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Leitor digital

22 de outubro de 2013

Quem não passa tempo livre na frente de uma tela? De TV, computador, Ipad, celular, leitor digital. Estou conectada ao meu leitor digital. Tão ligada que, às vezes, tenho o livro e, mesmo assim, baixo, como fiz com O Aleph, de Borges, que leio em espanhol. Quando terminar, vou à edição brasileira, comparar e compreender melhor algumas partes. Porque O Aleph não é fácil.

O  leitor digital é perfeito para uma primeira  leitura de O Aleph porque torna o texto meio volátil, como Borges pode ter imaginado. No leitor, o livro não é concreto. Não dá para apertar, passar a mão, amassar, contar páginas. Não dá para saber quanto se leu. Só em porcentagem.  Por outro lado, é possível fazer destaques e, incrível, eu, pelo menos, leio mais rápido. Não sei se é porque meu cérebro já está habituado à tela do computador, do celular, às muitas telas de hoje.

Li um livro que não teria lido em edição impressa, Bel Canto, de Ann Patchett. Quero vê-lo ao vivo, não tenho a menor ideia sobre sua textura, suas cores, o número de páginas. E gostei.

Gostei da história do sequestro de autoridades em uma comemoração de aniversário de um empresário japonês em um país da América Latina. A casa foi tomada por sequestradores, que lá permaneceram por longo período. Os personagens principais são um intérprete japonês que falava muitas línguas, uma cantora de ópera maravilhosa, o homenageado, uma sequestradora moça que queria aprender outras línguas e se apaixonou. A comunicabilidade parece ter sido o tema central do romance, ou a adaptação  a novos contextos. Pessoas se amaram, algumas passaram a fazer em público o que antes faziam em segredo, como cantar e tocar piano (atividades aparentemente tão simples).

Ann Patchett tem uma livraria em Nashville, Parnassus Books (http://www.parnassusbooks.net/). No site, está escrito:  An independent bookstore for independent people.

A leitura de um livro em edição digital pode suscitar  ideias completamente diferentes das inspiradas pela edição impressa. Um autor como Borges teria gostado, penso, de ser lido em meio digital.

Não tenho o costume de filosofar e nem sei se estou pensando direito, mas tenho a impressão de que a leitura digital pode  levar a pensamentos mais livres e desapegados de fórmulas e compartimentos.

Esse é só o início de uma reflexão, mas,por enquanto, posso dizer que  aderi ao leitor digital como mais uma forma de ler. Pelo menos satisfaço, rapidamente, o impulso de ter o livro que quero.

E por um preço menor (só um pouco menor).

 

Esquentando a Balada Literária, no B_arco

7 de outubro de 2013

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Sábado, dia 5 de outubro, o Centro Cultural B_arco  mostrou um pouco da Balada Literária que acontece todo ano em São Paulo e está marcada para 20 a  24 de novembro. A Balada é realizada desde 2006   por Marcelino Freire.

Aqui está entrevista de Marcelino:  http://barco.art.br/marcelino-freire-fala-proxima-balada-literaria/

No sábado, tudo começou com o documentário  SP-Solo Pernambucano, de   Wilson Freire e Leandro Goddinho.

Já vi duas vezes o filme e veria muitas mais.  Quem escreve não pode deixar de ver. O jeito que Marcelino fala da literatura e das palavras e da poesia e da sua escrita faz com que a gente queira continuar traçando esse caminho da literatura.    E a gente fica conhecendo Sertania e Dona Maria do Carmo, mãe de Marcelino. E o mar de Recife.

Depois do filme, Marcelino chamou ao microfone escritores que lançaram livros recentemente ou que têm desenvolvido projetos literários.

Estiveram lá Lucimar Mutarelli, Renan Inquérito, Anna Zêpa, João Vereza, Sergio Mello, Sin Ha, Patricia Chmielewski Candido, Luis Rafael Monteiro e eu também, Paula Bajer Fernandes.

Cada um falou um pouco e leu poemas ou textos.

Lucimar falou de “Férias na prisão”, seu novo romance (Prumo). A fantasia da prisão ronda a maioria das pessoas e o livro mexe com essa sensação. É como está na orelha: “No entanto, dentro ou fora, estão todos aprisionados. Mesmo acompanhados, estão todos sós”.

Lucimar anunciou, também, o lançamento, em breve, de “Achados e perdidos”, livro que reúne contos de 13 escritoras: Concha Celestino, Cris Gonzalez, Deborah Dornellas, Eliana Castro, Fatima de Oliveira, Flávia Helena, Gabriela Colombo, Gabriela Fonseca, Izilda Bichara, Lucimar Mutarelli, Paula Bajer Fernandes, Regina Junqueira e Teresinha Theodoro

João Vereza, cujo ótimo livro de contos, “Noveleletas”, obteve 1º lugar no Prêmio Sesc 2012-2013 e foi publicado pela Record, falou sobre a repercussão do prêmio em sua vida.

Sérgio Mello leu poemas lindos. É autor de “Inimigo em testamento” (Soul Kitchen). Encontrei o book trailer no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=VQARSuE55Mc.

Renan é letrista de rap e deu um show. Contou um pouco de seu trabalho com os adolescentes na Fundação Casa. O livro de Renan, Poucas Palavras, é bem bacana.

Patricia (Japa Tratante) falou sobre criação de alternativas táteis de leitura. Em “De propósito” está: arte conceitual + poesia visual + intervenção urbana + alma + vida . Olha aqui: http://deproposito.com/about/

Luis falou sobre Boca Santa, literatura em estado vivo e bruto, como está na internet, aqui, em apresentação de Marcelino Freire: http://www.boca-santa.com/fala-marcelino.

Sin Ha recitou belos poemas de um jeito belo.

Conversei com Marcelino sobre meu “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri). Disse que a narrativa de Anette, querida personagem, tem a ver com o espanto de viajar e a dificuldade de conviver.

Tive ainda oportunidade de conhecer o livro lindo de Anna Zêpa, “Primeiro corte”. As páginas vêm com pontilhados de destaque, é poesia pra dividir. Anna diz: “Vamos praticar o desapego, hein?”

Transcrevo alguns, aqui:

palavras
são armas
difíceis de acreditar

alguém
me guarde
por favor

Não consigo dividir, Anna, desculpa.
Me apeguei.