ao lúdico e influencia  trabalhos de arte, construção e design até nossos dias. Essa influência prosseguirá, pois as ideias da Bauhaus não são estáticas, movimentam-se no tempo e transformam-se.

A complexidade da vida e da comunicação no século XXI suprime o tempo de concentração e foco. No contexto, a expressão clara e simples, o resumo, o “menos é mais”, são legados da Bauhaus que permanecem e podem ser continuados, aperfeiçoados em modos de fazer arte, desenho e  arquitetura. O importante, hoje, é que o uso da tecnologia aconteça de maneira racional e voltada para funcionalidade do que é criado, para a síntese.

O aprendizado livre, colaborativo, o pensar junto, colaboram, ainda, para que as criações, no futuro, sejam direcionadas à preservação do meio ambiente e do planeta.  A sustentabilidade seria, hoje, com certeza, um dos objetivos da Bauhaus.

A Universidade Bauhaus, em Dessau, deve, provavelmente, pesquisar caminhos para que as ideias lançadas pelo movimento continuem a repercutir e contribuir para realizações criativas, lúdicas e, ao mesmo tempo, funcionais.

É possível, também, associar o processo de aprendizagem da Bauhaus ao processo idealizado pelo educador brasileiro Paulo Freire, que, de tão reconhecido no mundo, tem uma estátua em sua homenagem em Estocolmo, Suécia, ao lado de Angela Davis e Pablo Neruda.

Desnecessária seria uma estátua para o reconhecimento de Paulo Freire. Mas, por outro lado, a escultura em sua homenagem simboliza a solidez de seu pensamento, solidez essa que deve ser continuamente refletida e reaprendida, assim como os ensinamentos da Bauhaus.

Cheguei agora ao fim deste breve ensaio unindo Bauhaus e Paulo Freire, uma escola de pensamento alemã a um professor brasileiro, confiando que sem liberdade de aprender e de ensinar não há desenvolvimento possível e, muito menos, felicidade.

 

 

Ainda a literatura policial

8 de abril de 2019

Levei dois livros meus ao Choque Literário, espaço que reuniu editoras e autores independentes no sábado, 6 de abril: “Um enterro para Suzana”, que acaba de ser editado pela Patuá, e “Nove tiros em Chef Lidu” (Circuito). Levei para a banca da Aberst, Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror, da qual sou associada.

“Um enterro para Suzana” reúne contos, alguns já publicados. O título do livro é o título do primeiro conto, quase uma novela. Suzana é a amiga que morre. O livro tem tamanho de uma revista, parece uma revista. Mas é um livro. Outros contos do livro também são policiais, como Rosa, Na delegacia, e Sílvio, não se esqueça do cacto (adoro o nome desse conto).

Rosa foi também publicado no livro “Onda de crimes”, editado pela Avec. A publicação foi coordenada  por Cesar Alcázar, que organiza o Porto Alegre Noir, encontro de cinema e literatura policial. Uma honra pra mim participar desse livro, o Cesar inaugurou, com o Porto Alegre Noir, uma maneira nova de ver e ler filmes e romances policiais.

O Porto Alegre Noir, que já está na segunda edição, começando aliás essa semana (9 a 14 de abril), é uma oportunidade para o debate da realidade por meio de literatura que fala sobre violência e mistério. No ano passado participei de uma mesa (Desconstruindo estereótipos femininos na ficção policial). 

Olhando a programação,  vi que dia 13 de abril o tema do workshop será “Assassinato Aconchegante: O Universo dos Cozy Mysteries”, com Matheus Ferraz.

Eu nunca tinha ouvido falar na expressão cozy mysteries e fui procurar. Pelo que li na internet, cozy mysteries são histórias policiais que falam de violência com humor, têm detetives amadores, acho que é mais ou menos isso.

Fiquei pensando se minhas histórias poderiam ser consideradas cozy mysteries e cheguei à conclusão de que não, já que têm humor, mas, ao mesmo tempo, alguma tristeza.

