Posts Tagged ‘Viagem sentimental ao Japão’

Meus temas estão no Carnaval

26 de fevereiro de 2017

Vi que o tema do baile do Copacabana Palace foi o Japão. Sabrina Sato estava de gueixa e vi a fantasia e achei bem pouco parecida com os kimonos de um livro que eu tenho.

Nunca fui ao Japão. Enquanto escrevia o romance “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri),  pesquisei demais e tive muita vontade de ir. Agora passou um pouco, mas chego lá.

Mas ver o baile do Copa inspirado no Japão me deu saudades desse tempo. Ninguém precisa ir ao Japão pra colocar a máscara, criar um personagem, imaginar. Anette, a personagem do livro, trabalha em agência de viagem e conta aos clientes ter ido lugares que não visitou.  Ela nunca viajou. As viagens dela são sentimentais.

E mais incrível ainda é acordar e ver que o tema do desfile da Rosas de Ouro em São Paulo agora de madrugada foi “Convivium, sente-se à mesa e saboreie”. Li que  os banquetes a da história da humanidade estavam no desfile, desde o Egito.

Proust deu muita importância às refeições, aos chás em porcelana, aos faisões, aos ovos mexidos com toucinho. A comida ajudou a tecer o ambiente de seu grande romance. Hoje, ao se falar de alimentação, o ponto de vista é restritivo. Fala-se mais sobre não comer do que sobre comer. Ou se faz regime, ou se tem diabete ou colesterol, ou se é vegano, ou não sei mais. Mas mesmo assim, comer bem, com família e amigos, ainda é uma delícia.

Os dois últimos romances que escrevi, “Nove tiros em Chef Lidu” e “Feliz aniversário, Sílvia”, têm a alimentação no contexto menos proustiano: a dieta está no ar.

Agora cedo, na minha casa, bem longe dos bailes e dos desfiles e do Japão e dos banquetes, me sinto ligada ao meu tempo.

Meus temas estão no carnaval!

Coletivo Literário Martelinho de Ouro e João Carrascoza na Livraria da Vila

11 de março de 2015

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Ontem, na conversa do Coletivo Literário Martelinho de Ouro com João Carrascoza, na Livraria da Vila da Lorena, em São Paulo, ele disse, falando de grupos e encontros, que faz parte da Geração 90.

Aí me lembrei, tenho até o livro, “Geração 90, manuscritos de computador”, publicado pela Boitempo Editorial em 2001. Nelson de Oliveira é organizador (escrevi aqui sobre esse livro em Macunaíma, de Luiz Bras). Abro o livro e os contos de João Carrascoza estão lá: Travessia e Duas tardes.

Gosto de olhar essas publicações que mostram ideias comuns, reúnem pessoas, tendências, escritos. Depois o tempo passa e os contos ficam lá, para serem lidos com outros olhos mais tarde, como eu faço agora, 14 anos depois. Os contos permanecem atuais porque 14 anos é pouco tempo na literatura.

Penso nas nossas publicações do Martelinho de Ouro, em “Achados e perdidos”, “Serendpt”, “50 anos daquele 64”, nos contos que escrevemos, nas conversas todas, é bom ter uma roda de escritura e de leitura como a gente tem.

Estou escrevendo este texto para deixar um registro, sob meu ponto de vista, da conversa de ontem. Algumas frases ficaram: literatura não é cópia das coisas. É reconstrução de mundos possíveis, evocação das coisas perdidas, temos vínculos de afetos com nossos amigos escritores, temos autores que nos inspiram e com quem nos digladiamos, também. João falou isso e mais, mas guardei essas frases.

Perguntaram-nos se consideramos nossa literatura feminina, se ela tem características femininas. Já pensamos nessa pergunta tantas vezes e a resposta foi que não faz diferença, ou não tem importância, ou é feminina mesmo, ou nem é, o que importa é o que se diz. Regina fala bem sobre  esse tema  porque muitos de seus personagens são masculinos e bastante convincentes.

É uma coincidência o coletivo ser formado por mulheres. Mas agora somos nós e pronto: Regina, Fatima, Lucimar, Teresinha, Gabriela, Paula, Concha, Flávia, Cris, Deborah, Sílvia, Izilda, Eliana.

