Esperando Godot, de Samuel Beckett, é sempre um livro novo.
Há semanas leio e releio. Tenho várias edições e li a mais recente, da Companhia das Letras, cor de laranja.
Beckett escreveu em francês, traduziu ele mesmo para o inglês. Ele era irlandês, mas escrevia também em francês. Li em português e a tradução é muito boa.
Fábio de Souza Andrade não só traduziu como escreveu o posfácio, um dos textos mais inteligentes sobre um autor que já li. Não é didático e não impõe um ponto de vista. É um texto de quem conhece profundamente Beckett e comenta também para si mesmo. Ele está aqui neste programa falando sobre Beckett.
Descobri, no posfácio, que no Brasil mulheres representaram os personagens masculinos e essa foi uma de nossas contribuições para a história do teatro.
É muito impressionante que Cacilda Becker tenha passado mal em um intervalo da peça, foi para o hospital e morreu lá, tempos depois. Esperando Godot interrompida. Nossa melhor atriz morrendo enquanto representava Estragon.
Esperando Godot pode impactar de maneira diferente a cada leitura. Um vazio que está à nossa volta, em tudo, não só na Europa destruída.
A catástrofe da 2ª Guerra é de uma magnitude inominável, palavra aliás usada pelo próprio Beckett para intitular um de seus romances.
Hoje Esperando Godot mostra aquela solidão que só a gente conhece. E também aponta para o desalento das pessoas que buscam refúgio em outros espaços do planeta.
Em 1961 Giacometti fez a árvore do cenário, esquálida. Quando vejo as figuras de Giacometti nos museus fico hipnotizada. Eu nem sabia que Beckett e ele eram tão amigos e saber disso me fez compreender melhor mais os dois.
Este ensaio fala da amizade entre Beckett e Giacometti: https://www.tate.org.uk/art/artists/alberto-giacometti-1159/long-read/when-alberto-giacometti-met-samuel-beckett.
Não sei bem como terminar este texto, mas acho que posso dizer, como Vladimir: “Então, vamos embora”.
“Vamos lá” (Estragon).