Posts Tagged ‘jornalismo’

Três livros e suas ideias infinitas

29 de abril de 2010

Arrumando livros espalhados pela casa, encontro alguns bem interessantes e escondidos:
1)- Preso por trocadilho: a imprensa de narrativa irreverente paulistana de 1900 a 1911, de Paula Ester Janovitch (São Paulo, Alameda, 2006). O livro fala de publicações bem humoradas que se multiplicaram em São Paulo no final do século XIX. Os desenhos que ilustravam as revistas, os pequenos jornais, eram engraçados, caricatos. Havia O Pirralho, A Ronda, Cabrião, A Farpa, O Micróbio. A imprensa aperfeiçoava-se por meio de periódicos ágeis, irônicos, críticos. Pesquisando imagens, descobri esse blog legal. que fala bastante de Angelo Agostini e o Cabrião: http://patadoguaxinim.blogspot.com/2009_10_01_archive.html;
2)- As dez maiores descobertas da medicina, de Meyer Friedman e Gerald W. Friedland (São Paulo, Companhia das Letras, 2006). Drauzio Varella apresentou e fez revisão técnica do texto. Lembro aqui algumas descobertas: Circulação do sangue, bactérias, anestesia cirúrgica,antibióticos, o DNA. Os capítulos explicam detalhadamente os caminhos para as descobertas e, no fim, o autor diz: “Seria fascinante saber quais serão as próximas dez maiores descobertas…”;
3)- O cão sem plumas, de João Cabral de Melo Neto (Rio de Janeiro, Objetiva -Alfaguara-2007). Leio ao acaso a primeira estrofe de A bailarina: “A bailarina feita de borracha e pássaro dança no pavimento anterior do sonho”. O poema tem quatro estrofes com quatro versos cada. O livro inclui Paisagem do Capibaribe, estruturado em parágrafos. É lindo. Gostaria de saber de cor. “O que vive incomoda de vida o silêncio, o sono, o corpo que sonhou cortar-se roupas de nuvens”.

Ficção e folhetins e imprensa e internet

15 de setembro de 2009

Estou lendo muitos livros ao mesmo tempo, mas o principal é Justine (Quarteto de Alexandria, Lawrence Durrell). Há outros circundantes, como os policiais de Lawrence Block e os livros de ideias, histórias, relatos, ensaios, reflexões. Gosto sempre de escrever sobre eles porque não me emocionam, mas me instigam, me fazem trocar ideias de lugar. Já disse isso. Poderia escrever sobre Justine e sua personalidade volátil, sobre Justine e sua insegurança adolescente, sobre Justine e o feitiço, sobre Alexandria e magia, sobre o escritor que realiza a história que escreve.

Escritores  gostam de ser, eles mesmos, os personagens da narrativa no contexto da própria escrita. O narrador é o personagem. Será isso? A história dentro da história? Proust e o desejo de escrever de seu narrador encontram-se com meu desejo de escrever que some enquanto se realiza, como o chocolate derretendo na boca. A angústia de tentar escrever algo completo é imensa.

Mudando para alguma coisa mais concreta, digo que gosto muito de ler estudos sobre jornalismo e relatos de jornalistas. Os relatos de correspondentes estrangeiros me encantam, como se diria em espanhol. Leio desde John Reed na Rússia até Michael Herr no Vietnã, até Lourival Sant’Anna no Afeganistão, e mais. E também passo pelo jornalismo em folhetins. Encontrei um livro interessante guardado na estante: “Imprensa e ficção no século XIX: Edgar Allan Poe e a narrativa de Arthur Gordon Pym” (Unesp, 1996). É sobre o romance publicado em folhetim. É um texto acadêmico, então um pouco hermético. Porém, o autor preocupa-se em sintetizar as ideias expostas, facilitando a leitura de quem quer conhecer sem necessariamente estudar. E enumera técnicas de construção da narrativa ficcional nos folhetins. E ressalto as mais interessantes: 1)- Títulos atraentes; 2)- Inícios de histórias sensacionalistas; 3)- Muitos diálogos; 4)- Intriga (tensão e distensão); 5)- Acaso; 6)- Herói e heroína  simplificados; 6)- Vilões satânicos; 7)- Finais inconsistentes (p. 44, 45).

A narrativa de Arthur Gordon Pym, de Poe, foi publicada em 1837. As duas primeiras partes foram publicadas na revista Southern Literary Messenger (janeiro e fevereiro de 1837). Depois Poe terminou a história e a publicou em livro. José Alcides Ribeiro analisa o texto de Poe em detalhes, dissecando personagens e suas ações.  E depois expõe  reflexões conclusivas (Capítulo 5, Parte 2). Arthur G. Pym é o autor fictício do romance. Mas há três autores. O outro narrador é anônimo e o terceiro é o próprio Edgar Allan Poe. Criam-se, assim, diversas possibilidades de leitura. Poe escreve para a imprensa periódica e a específica maneira de publicar influencia a criação literária.