Cada uma  leu um parágrafo pequeno de um conto da outra, do livro Serendpt, e esse foi um bom momento da tarde. Eu li, da Regina, esses parágrafos do conto Luís Antonio Raimundo, de Serendpt, p. 196: “Resolvi ir andando pra qualquer lugar. Que tivesse telefone, ou vendesse cerveja. Confesso, Rosalinda, que a essas alturas eu torcia pela segunda opção. Feito cupim alado, confundido na noite, minhas asas me arrastaram em direção a um clarão. Parecia perto, mas a cada lombada a luz dava impressão de andar mais pra frente. Cheguei a mudar o rumo, atrás dos reflexos que brincavam de espelho com a minha vista cansada de buscar foco no vazio”.

Perguntada sobre processo de escrita (Graziela, Palavraria Coletivo Literário, também escritora, perguntou), sobre como escrevo, respondi que, em meus dois romances, primeiro encontrei o personagem. Aí  ele me leva ao final da história em um contexto que me mobiliza. Em “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri), Anette está no mundo das viagens, e em “Nove tiros em Chef Lidu” (Circuito), Elvis está nos mundos da investigação criminal e da gastronomia.  Esses personagens têm personalidade forte,  conduzem a história, mesmo que, às vezes, o enredo lhes pregue algumas peças (isso acontece). Gosto de escrever narrativas mais longas.

João perguntou sobre como encontramos editoras e a resposta foi, de minha parte: perseverança e força de vontade. As editoras podem publicar os livros que  quiserem e simplesmente não há como convencê-las se elas não acham o livro bom ou vendável e isso não pode ser criticado. Há um mercado. Mas, por outro lado, como também já ouvi, há algo que se chama the long tail, e me parece que isso quer dizer que há sempre um lugar para quem insiste.

Valorizo cada conexão pela escrita. É muito bom encontrar leitores e, sejam um ou cem mil, como diz um livro de Pirandello, ligações são estabelecidas em um plano diferente, ainda não sei definir bem qual. E vivo melhor.

Viagem sentimental entre Huaca Pucclana, Asfalto e Japão

5 de maio de 2014

pirâmide

No sítio arqueológico Huaca Pucclana, no meio da cidade de Lima, no Peru, há construções de adobe, material que é mistura de terra, palha e água. A partir dessa mistura, a civilização anterior aos incas moldava tijolos de idêntico tamanho e com eles formava pirâmides (recheadas de pedras, também). Huaca Pucclana era um espaço para jogos e reuniões religiosas e políticas. As pessoas não moravam lá.

O homem registra ideias, preocupações, sentimentos e rotinas segundo conhecimentos e possibilidades de cada época. Sempre que visito lugares assim antigos, penso no imenso trabalho de reconstrução narrativa de arqueólogos e historiadores. Escavações em Huaca Pucclana trouxeram à tona pirâmide, praças, escadas de adobe em perfeito estado.

Creio que, não à toa, adobe é, também, o nome de empresa que, atualmente, programa registros digitais de dados. O nome adobe é associado, hoje, à construção digital.

Sendo eu uma pessoa ligada à escrita e à documentação, sendo ainda escritora, tendo publicado, em ficção, um romance (Viagem sentimental ao Japão, Apicuri, 2013) e um livro de contos (Asfalto, e-galáxia, 2014), o último em formato exclusivamente digital, é natural que reflita sobre o que é mais gratificante ou duradouro: o livro em papel ou o e-book?

tijolos

Imagino, então, bibliotecas antiquíssimas, talvez aquelas dos monges, em que exemplares únicos eram copiados à mão e guardados, arquivados, mantidos assim até hoje, em ambientes climatizados e algumas vezes sem possibilidade alguma de manuseio. Penso nesses livros enfileirados como os tijolos de adobe.

Penso em meu livro de contos, curiosamente denominado Asfalto, digitalizado, quase infinito. Não importa quantas pessoas o procurem, estará sempre à disposição – desde que mantidos pelas livrarias digitais cada vez mais fortes.

asfalto

Imagino, para o Viagem sentimental ao Japão, bibliotecas físicas bacanas, estantes de leitores interessados, mesmo que da Estante Virtual. Imagino o livro guardado em mochilas, o livro emprestado, comentado, lido. Imagino alguém que se divirta com as viagens de Anette, que se identifique com Anette.

Capa_Baixa

Para Asfalto, imagino vida larga, multiplicada, infinita como o número matemático Pi: 3,14141592653589… Sonhei, aliás, outro dia, com esses números enfileirados, grafados em uma parede de pedra, infinitamente.

