Posts Tagged ‘Flip’

Euclides da Cunha

31 de dezembro de 2018

Euclides da Cunha (1866-1909) será o homenageado da Flip em 2019.

Euclides da Cunha era jornalista e engenheiro e foi a Canudos, pelo jornal O Estado de S. Paulo, ver e contar a guerra que lá acontecia. O resultado dessa experiência é Os sertões.

Euclides poderia não ter feito mais nada na vida e já estaria eternizado. Mas ele esteve na Amazônia (Alto Purus) e, depois de um tempo do retorno, foi assassinado pelo amante de D. Saninha, com quem era casado e tinha filhos. Mas ela também os teve com Dilermando, rapaz muito mais novo, militar, por quem se apaixonara nas ausências do marido. As viagens eram longas.

Hoje é fácil viajar, mas antes não era. Assim mesmo, havia muitas expedições. Euclides viajava para contar o que via, desvendava terras brasileiras. Escrevia.

Penso na viagem que Euclides da Cunha fez à Amazônia e esse é um tema que me interessa muito, talvez mais do que Canudos ou Antônio Conselheiro ou Padre Cícero. E bom viver em um país que tem a Amazônia.

O jornalista e escritor Daniel Piza fez em 2009, também pelo Estadão, todo o percurso de Euclides da Cunha e escreveu Amazônia de Euclides. Ele conta, no livro, as duas viagens, a de Euclides e a dele, comparando lugares visitados. Há um documentário dessa viagem chamado Um paraíso perdido. Está no YouTube.

https://youtu.be/WMSsuWihp2U

Já fui à Amazônia, fiquei em Anavilhanas e não entrei de verdade na selva. Fiz passeios de barco e tive medo de o barco parar no meio do rio. Sou medrosa de realidade. Mas fui. O rio era largo e infinito, acho que meu medo era mais do infinito. Eu pensava, e se a gasolina do barco acabar? E se o barco quebrar?

Euclides não devia pensar em nada disso. Ou pensava e não se incomodava.

Dilermando foi absolvido, o júri considerou que ele matou nosso herói em legítima defesa. Ele foi à casa de Dilermando já agressivo e armado, pois Saninha estava lá, e ainda por cima grávida. Ele tinha ficado muito tempo longe e talvez não fosse um companheiro amável.

Achei muito bom a Flip falar de Euclides da Cunha porque pode ser uma oportunidade de falar sobre a Amazônia, índios brasileiros, literatura escrita por indígenas, religião, fé, crimes passionais, romance policial, literatura de viagem. Dá pra pensar em Antônio Conselheiro, em fanatismo, jornalismo, em Padre Cícero. Aliás, está publicada, de Lira Neto, pela Companhia das Letras, biografia de Padre Cícero.

O processo criminal correspondente ao julgamento de Dilermando está publicado em livro e ali é possível conhecer as versões dos fatos e suas circunstâncias (Crônica de uma tragédia inesquecível-Autos do processo de Dilermando de Assis, que matou Euclides da Cunha).

Mary Del Priore escreveu um livro sobre a tragédia: Matar para não morrer: a morte de Euclides da Cunha e a noite sem fim de Dilermando de Assis.

Quero saber tudo sobre a história de Euclides da Cunha, vontade de saber o que o movia, por que ele ousava ir tão longe e como conseguia escrever tão bem e com tanto estilo.

Só agora, escrevendo este texto, me ocorre que morei por alguns anos, quando adolescente, em uma rua chamada Euclides da Cunha. Eu nem me importava com o nome, só achava meio longo e sisudo, como aliás a rua era. Pode ser que a minha curiosidade inicial venha daí, curiosidade de saber mais sobre essa rua reta em que morei e percorria para ir ao cinema.

Festa de Literatura para Lima Barreto

4 de junho de 2017

 

desenho de como vai ser a Flip em Paraty

 

Ah! A literatura me mata ou me dá o que peço dela.

Essa frase é de Lima Barreto em “O cemitério dos vivos”. Ouvi de Joselia Aguiar, curadora da Flip, na Coletiva de imprensa à qual tive  o prazer de assistir dia 29 de maio.

Logo no começo da manhã Joselia falou essa frase que na hora  me fez ficar muito ligada em seu discurso muito claro e detalhado. Ela não falou só sobre o programa, mas abriu caminhos para novas ideias. Tanto que cheguei em casa e fui procurar, já que ainda não tinha lido “O cemitério dos vivos”, onde a frase está.

Anos depois de sua morte a literatura retorna a Lima Barreto e dá a ele, em mesma oportunidade, leituras, reflexões, debates, encontros. A Flip 2017 confere  ao grande autor brasileiro toda reverência, expondo ao público, por meio de iluminada programação, a atualização e a atualidade de sua obra e de muitas outras que com ela se relacionam.

A Flip 2017 tem em sua programação mais mulheres que homens e pelo menos 30% de participantes negros. Joselia disse que a questão racial é importante, mas não aprisiona o diálogo. Os artistas querem ter a liberdade de falar sobre arte, ciência,  assuntos diversos.

A liberdade é nosso maior bem,  destacou Joselia, e foi importante na escolha dos assuntos e das mesas, escolha essa concentrada em mostrar autores novos que não estão nos centros, mas nas margens.

A liberdade é essencial na obra de Lima Barreto, valendo ressaltar, sobre o tema,  artigo de Lilia Schwarcz  publicado no último 13 de maio (http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/13-de-maio-Liberdade-hoje-e-seu-dia). Lilia Moritz Schwarcz estará na abertura da Flip e terá lançado, até lá, a biografia “Lima Barreto: triste visionário”, pela Companhia das Letras.

