Festival Literário de Itapetininga-Flitapê

Flitapê com Déa Paulino, Amelinha Teles, Amara Moira e Samira Albuquerque. Conheci também Daniela Santana, que organizou o Festival. E Angelo Ricchetti, coordenador do Cine Clube de Itapetininga.

Sábado à tarde e a aviadora Anésia Pinheiro Machado nos recebendo logo na entrada do Centro Cultural e Histórico, em uma praça em que, segundo Déa, acontecia, antigamente, o footing: Praça dos amores.

Nossa mesa era sobre violência e preconceito contra a mulher.
O Festival homenageou Lygia Fagundes Telles. Fotografias de Lygia estavam expostas na exposição “Vou lhe contar um segredo”, organizada por Carlos Eduardo Souza Queiroz.

Havia no espaço, também, fotografias de capas de livros de escritores da cidade: muitos.

As conversas começaram com a leitura impactante de um conto de Lygia por Nilton Resende: “Venha ver o pôr do sol”.

Depois Déa Paulino, que coordena o grupo de leitura Leia Mulheres em Itapetininga, aliás a primeira cidade do interior que implantou o projeto, sugeriu que nos apresentássemos, Amara, Amelinha e eu. Expusemos, com empatia recíproca, pontos de vista complementares sobre literatura e feminismo.

Na plateia estavam integrantes do Leia Mulheres que haviam lido meu romance, “Viagem sentimental ao Japão”. Falei das personagens Anette, Sílvia e Sabina. Anette vive em “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri, 2013) e Sílvia e Sabina em “Feliz aniversário, Sílvia” (Patuá. 2017).
Elas são diferentes, mas procuram brechas construir identidade em um mundo em que os homens acham que dão as regras. Não pensei em nada disso enquanto escrevia porque não procurei uma literatura militante. Mas, analisando esses dois romances, percebi que as personagens lidam problemas que rodeiam o contexto feminino: conciliar profissão e vida pessoal, estar contente com a aparência, conviver. Sílvia faz dieta quase o tempo todo e esse esforço é um sofrimento para ela. Sabina escreve, sob pseudônimo, romances que se tornaram best sellers. Esconde-se até do marido, e, principalmente, dele. Anette é solitária e, ao começar a trabalhar em uma agência de viagens, sem nunca ter viajado, precisa coordenar seu comportamento para ser aceita, ou não, no grupo. Ela se confunde um pouco com as regras de convivência, mistura os mundos real e imaginário.

Voltando ao encontro de sábado. Amelinha Teles, que está no movimento feminista há muito tempo e tem falado e escrito sobre suas conquistas há anos, explicou que há vários tipos de feminismo e as mulheres não são iguais a ponto de serem padronizadas. Ela publicou um livro que já é clássico, “Breve história do feminismo no Brasil e outros ensaios” (Alameda), entre outros.

Amara Moira falou sobre seu livro “E se eu fosse puta” (Hoo), em que escreve sobre como se tornou trans, contando angústias, sofrimentos e discriminação experimentadas na prostituição.

Nilton Resende não participou da mesa, mas fez a abertura lendo um conto de Lygia. Ele publicou edição crítica de “Antes do baile verde”, intitulada “A construção de Lygia Fagundes Telles” (Edufal). É um livro consistente que examina as alterações dos contos em sucessivas publicações.

São esses os livros que conheci na Flitapê. E conheci as pessoas, também, que os escreveram, assim como elas me conheceram.

Conhecer pessoalmente um escritor de quem já li os livros é sempre uma surpresa. Se gostei do livro, procuro gostar da pessoa, e vice-versa. Às vezes a gente idealiza um autor, espera dele uma pessoa que corresponda às nossas impressões de leitura. Isso porque o leitor completa o livro, a identidade dele também cria a história. E pode acontecer que os pontos de vista não coincidam. Mas eu fui lá e me apresentei.

Como nós, escritoras, éramos diferentes umas das outras, e tínhamos experiências diferentes para contar, deixamos espaços a serem preenchidos e isso foi muito bom.

8 Respostas to “Festival Literário de Itapetininga-Flitapê”

  1. izildabichara Says:

    Que experiência incrível deve ter sido participar dessa mesa, Paula! Tenho certeza de que, como sempre, você se saiu muito bem e contribuiu para o sucesso da Flitapê. Parabéns!

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  2. Angelo Lourival Ricchetti Says:

    Por favor, leiam. Pois aqui está um depoimento importante para nossa cidade, nossas escritoras e escritores, nosso primeiro Festival Literário, depoimento feito por uma das escritores que mais gostamos do primeiro livro dela que já lemos e conversamos a respeito. Vamos ler os outros se o grupo Leia Mulheres aceitar a ideia. Mas, especialmente a pessoa, assim como da escritora, nós todos gostamos muito. Pela sua simpatia, sua atenção, seu cuidado com a literatura.

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  3. Daniela Santana Says:

    Adorei ter conhecido vc. Além de uma escritora fantástica, uma pessoa super simpática, carismática, sensível e atenciosa. Sua participação na FLITAPÊ foi maravilhosa. Muitíssimo obrigada por ter vindo.

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  4. Diva Rosa de Brito Says:

    Faço parte com muito gosto do grupo Leia Mulheres Itapetininga.Confesso que através dele, estou pegando gosto pela leitura e constatando que isso é muito bom para mim e para os outros.
    Através dos autores e seus personagens, muitas vezes vejo histórias reverenciando a minha própria vida e quem sabe alguma faceta da própria vida das escritoras.Como da personagem Anette, do romance Viagem Sentimental ao Japão, com a qual me identifiquei em diversas passagens.
    Paula Bajer, foi muito bom conhecê-la pessoalmente, em breve quero ler outros livros seus.
    Rever o prof.Milton com seu enorme talento, também foi ótimo.Amelinha Teles, Amara Moira adorei vocês é suas vidas passadas e presente.
    Entre as diversas atividades do Flitape, duas para mim se destacarão, a mediada por Déa Paulino e a Elzie, sobre poesias e a do Fábio Arruda Miranda, jornalista e presidente da Revista Top da Cidade que colocou de maneira completa, as inuúmeras possibilidades e a importância de escrevermos e pubblicarmos um livro.
    Enfim, parabéns a todos que se empenharam para que esse belíssimo festival acontecesse em Itapetininga -Sp-Brasil

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