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Dia internacional da mulher

7 de março de 2017

Sempre achei o dia internacional da mulher uma data desconfortável. Pensava que tinha todos os direitos do mundo, que o mercado de trabalho estava aberto a quem se dedicasse, independentemente do gênero. Ter e criar filhos, vida profissional, tudo junto, só podia ser fácil.

Achava que não precisava cozinhar, que expressaria minhas ideias em reuniões e palestras e todos me ouviriam com respeito e sem interrupção, em franco debate (li na Folha de 5 de março  sobre um aplicativo que contabiliza as interrupções das falas das mulheres, por homens, em reuniões).  

Estou contente com minhas conquistas. Mas, voltando no tempo, percebo situações em que diferenças foram estabelecidas porque eu era mulher. Eu disfarçava ao notar diferenças e me acomodava a nem sempre buscar posições mais proeminentes porque tinha medo da recusa e de não dar conta, também. A discriminação também acontece por parte das mulheres. Já ouvi muitas dizerem que preferem homens como colegas de trabalho.Seriam mais flexíveis? Nós só podemos ser mais rígidas pra fazer tanta coisa diferente ao mesmo tempo.
 As jovens hoje estão unidas na condição feminina. Gostam de estar entre elas, são amigas, militantes, têm atitudes  e vontade de mudar as coisas. A minha geração foi meio ingênua, ou eu fui, talvez. Achei que estava tudo mudado.
Estou falando de um jeito meio genérico porque não quero ficar lembrando pessoas e fatos, mas quem sente isso sabe como é (e estou falando de questões simples e leves aqui, sabendo que muitas mulheres, no mundo, sofrem violências físicas e verbais difíceis de serem combatidas, a violência contra uma atinge todas nós).

É claro que sempre é possível vencer debates ou entrar na competição com jeitinho, ou certa política, nem sei como dizer. Mas é importante conquistar posições falando direto e claro, com a razão.

Assisti outro dia ao filme alemão Toni Erdmann e me chamou atenção o tanto que a personagem se ocupava em se sobressair no trabalho e o quanto recebia mensagens masculinas discriminatórias, algumas sutis e outras não. No fim o pai percebeu que ela experimentava situações absurdas, e ele sabia que ela podia conquistar espaços sendo ela mesma, ele conhecia a capacidade e os talentos dela. Achei legal o filme, mesmo com algum exagero na caracterização do personagem masculino.

Bom, pra fechar o texto, e sem conclusões, queria dizer que tenho visto  a dança de Pina Bausch no filme do Wim Wenders e no youtube, em outros filmes, e acho que ela expressa a angústia do nosso tempo, principalmente a feminina.

Lembrei dela, mas lembro  de brasileiras maravilhosas na forma de se expressar, como  Elza Soares, Marisa Monte e Mônica Salmaso, minhas preferidas.
Estou aqui falando de expressão pelo corpo e pela voz, preocupada, dessa vez, em não entrar na literatura, já que sempre leio e escrevo tanto.

Eu quero muitos dias das mulheres, um só é pouco. Nós merecemos muitos dias, todos.