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Domingo à tarde no Espaço Parlapatões: Cantos Negreiros

26 de maio de 2013

CantosNegreirosMFAM

Domingo à tarde. Espaço Parlapatões, Praça Roosevelt. Documentário: SP-Solo Pernambucano (Wilson Freire e Leandro Goddinho): trajetória do escritor Marcelino Freire de Sertânia a São Paulo. A mãe de Marcelino. A casa. Aquela cidade com nada e  tudo,  tudo e nada. Voltar e recontar, descobrir o que tinha lá. Marcelino foi a Sertânia com sua mãe, fizeram o caminho com coragem. Coragem é importante para eternizar as pessoas eternas.

Depois do filme, participação poética especial de Nelson Maca e o grande show Cantos Negreiros: Marcelino Freire e Aloísio Menezes. Marcelino sempre fez o show com a cantora Fabiana Cozza. Agora em São Paulo ele fez com Aloisio Menezes, de Salvador, Salvador do mundo todo. Ele e seus músicos maravilhosos cantando e fazendo percussão. Marcelino  falando seus Cantos Negreiros. Fala e canto intercalados.  Sempre a música. A voz de Aloisio Menezes é linda e poderosa.

Cheguei em casa e fui procurar na internet porque queria ouvir mais. Encontrei um CD gravado com Guga Stroeter e Orquestra HB:  http://www.aloisiomenezes.com/discografia.

Ouvir Marcelino falando e interpretando sua escrita é sempre surpreendente. Os textos lidos e relidos são sempre inéditos, chacoalham cada vez de um jeito.

Aí tive vontade de escrever.

Romance policial (2): algumas características, segundo P.D.James

19 de maio de 2013

policial

É claro que os romances policiais são escritos a partir de algumas fórmulas. Que não precisam ser seguidas sempre, é óbvio. Mas é divertido conhecer as regras.

Li, faz pouco tempo, Segredos do romance policial: história das histórias de detetive, de P.D.James (São Paulo, Três estrelas, 2012).

Em um dos capítulos finais, intitulado “Contar a história: canário, ponto de vista, gente”, está:

1)- O cenário torna a história crível na literatura de crime;

2)- Histórias de detetive desenrolam-se bem em comunidades fechadas;

3)- Arquitetura e casas precisam ser descritas porque as pessoas são influenciadas pelo ambiente;

4)- Descrição do encontro do corpo é uma das partes mais importantes do romance policial, o leitor precisa sentir o desconforto, o horror, o choque da morte drástica; 

5)- O detetive deve estar inserido em um ambiente facilmente identificado pelo leitor;

6)- O ponto de vista é importante, o leitor não pode acompanhar pensamentos do assassino;

7)- Narrativa em primeira pessoa dá credibilidade à história;

8)- A vítima não precisa ser simpática, pois ela provocou o ódio do assassino;

9)- Gosto dessa frase: “Assassinato é o crime ao qual nenhum outro se compara, e sua investigação dilacera a privacidade tanto dos vivos como dos mortos. Esse estudo de seres humanos sob o estresse desse teste autorrevelador é que constitui para um escritor a maior atração do gênero” (p. 136).

Comecei a escrever um romance que quer ser policial. Será meu segundo romance.

O primeiro, “Viagem sentimental ao Japão”, será publicado no segundo semestre. Não é uma história de detetive.

É uma narrativa sobre as narrativas de viagens, reais e imaginárias.

É a narrativa de Anette.

Importância do livro para registrar pensamento e arte

13 de maio de 2013

A Editora Apicuri publica duas coleções de livros que documentam e refletem  arte : Pensamento em Arte e Cosmocopa + Apicuri.

Jozias Benedicto, coordenador das Coleções Pensamento e Arte e Ficção, da Apicuri, também artista,  Hugo Houayek e Felipe Barbosa, autores de livros que registram e refletem arte contemporânea,  estiveram na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista em  11 de maio para conversar sobre “Livro: Registro e disseminação de Arte Contemporânea”.