Agora me lembrei que T.S. Eliot diz que abril é o mais cruel dos meses. Mas, depois disso, ele diz, germina (tradução de Ivan Junqueira), ou criando (tradução de Caetano Galindo). Assim começa A terra devastada, The waste land

 

Aqui o link para o Porto Alegre Noir: https://portoalegrenoir.wordpress.com.

As cartas de Euclides

10 de março de 2019

Assisti à aula de Walnice Nogueira Galvão sobre cartas no Instituto Moreira Salles em 7 de fevereiro.

Walnice tinha suas fichas e a elas recorria enquanto comentava slides de imagens simples e sem texto, como por exemplo a da pedra Roseta, que eu vi em Londres, ela é tão linda, a pedra Roseta.

Hoje, quando ouço pessoas falando em público, vejo que as anotações são evitadas, ou substituídas por telas de Power point. Espera-se que o orador, o professor, aquele que se expõe, saiba tudo de cor e não leia sua fala.

Walnice não se incomodou de consultar e ler suas notas muito bem formuladas. Depois de um tempo, quando as perguntas vieram, respondia com desenvoltura e alguma ironia.

Direcionando a conversa para cartas de escritores e sua influência na interpretação de obras literárias, Walnice falou em cartas como para textos. Organizou com Nádia Battela Gotlib o livro “Prezado Senhor, prezada senhora” (Companhia das Letras), constituído de artigos sobre cartas de quem foi importante para nossa atual concepção de mundo. São comentadas cartas de Proust, Freud, Raymond Chandler, Marx, Mario de Andrade, entre outros. Ela tem neste livro um artigo intrigante: “Proust e Freud: um diálogo que não houve”. Os dois encontraram-se apenas uma vez já no fim da vida do primeiro, tomaram um mesmo táxi, nunca se leram. Walnice comenta as cartas desses escritores relacionando-as a seu estilo e modo de viver.

Ela falou também, na aula, sobre o fim do rascunho. Não sei bem se o rascunho terminou. Como escrevemos e reescrevemos criando sucessivos arquivos em computador temos muitos rascunhos. Só não sei se os estudiosos terão acesso a esses arquivos privados que provavelmente não serão dados a museus ou bibliotecas. E um dia alguém, o escritor mesmo, pode deletar tudo, formatar o hd, e adeus arquivos rascunhos. E eu fico pensando que isso pode e deve acontecer também com e-mails e mensagens, arquivos privados, secretos, virtuais, guardados em um computador como que em uma extensão de cérebro, protegidos pela consciência.

Talvez, no futuro, importe mesmo só a obra e não os para textos, porque será difícil encontrá-los e analisá-los e eles estarão fragmentados e descontextualizados. Serão muito diferentes dos manuscritos em que a letra cursiva mostrava muito do modo de ser do autor.

Encontrei também outro livro de Walnice, aquele em que é publicada a correspondência de Euclides da Cunha. Acho que agora, na Flip 2019, quando será homenageado e estudado, diversos aspectos de suas contribuições serão iluminados. Será visto como um escritor visionário e não será lembrado, apenas, pelo magistral “Os sertões”.

Li algumas cartas e me impressionou a elegância de sua comunicação, o estilo curto, porém amável, qualidades de um engenheiro escritor e de um escritor engenheiro, provando que é possível ocupar espaços e funções na vida, ser várias coisas, e que as expedições acontecem também na imaginação e nos sonhos.

Depois, procurando informações na internet, encontrei, na revista Teresa, da USP, entrevista em que Walnice fala sobre cartas e sobre as de Euclides da Cunha.

Aqui é possível baixar a revista:

https://www.revistas.usp.br/teresa/issue/view/8754

Fico muito intrigada com cartas. Quando criança eu escrevia muitas para minha avó quando ela viajava para a Europa. E recebia, também, cartas e cartões postais.

Minha mãe gostava de escrever cartas e ela o fazia em blocos especiais para isso, com papel fino, de seda talvez, para o envelope não ficar pesado. Os blocos tinham o nome Copacabana. Ela gostava de escrever bastante. E guardava as cartas que recebia em um baú pequeno, que tenho até hoje, de madeira. Está vazio.

Não sei onde estão as cartas de minha mãe, nem se ainda existem.