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Dia da professora

15 de outubro de 2019

Hoje é dia da professora.

Tive ótimas professoras e já quis ser uma delas. Sou professora de cursos eventuais, espaços de troca de experiências e ideias, também em plataformas virtuais, trabalho que adoro. Mas não exerço o magistério.

Não consegui ser a professora que entra na sala de aula todos os dias no mesmo horário, mesmo tendo acordado com dor de cabeça ou de dente ou com febre. Não sei se aguentaria a rotina. Já me senti frustrada por não ter sido a professora que eu queria ser, só que hoje penso que foi melhor pra mim. Tive oportunidade de exercer meus defeitos e talentos de outras maneiras.

Faz pouco tempo conheci a fala de Paulo Freire. Quando fui para a África, para Guiné-Bissau, li sobre o trabalho de alfabetização que ele ajudou a estruturar depois da independência, a partir de 1975. Li várias entrevistas e biografias de Paulo Freire e uma das ideias em que mais acredito é a de que estamos sempre aprendendo, não importa de que lado, sendo aluno, professor, ou colega. Um dos livros dele tem o título mais ou menos assim: “A África ensinando a gente”. E o outro: “Por uma pedagogia da pergunta”.

Outra ideia é a de que podemos fazer um mundo cada vez melhor por meio da educação. Essa ideia  parece  óbvia e simples, mas é muito difícil de ser posta em prática.

Falo aqui no dia da professora e em Paulo Freire, professor. Li que na África Elza, com quem na época era casado, cuidava da parte mais concreta do trabalho. Minhas primeiras professoras foram mulheres. Só bem mais tarde tive professores homens, o primeiro foi de química, a gente chamava de Carlão. Mas aprendi a ler e escrever com as mulheres, e a gostar de literatura com mulheres também.

Então, para mim, é mais afetivo falar em dia da professora, 15 de outubro.

 

Vislumbres de Bissau (segunda visita)

21 de maio de 2018

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Este é um bolo de casamento no dia seguinte da festa. Todo mundo foi embora e a cobertura do bolo ficou no restaurante, com os bonecos. Tive vontade de perguntar se alguém viria buscar, mas não perguntei.

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Esta é a praça principal de Bissau, à noite. Muita gente passeia e faz esporte aqui. Fiz esta foto do último andar do Hotel Império.

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Este é o Hotel Império, onde me hospedei. Fica na praça principal. A foto está um pouco grande, mas é a única que tenho.

Nino Galissa, músico que ouvi em Bissau, na Embaixada de Portugal. Estava acompanhado de alunos e super equipe.

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Binhan, músico de Guiné-Bissau. Tive a oportunidade de ouvi-lo em um domingo de sol. Há vários registros de Binhan no youtube.

Guiné-Bissau

19 de março de 2018

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Estive em  Guiné-Bissau,  país  que está na costa ocidental da África, por uma semana. Foi pouco tempo.

Antes de ir, estudei. Comecei pela literatura  e pelo magnífico livro de Moema Parente Augel,    “O desafio do escombro” (Garamond, 2007), que me deu informações para  compreender melhor  a cultura da Guiné. Ela fala da história do país, da política, da literatura muito rica,  dedicando-se bastante à língua. A oficial é o português,  que se aprende na escola. Há, no entanto, o crioulo, ou a língua guineense, falada pela maioria das pessoas. E há ainda as línguas faladas no âmbito das etnias, que são muitas.

O crioulo é agradável de ouvir. Uma língua bonita. Quando falam entre eles, não dá para entender. É interessante que  não possamos entender o que guineenses conversam quando não estamos incluídos. Não me sentia mal por não estar incluída. No livro de Moema há vários poemas escritos em crioulo traduzidos para o português. São lindos. Há vários da poeta Odete Semedo. Segue um verso, transcrito de “O desafio do escombro”:

Sou parte desta natureza

Tão gasta

Desta face da terra

Tão frágil e vasta

Sou o rio que corre

Tropeçando em pedras e vales.

Em crioulo:

Ami i padas di es mundu

Ku gasta dja

Ami i un burdu di n tera

Ami i iagu ku na kuri

Ku na n baransa nas pedras.

Em Bissau falei e ouvi português, língua  aprendida na escola e usada nas comunicações oficiais. Fala-se bem a língua, mas com algum distanciamento, o que talvez transforme a emotividade das mensagens transmitidas.

Fiquei conhecendo a literatura de Abdulai Sila,  li seu romance “A última tragédia” (Rio de Janeiro, Pallas, 2011). Vi na internet que em Bissau entraria  em cartaz uma peça escrita por Abdulai (“Dois tiros e uma gargalhada”) e eu queria muito assistir, mas não deu: quando estreou, eu já tinha ido vindo embora. Uma viagem é feita também de lugares não visitados, de expectativas não resolvidas.

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No Museu Etnográfico Nacional de Bissau  aprendi sobre o pano de pente, tradicional. Presentear alguém com um pano é um ato de amizade e carinho. Comprei panos de pente em Bissau.  Aprendi que até amanhã significa para sempre, ou que não há para sempre além de amanhã (tive um pouco de dúvida sobre o alcance da expressão).

E na literatura aprendi uma palavra antiga com significado novo: mantenha. Vi essa palavra pela primeira vez no livro de Abdulai Sila, em que o personagem se apresenta: “Vim só falar mantenha rápido. Eu sou o professor da escola”. (“A última tragédia”, p. 109). E todos tem a sua tabanca, a vila para onde podem voltar, onde está sua comunidade.

 

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