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Notas breves sobre Piglia, Bach, Joyce, Dimos Goudaroulis e Antonio Torres

28 de fevereiro de 2013

1)- Formas breves é um livro de Ricardo Piglia em que ele reflete sobre literatura em textos curtos. Breves. Acabo de reler, do livro,  “Os sujeitos trágicos (literatura e psicanálise)”.

Piglia conta um caso: Joyce visitou Jung na Suíça e mostrou  escritos de sua filha Lucia, que teria morrido psicótica. Ele mostrou a Jung textos dela, comparando-os aos seus, especialmente a Finnegans Wake. Jung teria dito:”Mas onde você nada, ela se afoga” (p. 55,56).

Coincidentemente, li, na página da Revista Cult na internet, entrevista que Fábio Durão deu ali, por ocasião de um curso agora em fevereiro, no Espaço Cult.

Ele diz, sobre o fluxo de consciência como modo narrativo: “A importância foi um salto admirável na verossimilhança psicológica. Os personagens passam a se parecer muito mais com você ou comigo. Mas, no Ulysses, o Joyce faz algo surpreendente: ele não se contenta com essa conquista narrativa, que expande o horizonte do representável na literatura, mas no decorrer do livro a desmancha. A partir de certo ponto (e é difícil precisar exatamente onde) aquilo que queria ser o veículo da antropormorfização, a representação acurada do funcionamento da mente, surge como um mecanismo narrativo. Cria-se, assim, uma interessante tensão entre homem e máquina, orgânico e inorgânico” (HTTP://revistacult.uol.com.br/home/2013/02/metamorfose-literaria/ ).

2)- Cheguei a aprender um pouco de piano. Toquei sete músicas simples, todas esquecidas. Mas guardei o esforço e a alegria de      tocá-las.   Depois desisti. Achei que tinha alcançado meu limite. O que me deixava aflita era tocar as notas do piano até o final da música, não sabia se eu ia conseguir completar a sequência nos tempos certos. Muitas vezes parava e  começava de novo. Muitas vezes. A música era imprevisível; como falar em público.Lembrei  disso agora.

Como falar em público: queda livre. Aprendi a seguir a partitura: paraquedas.

3)-Outro dia ouvi Dimos  Goudaroulis na Casa do Núcleo. Violoncelo. Ele tocava e explicava. Falou muito da música como discurso. Bach. Ouço o CD dele, 6 suites a violoncello solo. No texto do encarte ele diz claramente que a música de Bach é uma música falada, que obedece às leis da retórica, como  um discurso. O ouvinte participa do fazer a música. Dimos Goudaroulis  toca fielmente o manuscrito de Anna Magdalena Bach. Foi maravilhoso ouvi-lo na Casa do Núcleo, assim como a música do CD surpreende a cada tempo.

4)- Acabo de assistir a este filme, divulgado no facebook por Antonio Torres, ele mesmo entrevistado por Marcelo Moutinho: http://www.youtube.com/watch?v=gO49pJ31-YU.

Essa terra, que li há muitos anos e ainda releio, me impressionou e impressiona muito, de um jeito que só O jogo da amarelinha, de Cortázar, tinha feito.

Só depois li Grande Sertão: Veredas  e aí fiquei com uma ideia segura da literatura que cola em mim. Li  todos com deslumbramento (embora  os estilos sejam completamente diferentes).

Li  Essa terra sem indicação ou referências;  passei na livraria, vi,  comprei o livro, e li. Tudo o que o escritor  conta na entrevista é sincero, absolutamente profundo e ao mesmo tempo simples,  delicado. A influência da música, do jazz, no ritmo de seu texto, está declarada na entrevista. Tempos, espaços, pontos.

Como a música é importante.

Luiz Tatit na Casa do Núcleo

31 de outubro de 2012

O Rumo marcou época. Luiz Tatit conta bem a história do grupo: http://www.luiztatit.com.br/grupo_rumo/.
Eles eram intelectuais e sofisticados, mas simples. Discursivos. Poéticos. Estruturados. Espirituosos. Soltos. E a voz da Ná Ozzetti. Continua. Linda.
Luiz Tatit é professor de semiótica. Tem muitos livros publicados sobre esse assunto hermético. Quando canta suas canções, nada poderia parecer mais fácil. É difícil escrever fácil.
A Casa do Núcleo (www.casadonucleo.com.br) promoveu três noites de música e conversa com Luiz Tatit.
Na primeira, exibiu gravação de show com grupo Rumo em 2004, no SESC.
Na segunda, Tatit cantou canções do Rumo. Na terceira noite, cantou diversas dos últimos CDs, algumas parcerias e outras ainda não gravadas.
Esteve no palco da Casa do Núcleo com seu filho Jonas, também músico.
Os livros dele estavam à venda e estou aqui com “Semiótica à luz de Guimarães Rosa” (Ateliê Editorial).

Tatit examina escrita de Guimarães Rosa a partir de semiótica de Algirdas Julien Greimas.
A proposta é analisar a narrativa a partir de seus momentos de tensão, compreendendo, assim, como o interesse de um conto é preservado.
Tatit destaca, na introdução, aspectos que serão desenvolvidos, entre eles “interação entre surpresa e espera”, “importância do conceito de espera” e “intensidade como parâmetro musical de análise dos textos” (p. 16 e 17).
Guimarães Rosa é o grande escritor brasileiro e não consigo compreender como se pode traduzi-lo.
A língua portuguesa é o grande personagem em tudo o que escreve. Justamente por isso, lê-lo nem sempre é simples. A atenção deve estar dirigida à palavra em si e não só à história. Grande Sertão: Veredas, é meu livro preferido. Minha edição está gasta, amassada, porque demorei muito tempo andando com o livro pra lá e pra cá. Custei a me acostumar com a leitura.
De vez em quando, releio alguns trechos e é sempre uma surpresa, como se nunca tivesse lido.
Lendo o livro de Tatit, complexo, profundo e simples ao mesmo tempo, detenho-me na análise de “A terceira margem do rio” (p. 107-125). Gosto desse conto porque a história, não obstante estranha, me parece tão real. Muitas pessoas vivem na terceira margem do rio. Eu mesma, muitas vezes, estou nela, em espaço e tempo não determinados, ausente.
Este blog, por exemplo, está na terceira margem do rio.

Novidades em São Paulo

7 de junho de 2011

http://visiteedith.com: Edith, selo editorial. Quatro livros foram lançados no  b_arco, sábado, dia 4. Marcelino Freire está coordenando tudo isso. Os livros são bem acabados, muito bonitos: Esses dias pedem silêncio (Jorge Antônio Ribeiro), A mulher que queria ser Micheliny Verunshk (Wilson Freire), Hotel Trombose (Felipe Valério) e André Sala vai para Casa do Chapéu (André Sala).

www.nucleocontemporaneo.com.br: gravadora e produtora de música. Benjamim Taubkin, grande pianista, dirige. Na Casa do núcleo (Centro Cultural de Música do Núcleo Contemporâneo), assisti Léa Freire (semana Léa Freire) em muitas variações. Com Vento e Madeira e com o Quinteto. Teco Cardoso toca nos dois quintetos e Mônica Salmaso canta com Vento e Madeira. Aliás, no cd do grupo há pouco lançado (é de outro selo, Maritaca), ela canta, inclusive aquela música linda do Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso: Luz Negra.