A sinopse apresentada para o encontro é: “O livro ainda é um importante veículo para registro e disseminação de trabalhos de artistas contemporâneos. Duas iniciativas da Editora Apicuri em termos de livros de artista são as Coleções Pensamento em Arte, com ênfase em textos acadêmicos e de debates, e a Coleção Cosmocopa+Apicuri, que apresenta monografias sobre o trabalho de artistas. Hugo Houayek, editor da Coleção Pensamento em Arte, e Felipe Barbosa, curador e organizador da Coleção Cosmocopa+Apicuri, falaram sobre sua experiência com estas coleções, os trabalhos publicados e em projeto, e também de seus trabalhos como artistas e, no caso do Felipe, sua experiência como galerista”.

A Livraria Martins Fontes tem um auditório novo. A conversa aconteceu ali.  Felipe, Hugo e Jozias,  artistas que já estão no futuro, sabem que não há mais lugar para pensamentos e ideias setorizadas. Acreditam que arte, escrita e literatura estão entrelaçadas, assim como todas as formas de expressão.

Nós podemos transitar de um mundo a outro, fazemos parte de mundos diferentes, é permitido alterá-los, também. Nossas personalidades têm diversas faces, somos vários ao mesmo tempo, temos  liberdade de trocar de lugar e experimentar caminhos novos.

Pensei, durante a tarde: tudo é e pode, ao mesmo tempo, não ser. Podemos recusar exclusividade em   tribos que um dia escolhemos ou que nos foram impostas ou onde caímos por acaso. Queremos pertencer a outros grupos, também, e, quem sabe, um dia, as fronteiras fiquem diluídas. Isso pode acontecer. Acho que, com a crescente importância da imagem na comunicação, ficou mais fácil compreender diferenças. A arte tem essa possibilidade: mostra modos de ser sem juízo de valor.

Na conversa, muitos livros da Editora Apicuri foram expostos.

Felipe Barbosa mostrou dois livros: Estranha Economia, com muitas fotografias (Apicuri/Cosmocopa, 2012), registra seu trabalho. O livro traz, ainda, textos de Alvaro Seixas, Luciano Vinhosa e Sheila Cabo Geraldo. Outro livro de Felipe Barbosa: Matemática imperfeita (Apicuri/Cosmocopa). O livro também documenta seu trabalho.

Hugo Houayek é autor de Pintura como ato de fronteira: o confronto entre a pintura e o mundo (Apicuri, 2011).  O livro instiga nossas indagações mais sérias. Eu me pergunto, lendo: Porque as bailarinas de Degas me encantam? Porque adoro olhar Vermeer?

A Editora Apicuri, ao publicar esses e outros livros sobre arte e texto, arte e literatura, enfrenta os grandes temas do nosso tempo: o que nos encanta, hoje? O que nos preocupa? Como nos expressamos? Como transitamos de um lugar ao outro, de um pensamento a outro? Como saímos da imagem para o texto e do texto para a imagem? Como nos preservamos e modificamos, ao mesmo tempo? O registro do pensamento artístico possibilita continuidade e, ao mesmo tempo, mudança.

Em seu Estranha Economia, Felipe Barbosa expõe objetos comuns em  contexto diferente. Forma nova ordem, nova função, ou nada disso. Bolas, palitos de fósforo, garrafas de refrigerante, cédulas de dinheiro picado, suscitam, para quem olha as novas organizações estabelecidas,  interpretações que alargam o pensamento. Ele classifica suas coleções de um jeito peculiar. Faz desenhos geométricos com agrupamento de símbolos concretos da nossa vida: escada, bola de futebol, casa de cachorro, disco de vinil, tampa de garrafa. Dá até para fazer um poema com as palavras das coisas, assim como as imagens das mesmas coisas formam poemas.

Sou uma pessoa ligada, sempre, no texto. O livro, para mim, é muito importante, ajuda a compreender o que eu vejo. Quando vou a uma exposição, preciso do catálogo,  do livro escrito para a ocasião. Por isso  gostei tanto da conversa: todo mundo ali estava de acordo: o livro registra a arte para o futuro. A mesma arte que é, hoje, será vista amanhã, de um outro jeito.

Agora, escrevendo este texto, vendo as imagens dos livros, pensei no poema de Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo. Tem uma estrofe assim: “Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares”.

Tenho quase certeza. Hoje, ela quis dizer o contrário.