Escritoras e personagens

Aqui está uma lista afetiva de escritoras que me influenciaram. Entre parênteses estão os livros que ligaram nelas (tem um conto, também):

1)- Ana Miranda (Boca do inferno);

2)-Gertrude Stein (A autobiografia de Alice B. Toklas);

3)- Isabel Allende (Eva Luna);

4)- Patricia Cornwell (Corpo de delito);

5)- Ana Cristina Cesar (A teus pés);

6)- Simone de Beuvoir (Os mandarins);

7)-Karen Blixen (Fazenda africana);

8)- Jane Austen (Razão e sensibilidade);

9)- Marguerite Duras (O amante);

10)- Marilene Felinto (Muslim: woman)

Tem uma coisa na discussão atual sobre igualdade, sobre feminismo, sobre os espaços que nós, mulheres,  ocupamos, que me escapa. Eu não sei precisar bem o que falta, não consigo muito falar sobre isso.

Sou de uma geração intermediária, nasci em 62. Fui educada para acreditar  que o mundo tinha mudado e me surpreendi quando vi que nem tanto. Tomei um susto, um choque.

Há mais escritores publicados que escritoras publicadas. Tenho achado que publicar é muito importante, mesmo textos não tão bons ou bem avaliados sob um ponto de vista mais literário. Eu sei que há muitos livros publicados, que o mercado está saturado, que é difícil ter livros em livrarias, dizem que brasileiros leem pouco (li que as brasileiras leem muito), que encontrar uma editora é mais difícil ainda.

Mesmo assim, é importante publicar. A internet facilita, sempre se pode fazer um blog, um fanzine impresso em casa, um folhetim em xerox, um e-book em uma plataforma gratuita.

O ideal seria ter milhares de leitores,  mas ter um leitor que responda a um texto  é maravilhoso. Um leitor  que  leia com atenção, grife uma frase, ria de uma piada, que se identifique com um mistério, uma tristeza, um sentimento de inadequação da personagem.

Comecei a falar de minhas autoras preferidas e acabei falando de mim e esse foi um devaneio suscitado pela minha condição feminina.

Quando eu era pequena, estava na livraria com a minha avó, era uma livraria que frequentávamos, nós duas. Havia um livro na estante  e no título estava a palavra sexo. Eu perguntei a ela o que era sexo. Ela me respondeu que era algo como masculino e feminino, uma palavra que reunia os gêneros. A resposta não foi a mais adequada, talvez, mas não estava errada. Eu me lembro que, na hora, achei a explicação um pouco estranha, mas me identifiquei com aquele título, ele me incluía. Não sei por que me lembrei disso agora. Outro devaneio.

Pensando nas escritoras, lembrei de personagens femininas muito vivas: Macabéa, Lady Chatterley, Emma Bovary, Anna Karenina. Só uma delas criada por uma escritora: Macabéa, por Clarice Lispector.

Clarice Lispector não pode faltar em nenhuma lista. Gosto e respeito, mas não sou totalmente envolvida por ela. Sua escrita é tão forte que me incomoda e leio pouco para não me machucar. Preciso de distância na leitura e tenho a impressão de que o texto de Clarice não concorda com o afastamento.

Não sei exatamente por que as escritoras mulheres são menos publicadas que os homens (isso está mudando). O que eu sei é que as mulheres ainda não escrevem tudo. Há muitas opiniões, sentimentos, versões, ficções, invenções, não verbalizadas.

A literatura transforma as pessoas e podemos transformar sempre e cada vez mais, escrevendo uma história sem qualquer intenção de fazer a cabeça, ou politizar, ou mudar o mundo, ou tendo a intenção, tanto faz, cada uma ou cada um escreve o que quer (e pode) para quem quiser ler.

Mas cada escrita reflete seu tempo e seu contexto e se descola da pessoa que escreve e da que lê, também. Implementando diálogos diversos, representando, o romance muda o mundo. Os romances de minhas escritoras prediletas mudaram meus mundos. Até Corpo de delito. Kay Scarpetta é uma senhora personagem.

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