Quem não passa tempo livre na frente de uma tela? De TV, computador, Ipad, celular, leitor digital. Estou conectada ao meu leitor digital. Tão ligada que, às vezes, tenho o livro e, mesmo assim, baixo, como fiz com O Aleph, de Borges, que leio em espanhol. Quando terminar, vou à edição brasileira, comparar e compreender melhor algumas partes. Porque O Aleph não é fácil.
O leitor digital é perfeito para uma primeira leitura de O Aleph porque torna o texto meio volátil, como Borges pode ter imaginado. No leitor, o livro não é concreto. Não dá para apertar, passar a mão, amassar, contar páginas. Não dá para saber quanto se leu. Só em porcentagem. Por outro lado, é possível fazer destaques e, incrível, eu, pelo menos, leio mais rápido. Não sei se é porque meu cérebro já está habituado à tela do computador, do celular, às muitas telas de hoje.
Li um livro que não teria lido em edição impressa, Bel Canto, de Ann Patchett. Quero vê-lo ao vivo, não tenho a menor ideia sobre sua textura, suas cores, o número de páginas. E gostei.
Gostei da história do sequestro de autoridades em uma comemoração de aniversário de um empresário japonês em um país da América Latina. A casa foi tomada por sequestradores, que lá permaneceram por longo período. Os personagens principais são um intérprete japonês que falava muitas línguas, uma cantora de ópera maravilhosa, o homenageado, uma sequestradora moça que queria aprender outras línguas e se apaixonou. A comunicabilidade parece ter sido o tema central do romance, ou a adaptação a novos contextos. Pessoas se amaram, algumas passaram a fazer em público o que antes faziam em segredo, como cantar e tocar piano (atividades aparentemente tão simples).
Ann Patchett tem uma livraria em Nashville, Parnassus Books (http://www.parnassusbooks.net/). No site, está escrito: An independent bookstore for independent people.
A leitura de um livro em edição digital pode suscitar ideias completamente diferentes das inspiradas pela edição impressa. Um autor como Borges teria gostado, penso, de ser lido em meio digital.
Não tenho o costume de filosofar e nem sei se estou pensando direito, mas tenho a impressão de que a leitura digital pode levar a pensamentos mais livres e desapegados de fórmulas e compartimentos.
Esse é só o início de uma reflexão, mas,por enquanto, posso dizer que aderi ao leitor digital como mais uma forma de ler. Pelo menos satisfaço, rapidamente, o impulso de ter o livro que quero.
E por um preço menor (só um pouco menor).