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História de uma leitura (2): Dublinesca, de Vila-Matas

24 de dezembro de 2012
Página 215 de Dublinesca, COSACNAIFY

Página 215 de Dublinesca, COSACNAIFY

Terminei de ler Dublinesca. É muito bom, nem precisaria dizer. Quem gosta de ler sobre literatura,  gosta de Vila-Matas,  pois ele faz, da literatura, também, a sua ficção.

Literatura e religião mudam a vida das pessoas. Podem mudar.  Em Dublinesca, a mulher de Samuel Riba, Celia, torna-se budista e isso interfere no relacionamento deles, assim como a bebida: beber ou parar de beber. Em um casamento de anos, pequeno desvio  de rumo na vida de um, aparentemente insignificante, altera tudo.

Lendo o romance, tenho  vontade de levar Ulysses, de Joyce, a sério. Ou não. Ninguém deve se sentir obrigado a ler coisa alguma. Fiquei com vontade de ler Ulysses.

Fiquei com vontade de ler Beckett, também, outro autor que está dentro de Dublinesca, talvez até mais inserido que Joyce, já que o editor sonha em encontrar o grande autor, parece que essa é a expectativa de todos os editores. Mas como saber quem é o grande autor? O grande autor é Proust ou J. K. Rowling? Ou Paulo Coelho? Ou Joyce? Para um bom editor, o que é o grande autor?

Há momentos tocantes no livro, que deixam a literatura para trás, tratam de gente. Um deles é o abraço de Riba e Célia, na página 291: “Foi um abraço no centro do mundo”.

O livro é um caleidoscópio e gostaria de dizer muito mais. Mas não posso, cada leitor o lerá de um jeito, o livro é aberto e preciso respeitar outros companheiros e guardar, só para mim, as impressões fugidias da literatura. Mas encontrei um bom texto na internet, publicado no Jornal do Brasil: http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2011/06/25/resenha-dublinesca-de-enrique-vila-matas-3/

História de uma leitura: Dublinesca, de Vila-Matas

4 de dezembro de 2012

dublinesca

Quando penso na minha escritura, penso que leio pouco e meu objetivo, em 2013, é ler muito. Ler, pra mim, é escrever também, porque gosto de produzir, fazer malhas de tricô, entrar em um processo qualquer e terminar, ver o resultado. Como disse o Raduan Nassar na entrevista aos Cadernos de Literatura que menciono em  post imediatamente anterior, fazer e escrever são processos semelhantes.

Então achei que seria interessante começar a ler um livro e escrever o que eu penso enquanto leio esse livro. E resolvi começar por Dublinesca, de Enrique Vila-Matas,  que ganhei de aniversário de uma pessoa querida. Na página de Vila-Matas na internet estão muitas informações sobre o livro: http://www.enriquevilamatas.com/obra/l_dublinesca.html.

Abro o livro. Que sorte, um sinal, já que eu também sou Paula: o livro é dedicado a Paula de Parma. Quem é Paula de Parma? Vou descobrir depois (já descobri, é casada com Vila-Matas).

Começamos em maio, nome do primeiro capítulo, ou da primeira parte. Estamos em Barcelona?

Que jeito legal de começar um livro: “Pertence à estirpe cada vez mais rara dos editores cultos, literários”. Quem pertence? Pronto, fui fisgada, estou curiosa, continuo.

É ele, o personagem, ele que pertence, Samuel Riba. Fanático por literatura. Teve uma editora que fechou. Lê a vida como um texto literário. Completará logo 60 anos e está aflito. Talvez ele se sinta um peixe fora d’água, como eu também me sinto – acabo de completar 50.  Ele visita os pais. Sente-se decadente, caindo cada vez mais. Mas parou de beber. Foi a Lyon e precisa contar a viagem aos pais. Foi falar sobre dificuldades na edição de obras literárias na Europa. Como ninguém o tivesse recepcionado, resolveu se fechar no quarto e lá redigiu uma teoria geral do romance cujos elementos são: “intertextualidade; conexões com a alta poesia; consciência de uma paisagem moral em ruínas; ligeira superioridade do estilo sobre a trama; a escrita vista como um relógio que avança” (p. 15).

Depois,  livrou-se da teoria e chegou à conclusão de que só a escreveu para dela se libertar. Ele não conta nada disso aos pais, que esperam o relato de uma viagem como deve ser: pessoas que  encontrou, lugares que visitou.  Não pode contar nada disso porque ficou na frente do computador e não viu ninguém.

Como editor, está frustrado por nunca ter encontrado aquele autor genial. Agora paro. Eu sou a autora genial à procura de um editor que me ache genial. Está na hora de escrever  uma   outra história, a minha história. Amanhã continuo a leitura pública de Dublinesca.

Viagens imaginárias

26 de junho de 2011

Vou  para a Califórnia em dez dias e estou ansiosa, arrumando  papéis, livros,   textos, meu escritório. Já me conheço e sei que essas neuras acontecem antes de sair de casa. Enquanto estou em casa, fico em casa; e quando sei que vou viajar quero organizar tudo, tenho medo de voltar e não me lembrar de por que cada coisa estava em um determinado canto, tenho medo de perder os textos e as coisas que representam as minhas ideias, todas abstratas como são as ideias, intocáveis. Preciso muito de representações: livros, revistas, ipad, netbook, notebook, desktop, smartphone.

Vou começar relacionando as idéias que eu tive e não desenvolvi: 1)- Escritor Howard Fast, pseudônimo E.V. Cunningham. Escreveu diversos livros policiais em que as personagens principais são  mulheres: Penélope, Lidia, Samantha…      Olha que  site   legal: http://www.trussel.com/hf/women.htm. Não é demais um cara escrever sob pseudônimo com iniciais e sobre mulheres,  e dar os nomes delas aos livros? Eu acho demais; 2)- Vila-Matas: Li  Doutor Pasavento e estou lendo Bartleby e companhia. Os dois são da Cosac Naify, que publicou outros tantos livros dele. Gosto da escrita dele sobre a não escrita, sobre as escrituras imaginárias, sobre os ditos não ditos. O discurso dele me agrada muito. Eu mesma sou uma escritora imaginária. Mas tenho escrito tanto que não me reconheço. Será que vou virar escritora de verdade? Não sei, não sei. Assim espero (alguém espirrou aqui em casa); 3)- Livros de viagens: quero escrever sobre viagens, inclusive as não viajadas. Lugares aos quais não fui, por exemplo. Não sou uma viajante muito expressiva ou aventureira, mas uma ida de ônibus a Santos já estimula os meus sentidos. Ainda estou pensando em como seria esse livro, não sei se seria um diário de viagens. O problema é que quando viajo reúno tantas informações sobre o lugar quando já estou lá e depois, na volta, compro tantos livros, que fico com preguiça. Não posso idealizar tanto assim o livro, não é pra ser uma enciclopédia. Antes não pesquiso nada sobre o lugar; arrumo as minhas coisas, como já disse. Minha mente é um liquidificador potência máxima. Uma centrífuga seria mais útil.

Reli agora um post antigo deste blog (Soul Kitchen e o peso do corpo). Fala sobre o Doutor Pasavento, de Vila-Matas. Estou no mesmo lugar. Ideias recorrentes.