Atualizando a discussão, reflito eu que a publicação na internet, a fluidez na leitura de textos em diferentes meios (livros, jornais, revistas, blogs, sítios específicos), a comunicação rápida e volátil de ideias, contribuem para uma produção escrita curta, cifrada,  que muitas vezes só pode ser bem compreendida e digerida por quem também participa e compartilha dos mesmos processos de comunicação. Mas sempre haverá clássicos, aqueles que ultrapassam os limites e as regras estabelecidas pela comunidade.

Sobre Goleiros

6 de agosto de 2009

Peguei  na estante o livro “Goleiros: herois e anti-herois da camisa 1″, do jornalista Paulo Guilherme, publicado pela Alameda em 2006. O livro fala sobre a função do goleiro no time, sobre as dificuldades do goleiro no jogo e conta muita coisa sobre os muitos goleiros na história do futebol. Che Guevara gostava de jogar na posição de goleiro,  era um goleiro barulhento e provocador (p. 20).

Quando o futebol foi criado, em 1863, não previa a posição do goleiro, que só apareceu em 1871. E o livro relata, com bom humor   e estilo – lembrando inclusive o fato de que uma revista francesa achou as pernas de Leão as mais belas do futebol mundial- a história do jogo no Brasil, falando de todos os nossos goleiros, das partidas e dos frangos, já que ” todo goleiro consagrado tem seu frango guardado no fundo da gaveta da memória” (p. 195).

O livro traz fotografias bonitas e coloridas, relação de todos os goleiros da seleção e curiosidades como médias de gols sofridos, vitórias. Taffarel foi o goleiro que mais vezes jogou pela seleção, foi o que mais tempo ficou sem levar gols. Leão foi o que ficou mais tempo sem levar gols em copas do mundo, e assim vai.

Eu gosto desse livro, embora não goste de assistir futebol na tv. Mas gosto de assistir aqueles programas na hora do almoço e de madrugada, em que comentaristas analisam passes, jogadas, política do futebol. É um assunto e tanto, move todo mundo.

Jornalistas em entrevista

15 de julho de 2009

Por trás da entrevista, de Carla Mühlhaus, publicado pela Record em 2007, vale como retrato do jornalismo brasileiro. Mas não só isso. Reproduz boas conversas entre a autora e pessoas acostumadas a fazer as perguntas, e  não a respondê-las.  Na introdução,  explica-se a importância da entrevista, analisando-a no contexto da história do jornalismo e de seus modelos. Embora se possa ver, no trabalho, principalmente na introdução, que o discurso acadêmico está por ali, as entrevistas podem e devem ser lidas por quem se interessa pela conversa e pela comunicação sincera entre as pessoas. Jornalistas brasileiros de destaque são entrevistados sobre seu trabalho, sua formação, suas entrevistas. Ana Arruda, Artur Xexéo, Benicio Medeiros, Carlos Heitor Cony, Joaquim Ferreira dos Santos, Joel Silveira, José Castello, Paulo Roberto Pires, Sérgio Cabral e Zuenir Ventura falam no livro. Ouve-se Joel Silveira dizendo, no ano 2000, com 81 anos, que gosta de entrevistar a pessoa na casa dela, que o entrevistador deve saber tudo sobre a pessoa que vai entrevistar, que entrevistou Monteiro Lobato na casa dele e ele o recebeu de pijama, que Monteiro Lobato quis falar de política e não de literatura e, em 1944, a  publicação da conversa causou a ocupação da revista Diretrizes, dirigida por Samuel Wainer. José Castello conta a Carla que Clarice Lispector foi sua entrevistada mais marcante e que se recusou a falar com o gravador ligado: ela mesma trancou o gravador no armário. E fala que o jornalista não pode criticar o entrevistado, reprovar suas posturas. Carlos Heitor Cony diz que, na investigação policial, o jornalista não deve perguntar como promotor ou advogado de defesa, deve, apenas, mostrar a verdade. E há muito mais do que isso. As entrevistas são todas muito interessantes e fica-se com a impressão, depois de tê-las lido, de ter encontrado pessoalmente os jornalistas, de ter conversado com eles e compartilhado dos momentos relatados.Para quem gosta de entrevistas em geral, para quem as coleciona, inclusive, como eu, o livro reproduz as melhores, aquelas em que o diálogo é franco e sincero. Deve ser uma experiência curiosa, para um jornalista, ser entrevistado.