Estou fazendo um curso surpreendente na Casa Guilherme de Almeida:
“Grande Sertão: Veredas-Suas traduções e retraduções”, por Berthold Zilly.
Eu tenho muita admiração pelos tradutores porque eles têm uma paciência que me falta.
Os tradutores pensam nos vários significados das palavras, procuram sinônimos, sabem o que é anáfora, metonímia, síncope, prestam atenção ao ritmo, comparam traduções e muito mais. E leem diversas vezes as obras que traduzem e escrevem de novo, de novo, tentando respeitar o original e ao mesmo tempo precisando inovar porque a literalidade não reproduz o que o autor disse.
Embora eu não tenha a menor intenção de traduzir – gosto de saber como os tradutores fazem – aprendo com eles e acho que posso escrever melhor.
E Guimarães Rosa é um autor do qual gosto muito. Talvez – talvez- seja o meu preferido, ao lado de Cervantes e Lima Barreto e Cortázar (por enquanto).O jeito como ele fala me movimenta a escrever.
Berthold Zilly é alemão e fala muito bem português e, nas aulas, gostei porque ele, sendo professor, consegue falar com simplicidade sobre assuntos muito complexos e talvez isso aconteça também porque, na cabeça dele, ele transfira, muito rapidamente, ideias complicadas para o português e, nessa transmissão, elas ficam mais fáceis (eu acho que pode ser isso).
Eu me interesso demais pelos discursos e pela maneira de dizer as coisas. Berthold Zilly traduziu “Os sertões” de Euclides da Cunha para o alemão.
Ele contou que em “Os sertões” a palavra nonada já foi escrita. Eu procurei na publicação digital e achei, está lá, como ele disse, na parte em que ele disse que está: “Causava dó verem-se expostos à venda nas feiras, extraordinária quantidade de gado cavalar, vacum, caprino etc., além de outros objetos, por preços de nonada, como terrenos, casas etc”.
O curso valeu muito e amanhã ainda continua, mas só de saber isso, que nonada está em “Os sertões”, já fiquei super contente. Eu sempre pensei que fosse palavra inventada e ainda talvez ainda seja inventada (depois vi na internet que existia, mesmo). Às vezes Euclides inventou nonada também, muitas vezes as pessoas escrevem e imaginam as mesmas coisas.
Quero acreditar que nonada é inventada. Se eu fosse inventar uma palavra em alemão para nonada, de brincadeira, acho que seria “neenichts”.
Tags: Berthold Zilly, Casa Guilherme de Almeida, Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa, Nonada
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