Asfalto tem dez contos. Um deles fala de um GPS, outro de um quimono, outro de uma mulher com agenda lotada, outro de uma motociclista atarefada, outro de um rapaz que usa o primeiro smoking em um baile de formatura, outro sobre uma moça em dieta de emagrecimento, outro sobre uma vidente, outro sobre um jornalista e uma escritora em entrevista, outro sobre um depoimento em uma delegacia. São tantos assuntos, o livro é tão curto e tão longo.

Há quem ainda recuse a leitura digital, quem ache que o livro digital não é tão livro como o impresso. Cada leitor é um leitor, cada leitura é uma leitura.

As civilizações mais antigas comunicaram-se e comunicam-se com a nossa de diversas maneiras e nos cabe, também, aceitar nossas formas contemporâneas de expressão. Posso comparar bibliotecas de livros impressos às pirâmides de tijolos adobe, assim como posso comparar livros digitais aos mesmos tijolos.

Aprende-se a falar e escrever sem a ajuda de computadores, mas, depois, não se vive sem eles, não se vive sem o registro digital, fora do sistema. Até se vive. Mas é necessário e divertido tentar pegar a nova onda e encontrar ouvintes, leitores, conexões.

Quem sabe um dia, em um futuro distante, um ser humano altamente especializado decifre, depois de muito esforço, os dez contos de Asfalto e, então, espalhe o conhecimento de que houve, em um passado remoto, um GPS, uma motocicleta, um quimono, uma vidente e um smoking apertado.

Retrospectiva pessoal e literária ou “A vida secreta de Walter Mitty”, último filme de Ben Stiller

28 de dezembro de 2013

Estava aqui pensando que poderia escrever o último post de 2013. Escreveria sobre tantas coisas e, se resolvesse escrever sobre tudo o que vem à cabeça, terminaria um livro. E livro não posso escrever aqui. Então vou escrever sínteses, algumas listas, algo assim, sem ordem cronológica ou qualquer outra. Nem tudo esse ano esteve voltado à literatura. Houve fatos e incidentes. Foi um ano forte. Conto só a parte literária. Aliás, esse post meio que sintetiza outros, com exceção de algumas anotações.
1)- Publiquei “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri, 2013). Anette, a personagem, tem vida que vai muito além da minha, e isso foi bom de perceber. A Livraria da Vila da Fradique ficou lotada de amigos queridos, fiquei super contente com cada um, me lembro de todo mundo que estava lá. A Editora Apicuri fez um trabalho maravilhoso, agradeço Jozias e Rosangela por tudo.

2)- Participei do Grupo Literário Martelinho de Ouro. Publicamos um livro juntas, de contos, “Achados e perdidos” (RDG, 2013, coord. Regina Junqueira). Escrevi três contos para o livro.
3)- Participei de algumas reuniões do Grupo de Crítica Jardim Alheio na Livraria Martins Fontes.
4)- Coordenei grupos de leitura no Pauliceia Literária. Muito legal.
5)- Participei da pré Balada Literária organizada por Marcelino Freire no B_arco. Falei sobre meu romance. Foi ótimo.
6)- Mergulhei na leitura digital. Tenho um Kobo e adoro. Minha leitura ficou mais rápida e mais volátil. Agora ando com muitos livros e posso escolher o que ler e em que língua. Às vezes leio o mesmo livro em português e em inglês, para sentir as diferenças e quebrar monotonia (ler é gostoso e necessário e importante, mas às vezes cansa). Chego à conclusão de que temos ótimos tradutores.
7)-Tenho muitos contos escritos e terminados e concluídos e estou pensando em publicá-los só em formato digital.
8)- Fiz cursos com John Vorhaus no B_arco que valeram muito a pena. Quero saber mais sobre escrita de comédia. Não é na Seleções que está que “rir é o melhor remédio?”. Fui leitora assídua da Seleções, minha avó colecionava e até hoje sou discípula de minha avó, Ieta Bajer.
9)- Aprendo muito com minha querida professora de espanhol, Mónica. Lemos juntas contos de Cortázar, Benedetti.
10)- Fui a Itacaré, Londres, Rio dw Janeiro, Paraty e Ubatuba Sempre Ubatuba.
11)- Fomos à inauguração de uma praça, em Santos, que tem o nome de minha mãe, Ana Maria Babette.
12)- Estou quase terminando meu segundo romance. Falta pouco. Ainda não descobri quem matou Chef Lidu. Tinha encontrado o assassino, mas mudei de ideia. Ou a ideia mudou sozinha, não sei bem. É um romance policial.
13)- Gostei do último filme de Ben Stiller, “A vida secreta de Walter Mitty”. Vou ver de novo. O tema do filme, como diria John Vorhaus, poderia ser “siga seu sonho”, ou “faça o que tem a fazer”, ou “seja você mesmo”. E na vida também é assim.
14)-Tomara que tudo se realize no ano que vai nascer.

