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Literatura de viagem em viagem

8 de junho de 2012

Ainda falando sobre  literatura de viagem, vi na livraria do aeroporto de Congonhas outro dia um livro que me interessou: “A construção do Brasil na literatura de viagem dos séculos XVI, XVII e XVIII”, de Jean Marcel Carvalho França, publicado pela José  Olympio.

Gosto de olhar os livros de livrarias que não frequento porque a forma como são expostos é diferente e isso modifica meu modo de olhar para eles. Percebo temas e autores que não perceberia normalmente. E foi assim que aconteceu.

Fotografei a capa para não  esquecer do nome – não comprei na hora porque minha bolsa já estava pesada.

As narrativas de viagem dessa época mostram um Brasil deslumbrante. O  livro se propõe a  investigar em que medida o discurso contribuiu  para a formação de uma identidade brasileira.

Terminada a minha curta viagem a Brasília, finalmente tenho o livro comigo. O rigor da pesquisa me chamou a atenção, os textos estão todos publicados na Parte II, a antologia das narrativas é bastante extensa.

Quando estive na Amazônia, fiquei encantada  com a exuberância da floresta. E, por isso, fui logo ler a parte do livro que trata da descoberta do rio Amazonas. Segue breve trecho de relato de William Davies: “Os homens trazem, também, enfiado em ambas as orelhas, um toco ou caniço, aproximadamente da espessura de uma pena de cisne e com cerca de meia polegada de comprimento; ornamento semelhante é colocado no meio do lado inferior. Até mesmo no osso do nariz eles metem um pequeno caniço, onde penduram uma pérola ou uma conta que cai diretamente sobre a boca e balança de um lado para outro enquanto falam – o que é motivo de grande orgulho e satisfação. Os seus cabelos são longos, mas, nas proximidades da orelha, há uma parte arrendodada que é cprtada bem curta, rente à cabeça- à semelhança do corte de cabelo de um monge” (p. 353, 354).

Literatura de viagem

3 de junho de 2012

Depois das câmeras digitais, fotografar ficou muito fácil.

Todo mundo tira foto de tudo e o risco de ser flagrado em uma situação incoveniente aumentou. Inconcoveniente pode ser quase tudo, desde uma dose de álcool a mais até uma gargalhada em local imporóprio, uma festa entre amigos ou entre inimigos, uma bermuda mais curta no facebook de um colega de trabalho. E se a pessoa não tem facebook e não quer estar na internet, azar. Não vê a própria fotografia na rede.

Todo celular tem uma câmera fotográfica. Todo mundo tem celular. E todo mundo fica clicando no celular durante almoços, festas, reuniões, jantares,  restaurantes,  cinema,  hospital,  enterro.

Não sei se isso é ruim ou não, o fato é que é.

Isso tem a ver com literatura de viagens porque os  escritos nas viagens, os diários, são complementados pelas centenas de fotografias. Os diários não acabaram porque a escrita é irresistível. Quem escreve, escreve. Escreve e fotografa, eventualmente, mas sobretudo escreve.  Quem sabe desenhar, desenha também.

Talvez o texto seja diferente. Mais curto.  Mais pessoal. Mais íntimo. Mais fotográfico.

Relatos de viagens existem há muito tempo. Pero  Vaz de Caminha relatou nossas terras, nossa natureza e nossos índios. Jean Baptiste Debret desenhou e escreveu “Viagem pitoresca e histórica do Brasil”. Os desenhos são perfeitos. Ele devia passar horas bordando os relatos. Parece que o tempo deles, naquela época, era mais longo.

Não tenho muita paciência para escrever  diários nas viagens  Às vezes, anoto os lugares que visito, as impressões que tive, se discuti com alguém ou não, não muito mais. Tem gente que escreve tudo, o relato é parte da viagem.

Os estilos são variados. Hoje escrevo sobre um dos livros de viagem que andei lendo.

– Apontamentos de viagem, Penguin & Companhia das Letras, J.A. Leite Moraes, publicado em 2011. A introdução é de Antonio Candido. Leite Moraes foi advogado, político, professor, jornalista, liberal, escritor. A viagem, de São Paulo a Goiás e depois a Belém do Pará, começou no fim de 1880. Transcrevo  parte da intodução de Antonio Candido: “O motivo da viagem foi, como vimos, a nomeação para o cargo de presidente daquela província central, de acesso muito difícil no tempo. A sua missão consistia em presidir as eleições de acordo com a nova lei eleitoral, conhecida na história como lei Saraiva, que modernisou e liberalizou a legislação, estabelecendo o voto direto por distritos, com um deputado para cada um” (p. 12).

Os tempos da viagem fluvial eram outros.

Olha só: “Neste dia, achei-me sempre sentado ao pé do leme, junto ao piloto, o prático basílio, no tombadilho, com a minha espingarda atravessada sobre o colo, e de momento a momento atirava ora um pato, ou uma marreca, ou uma gaivota, ou um mergulhão, ou um socó, ou uma arara, enfim todo pássaro que passava-me pela frente” (p. 90).