Na programação da Flip estão autoras de quem já gosto: Ana Miranda, Conceição Evaristo, Maria Valéria Rezende, Natalia Borges Polesso. Entre os homens está Alberto Mussa, admiro bastante da escrita dele. É bom que a programação conte com  autoras e autores que não conheço e virei a conhecer, o mundo literário é infinito, sempre surpreende.

Para mim a Flip já começou. Não sei ainda se vou a Paraty. Mas já estou no movimento de buscar novas escritas, de pesquisar  textos de Lima Barreto que nunca li. Leio sempre “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, adoro esse romance.

Os primeiros dois capítulos e metade do terceiro de Recordações foram publicados, primeiro, na  Floreal, revista que Lima Barreto fundou em 1907 e só chegou ao quarto volume. Depois, o romance foi publicado por editora portuguesa (encontrei os exemplares da Floreal digitalizados na página da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin na internet).

Em carta a Gonzaga Duque, o próprio Lima Barreto afirma: “Mandei as Recordações do Escrivão Isaías Caminha, um livro desigual, propositalmente malfeito, brutal por vezes, mas sincero sempre” (Correspondência, I, pp 169-170, citada por “A vida de Lima Barreto”, Rio de Janeiro, José Olympio, 2002, p. 184).

Uma de minhas características prediletas do livro “Recordações do escrivão Isaías Caminha” é essa imperfeição destacada pelo próprio autor.

Gosto quando, na ficção, a linguagem não é barreira entre o leitor e o texto. Fica tudo claro e posso pensar no que o autor está contando ou dizendo, fazendo minhas próprias associações e analogias e confrontos.

O romance, em seu estilo muito direto,  só renova a compreensão sobre a hipocrisia em suas diversas formas.

Um autor perfeito como Lima Barreto, que admite ter escrito de modo imperfeito, só pode esperar o máximo da literatura.

*****

Insiro aqui alguns links de textos interessantes que encontrei na internet sobre Lima Barreto:

http://www.blogdacompanhia.com.br/conteudos/visualizar/13-de-maio-Liberdade-hoje-e-seu-dia

http://seer.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/1047/863

Clique para acessar o anais_105_1985.pdf

http://www.revistas.usp.br/teresa/article/viewFile/99461/97948

http://seer.fclar.unesp.br/estudos/article/viewFile/1047/863

Clique para acessar o 1444.pdf

Clique para acessar o gt_lt13_artigo_6.pdf

https://pendientedemigracion.ucm.es/info/especulo/numero18/limabar2.html

http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno13-17.html

Clique para acessar o coracao-claudio-resistencia-missao-solidariedade.pdf

Clique para acessar o 035855-1_COMPLETO.pdf

 

Flip 2013 Graciliano Ramos

2 de outubro de 2012

Graciliano Ramos será o homenageado da Flip em 2013. Quando penso no estilo seco, curto e intenso de Graciliano, principalmente em Vidas Secas e São Bernardo, eu me suspendo. Tudo fica no ar.

Falando em Graciliano, li outro dia, em “O conto brasileiro contemporâneo”, organizado por Alfredo Bosi, dois contos de Ricardo Ramos, seu filho. Circuito fechado (4) e Circuito fechado (5). Lindos, os dois. Vou até transcrever um pouco do último: “Não foi o amor, a certeza, o amanhã, foram as ideias de, o conceito, enfim a sua redução. Não foi pouco nem muito, foi igual. Não foi sempre, nem faltou, foi mais às vezes. Não foi o que, e onde, e quando. Não, não foi”.

Ainda sobre Nabokov e Humbert Humbert

15 de julho de 2012

Dia 22 de junho  escrevi sobre Lolita e Nabokov e hoje, inspirada pela leitura do jornal, volto ao assunto.

No Caderno 2 (O Estado de São Paulo), Luis Fernando Verissimo contou que deu uma entrevista à Radio Batuta, do Instituto Moreira Salles, na Flip, dizendo que seu personagem literário inesquecível  é Humbert  Humbert, de Lolita,  Nabokov.  Humbert  Humbert é “uma figura monstruosa e fascinante”, ele disse.

Eu também acho. Humbert Humbert é um personagem totalmente verossímel, nós acreditamos nele. Seguimos  seus pensamentos com extrema curiosidade e espanto: como ele pôde ir tão longe?

Ele (Humbert Humbert) escreve  na prisão.  É,  paradoxalmente, e talvez por isso mesmo,   livre para escrever o que quiser e como quiser.  E ele até poderia ir mais longe. Ainda transcrevendo Verissimo, “os explicadores de Nabokov, com a mesma intensidade dos fundamentalistas, combatem a ideia de que Lolita seja pornográfico”.

Nabokov  também foi livre para escrever Lolita e sabemos que ele e seu personagem não têm nada em comum. Como lembrou Veríssimo, ele nunca diria, “Humbert Humbert  sou eu”.

A  revista Serrote 11, do Instituto Moreira Salles, publicou  ensaio “Nabokov & Machado”, de Brian Boyd.  O ensaio, que vem acompanhado de lindas ilustrações de borboletas, desenhadas por Nabokov,  é de uma profundidade intensa. Lerei e relerei para poder escrever sobre o texto que mostra pontos em comum entre dois grandes escritores: Machado de Assis e Nabokov.  Por enquanto, hoje, fico com as lindas borboletas.

Segue link para o vídeo da Rádio Batuta: http://ims.uol.com.br/Radio/D1048