Esquentando a Balada Literária, no B_arco

7 de outubro de 2013

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Sábado, dia 5 de outubro, o Centro Cultural B_arco  mostrou um pouco da Balada Literária que acontece todo ano em São Paulo e está marcada para 20 a  24 de novembro. A Balada é realizada desde 2006   por Marcelino Freire.

Aqui está entrevista de Marcelino:  http://barco.art.br/marcelino-freire-fala-proxima-balada-literaria/

No sábado, tudo começou com o documentário  SP-Solo Pernambucano, de   Wilson Freire e Leandro Goddinho.

Já vi duas vezes o filme e veria muitas mais.  Quem escreve não pode deixar de ver. O jeito que Marcelino fala da literatura e das palavras e da poesia e da sua escrita faz com que a gente queira continuar traçando esse caminho da literatura.    E a gente fica conhecendo Sertania e Dona Maria do Carmo, mãe de Marcelino. E o mar de Recife.

Depois do filme, Marcelino chamou ao microfone escritores que lançaram livros recentemente ou que têm desenvolvido projetos literários.

Estiveram lá Lucimar Mutarelli, Renan Inquérito, Anna Zêpa, João Vereza, Sergio Mello, Sin Ha, Patricia Chmielewski Candido, Luis Rafael Monteiro e eu também, Paula Bajer Fernandes.

Cada um falou um pouco e leu poemas ou textos.

Lucimar falou de “Férias na prisão”, seu novo romance (Prumo). A fantasia da prisão ronda a maioria das pessoas e o livro mexe com essa sensação. É como está na orelha: “No entanto, dentro ou fora, estão todos aprisionados. Mesmo acompanhados, estão todos sós”.

Lucimar anunciou, também, o lançamento, em breve, de “Achados e perdidos”, livro que reúne contos de 13 escritoras: Concha Celestino, Cris Gonzalez, Deborah Dornellas, Eliana Castro, Fatima de Oliveira, Flávia Helena, Gabriela Colombo, Gabriela Fonseca, Izilda Bichara, Lucimar Mutarelli, Paula Bajer Fernandes, Regina Junqueira e Teresinha Theodoro

João Vereza, cujo ótimo livro de contos, “Noveleletas”, obteve 1º lugar no Prêmio Sesc 2012-2013 e foi publicado pela Record, falou sobre a repercussão do prêmio em sua vida.

Sérgio Mello leu poemas lindos. É autor de “Inimigo em testamento” (Soul Kitchen). Encontrei o book trailer no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=VQARSuE55Mc.

Renan é letrista de rap e deu um show. Contou um pouco de seu trabalho com os adolescentes na Fundação Casa. O livro de Renan, Poucas Palavras, é bem bacana.

Patricia (Japa Tratante) falou sobre criação de alternativas táteis de leitura. Em “De propósito” está: arte conceitual + poesia visual + intervenção urbana + alma + vida . Olha aqui: http://deproposito.com/about/

Luis falou sobre Boca Santa, literatura em estado vivo e bruto, como está na internet, aqui, em apresentação de Marcelino Freire: http://www.boca-santa.com/fala-marcelino.

Sin Ha recitou belos poemas de um jeito belo.

Conversei com Marcelino sobre meu “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri). Disse que a narrativa de Anette, querida personagem, tem a ver com o espanto de viajar e a dificuldade de conviver.

Tive ainda oportunidade de conhecer o livro lindo de Anna Zêpa, “Primeiro corte”. As páginas vêm com pontilhados de destaque, é poesia pra dividir. Anna diz: “Vamos praticar o desapego, hein?”

Transcrevo alguns, aqui:

palavras
são armas
difíceis de acreditar

alguém
me guarde
por favor

Não consigo dividir, Anna, desculpa.
Me apeguei.

Viagem sentimental ao Japão

9 de agosto de 2013

Viagem sentimental ao Japão