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Sobre Diário da Guerra do Porco- Adolfo Bioy Casares

4 de março de 2012

Fui ao Clube de Prosa promovido pela Cosac Naify na Livraria Cultura em 28 de fevereiro.  A conversa girou em torno do  livro de Bioy Casares, Diário da Guerra do Porco (Cosac, 2010). Júlio Pimentel Pinto, professor da USP, foi mediador.

Um clube de prosa, ou de leitura,  é  reunião  em que o mediador discorre um pouco sobre o escritor e sobre o livro previamente sugerido, introduzindo contextos. As pessoas  falam, se querem. Quem estava lá, no dia 29,  conhecia o livro, o autor, ou gostava de literatura. O bom desses encontros é que você  não tem a menor obrigação de falar. Simplesmente está.

Tirando o calor insuportável daquele fim de tarde, passei momentos agradáveis na Livraria Cultura. Eu tinha lido metade do livro; terminei depois, em casa. O mediador teve o grande mérito de não falar o óbvio. Foi absolutamente bem sucedido em enfatizar o caráter ficcional do romance, em que real e fantástico se misturam para mostrar como é duro envelhecer. Arnaldo Antunes compôs uma canção sobre isso.

Júlio Pimentel Pinto  lembrou que um bom romance deve ter “fios meio soltos”, que toda ficção tem papel revelador que ilumina experiências de vida.  A ficção lida com mundos alternativos, com o que poderia ter ocorrido e não ocorreu. Na ficção, nem tudo precisa ser resolvido; o contexto ficcional é instável, incerto. Para mim, que escrevo, quero escrever melhor,  foi importante.

Sobre o livro, completaria a conversa dizendo que o romance pode ser examinado, também, sob o contexto do conflito entre pais que não se sentem velhos e filhos que já são mais velhos. Uns e outros não sabem lidar com essa aparente igualdade e a comunicação demora a se acostumar com a mudança. Há quem nunca ultrapasse o estranhamento. Esse é só um dos aspectos. Outro – e agora formal – é que o narrador, o escritor do diário,  não está na história, mas existe. O diário é do narrador onisciente que não faz parte da história, e no  entanto conversa com o leitor, referindo-se a si mesmo na primeira pessoa. Isso não acontece sempre. O recurso permite refinamento da linguagem, certas digressões e reflexões que não seriam possíveis se o próprio Isidoro Vidal- o personagem principal – fosse o narrador. E como o narrador acompanha Isidoro muito de perto, logo a narrativa retoma o curso para o final, pacificador. A história tinha tudo para dar errado. Terminou bem.