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Ainda sobre autoficção: visita ao Jardim Alheio

16 de agosto de 2013

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Gosto cada vez mais da programação do Jardim Alheio: Grupo de Crítica Literária (https://www.facebook.com/jardim.alheio e http://jardimalheiogcl.wordpress.com/).

Muitos vídeos dos debates que organizam estão no Youtube.

Segunda-feira, dia 12, fui à Livraria Martins Fontes participar de mais um encontro.

Carlos Felipe Moisés e Frederico Barbosa conversaram sobre as interferências das biografias e das autobiografias na ficção.

A mediação de Vivian H. Schlesinger é sempre suave e oportuna. O grupo Jardim Alheio prepara cuidadosamente cada debate. Suscita questões relevantes.

Jardim Alheio propôs as seguintes perguntas: “De que forma a leitura é modificada pela presença de dados autobiográficos do autor em um romance? É possível separar fato e ficção? É desejável vestir um com outro? Por que tantos autores utilizam esse recurso?”

Como tinha acabado de reler Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, de ler Diário da Queda, de Michel Laub, assim como Verão, de J.M.Coetzee, estava com as indagações na cabeça.
Quando leio um livro, raramente me pergunto se o narrador é o próprio autor. Entro na história e pronto porque, ainda que houvesse identidade entre as personas, o narrador/autor/personagem seria, sempre, um outro.

Há pouco tempo, assisti mesa literária instigante no Centro Cultural Rio Verde (Sempre Cabe + 1). Lucimar Mutarelli, Thiago Che Romaro, Felipe Arruda, Tiago Barbalho e Mari Portela falaram sobre sua literatura (Lucimar é autora do ótimo Entre o trem e a plataforma, da Prumo) e, a certa altura, Lourenço Mutarelli, que estava na plateia, problematizou: o escritor, ao escrever, não seria, sempre, um outro?

Penso que o escritor é, sempre, um outro, quando escreve. Nem mesmo a autobiografia é capaz de circunscrever a personalidade em seus exatos termos.

E, na conversa no Jardim Alheio, falou-se de Flaubert (Madame Bovary sou eu), de Oscar Wilde (a vida imita a arte e não o contrário), da conotação de fingere, que, em latim, não significa exatamente fingir, mas imaginar, inventar, modelar, dar forma. Em latim, fingere não tem uma conotação negativa. Foi o que explicou Carlos Felipe Moisés.

Frederico Barbosa trouxe importante questão: afinal, o que pode e o que não pode ser dito, hoje, na escrita? A pergunta é importante e ele tem razão ao afirmar sua atualidade.

Minha preocupação com a autoficção está focada no estilo literário. Autoficção é um recurso literário. Acho interessante quando o personagem tem o nome do autor e não é o autor.

J.M. Coetzee é brilhante ao usar o recurso. O narrador pode, até, ser o autor. Ou fragmentos do autor, o que é ainda mais interessante. Mas, também, irrelevante na ficção.

Meu romance Viagem sentimental ao Japão (Apicuri) não é autobiográfico. Adoro quando perguntam se eu já fui ao Japão. Eu mesma me faço essa pergunta, às vezes.

Será que já fui ao Japão?

J.M.Coetzee

10 de agosto de 2013

Terminei Verão, de J.M. Coetzee (Companhia das Letras). De Coetzee li Juventude (indicado por Roberto Taddei).

Coetzee leva a autoficção ao extremo. Ele é o personagem dele mesmo. É entrevistado, entrevista. E Coetzee personagem é um homem totalmente comum. Um escritor cujos textos devem ser maravilhosos, mas os próprios textos só aparecem no livro na forma de diários (nem tão maravilhosos). A escrita do personagem deve ser brilhante porque há uma biografia em construção no romance e não se escreve biografia de uma personalidade desinteressante. E o que se descobre, nas versões dos entrevistados, é que Coetzee personagem pode não ser encantador (mas tem muitas mulheres). Não é o Coetzee autor. Ou é. Não importa. Ou importa?

Gosto demais de entrevistas e as que Coetzee simula são sensacionais. Em uma delas, o entrevistador fala: “Não dá para confiar no que Coetzee escreve, não como registro factual-não porque ele fosse mentiroso, mas porque ele era um ficcionista. Nas cartas, ele inventa uma ficção de si mesmo para seus correspondentes; nos diários ele faz a mesma coisa para os próprios olhos, ou talvez para a posteridade” (p. 234).

O mais divertido é que há até críticas a Desonra, considerado um de seus melhores romances. A certa altura, alguém diz, sobre Desonra: “Em nenhum ponto você tem a sensação de um escritor que deforma sua mídia a fim de dizer o que nunca foi dito, o que, para mim, é a marca da grande literatura. Muito impassível, muito organizado, eu diria” (p. 251).

Achei esse comentário sobre o próprio livro um grande lance no jogo literário desse autor que ganhou Prêmio Nobel em 2003.

Sobre Desonra, há crítica literária aqui, escrita por J.C. Guimarães. http://www.revistabula.com/113-desonra-de-j-m-coetzee/.

E, sobre Coetzee, há esse endereço na internet, Lendo Coetzee: http://lendocoetzee.com/o-autor/
Agora vou ler Desonra.

Viagem sentimental ao Japão

9 de agosto de 2013

Viagem sentimental ao Japão