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Conversando sobre Georges Simenon e o romance policial

8 de junho de 2014

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A Companhia das Letras está editando Georges Simenon no Brasil. Já publicou  cinco livros dele.

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A editora convidou o filho de Simenon para falar sobre o pai. A conversa aconteceu entre ele, John Simenon, Raphael Montes e Tony Bellotto, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, 3 de junho.

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Tony Bellotto é  escritor, inclusive de romances policiais. Ele criou Bellini,  ótimo personagem. Em Bellini e o demônio, o romance policial é discutido e faz parte da trama. Bellini procura um manuscrito de Dashiell Hammet. Hammett é um dos autores preferidos de Tony Bellotto. O livro é dedicado para Malu e o escritor.

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Raphael Montes fez sucesso com Suicidas (Saraiva-Benvirá). Companhia das Letras publicou seu segundo romance, Dias Perfeitos, que também faz sucesso. Os três conversaram e anotei algumas falas interessantes.

Maigret não é Simenon (ou Simenon não é Maigret), é quase o contrário dele. Maigret e sua mulher acabam formando uma dupla na investigação.  Ela tem papel importante nas histórias.  Simenon gastava muita energia escrevendo. Magret não julgava as pessoas,  ele as compreendia. Em suas histórias, entender a razão dos crimes é mais importante do que descobrir quem os cometeu (why is more important than who).

Foi bacana ouvir sobre o Simenon, um escritor que criou Maigret, personagem que vive nos livros e na inspiração. Pensei nele ao apelidar o delegado de meu romance policial de Dr. Magreza (Nove tiros em Chef Lidu, ainda não publicado). Na verdade, não fui eu que apelidei, foram seus investigadores, que viam os livros de Simenon nas bancas de jornal (há vários, editados pela L&PM).

Tony Bellotto disse,  a certa altura, que se diverte criando uma  história. Desvenda o final ao longo da escritura.

É assim pra mim também. No romance policial a narrativa, o modo de contar, é tão importante quanto o desfecho.

A conversa entre os três, de gerações bem diferentes, foi sobre Simenon, mas muito sobre romances policiais.

Acho que teremos cada vez mais romances policiais e leitores de romances policiais porque há interesse de todos na solução de um crime e na forma como a investigação pode acontecer. E, quando os detetives correm riscos, e são simpáticos, torcemos para que ele permaneça ileso, também. Às vezes não esperamos culpados ou inocentes, queremos participar da trama e entender como as coisas acontecem.

No romance policial, mesmo quando a punição não acontece, mesmo quando o detetive não é dos mais interessados na boa ordem das coisas, a narrativa põe a complexidade da vida no devido lugar.

Pauliceia Literária e Lêdo Ivo: reflexões em torno do enigma

20 de setembro de 2013

A Pauliceia Literária realizada pela AASP (Associação dos Advogados de São Paulo)  começou com êxito.

Na abertura, Manuel da Costa Pinto discorreu, de maneira muito articulada e inteligente,  sobre a literatura  de Patrícia Melo, a escritora  em foco do festival.

Depois, Patrícia subiu ao palco. Falou bem. Disse que não pode ser considerada, até o momento, escritora de romances policiais. Escreve sobre crimes, paixões humanas, mas isso não significa, tecnicamente,  que sua literatura seja policial. Seu próximo romance, porém, será.

Hoje, em O Estado de São Paulo, Raphael Montes, autor de Suicidas, romance muito comentado, diz: “Tento explorar o que me parece o futuro do romance policial: histórias mais ágeis, sem o detetive como personagem principal” ( Caderno 2, C3).

Os temas debatidos na Pauliceia Literária giram – não só – em torno da literatura que discute crime e justiça.

Leio  romances policiais, especialmente Agatha Christie, Patricia Cornwell, Lawrence Block e Raymond Chandler. Chandler é meu preferido. Neles, os investigadores são  céticos e ambíguos.

Os personagens me conduzem ao fim do livro. A solução do mistério não importa tanto. Se bem que, em Agatha Christie, a solução é importante, porque quase sempre inusitada. Mas, nos outros, quero saber  como Marlowe, Bernard Rhodenbarr, Scudder  e Scarpetta, terminarão. Torço por eles, assim como torço por mim.

Estou escrevendo um romance policial em que dois personagens pesquisam um homicídio.

Dr. Magreza  e Elvis,  escrivão inexperiente que o auxilia e acompanha, têm uma relação  de subordinação hierárquica irreverente.

O morto é Chef Lidu, dono de restaurante envolvido em tramas amorosas e alimentares. Ele também é um personagem interessante, embora póstumo.

Mudando um pouco de assunto, mas ainda no assunto, li “O aluno relapso – Afastem-se das hélices”, que a Editora Apicuri publicou recentemente, de Lêdo Ivo.

O livro reedita, com importante acréscimo (Afastem-se das hélices), livro publicado em 1991 por Nemar e Massao Ohno.

Em uma parte, Lêdo Ivo fala: “A função da literatura não é a de refletir a realidade,  sim a de criar uma realidade que só a linguagem tem condições de produzir. A literatura é a realidade da linguagem, e não a realidade da vida, que se exprime através de uma des-linguagem”. (p. 35).

Está no livro, ainda,  breve poema:

Mistério policial

A chave do enigma

Não decifra nada.

Abre para a porta

Sem ferrolho e chave.

Leva ao labirinto

Desenhado  na água.

 Escrevo tudo isso para dizer que, na literatura policial, é esse labirinto desenhado na água que me chama. Além dos detetives: insisto  neles. Eles têm aquela chave que não decifra nada e sabem disso.

A vida de verdade é outra história. A vida  de verdade está no campo da des-linguagem, como disse Lêdo Ivo (ou das hélices, penso eu).

 

 

 

 

 

 

 


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