Povos indígenas, povos originários

Eduardo Viveiros de Castro diz, nessa entrevista, que difícil é saber quem não é índio no Brasil:

As conferências, palestras, aulas do antropólogo Viveiros de Castro arquivadas no youtube esclarecem muito sobre povos indígenas. Depois que as descobri não me canso de assistir.

Há, no Brasil, mais de 300 etnias, por volta de 270 línguas. Muitas estão em extinção.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-36682290

O Projeto Vídeo nas aldeias (www.videonasaldeias.org.br) reúne muitos filmes feitos por indígenas, de várias etnias.

A terra permeia todo o contexto, faz parte da identidade indígena

Eu me sinto bem vivendo em um país com povos e pessoas que mantêm sua cultura, modificando-a, mas sustentando suas características fundamentais. Aprendi que os povos indígenas protegem as florestas e o território brasileiro. Não permitem a corrosão da natureza. Manuela Carneiro da Cunha explica isso em texto publicado na revista Piauí 148, mais além relacionada:

Sintetizo ainda aqui alguma bibliografia que tenho colecionado, propondo-me a ampliar a lista ao longo de novas leituras. A lista não segue ordem específica. Se eu for muito rigorosa na preparação, o texto me prenderá demais e, afinal, esse é um blog, o texto compartilha fontes de conhecimento que podem ser consultadas livremente.

Segue:

1)- “O perecível e o imperecível: reflexões guarani mbya sobre a existência”, de Daniel Calazans Pierri (Elefante Editora).

Transcrevo uma fala:

“Essa aldeia, a primeira que eu visitava, localiza-se na Terra indígena Jaraguá. Eu estava a apenas vinte minutos de distância da casa onde morava, na zona oeste da cidade de São Paulo, testemunhando algo que nunca imaginei existir tão perto nos vinte anos em que ali residi. Pouco naquelas cenas me parecia diferente dos relatos históricos que eu então estudava por ocasião de minha iniciação científica, nos quais o frade franciscano André Thévet descrevia com incredulidade os rituais xamânicos que acompanhou entre os Tupinambá, ainda no século XVI. Pouco, não fosse o fato de que toda a tarde que antecedeu minha entrada na opy, quando circulamos pelas casas da aldeia incrustrada na metrópole paulista puxando conversa com os moradores, constituiu-se em uma desconstrução imediata de quaisquer concepções essencialistas e estereotipadas a respeito do que seriam os índios. Pouco, não tosse o fato de que esse evento era contemporâneo e se passava a apenas alguns quilômetros de minha casa” (p. 21).

Ainda:

“Segundo a publicação Mapa guarani continental (2016)- os Guarani totalizam aproximadamente 280 mil indivíduos, dispersos entre Brasil (85 mil), Bolívia (83 mil), Paraguai (61 mil) e Argentina 54 mil). -A literatura tem classificado esse contingente populacional, a partir de Egon Schaden, em três principais subgrupos: Kaiowa (ou Pai-taviterã, Mbya e Nhandeva (ou Xiripa, ou ainda Ava Guarani), além de subgrupos “andinos” presentes na Bolívia e na Argentina” (p. 30).

“A relação com os brancos é também pensada sob uma dualidade – mas uma dualidade regida por uma diferença descontínua. Os brancos são provenientes da transformação do mbi’i, a lagarta originária (ver mais adiante), e não são, portanto, descendentes diretos dos deuses, como os Guarani. Foi recorrente em praticamente todas as reuniões de que participei a fala dos mais velhos enfatizando uma descontinuidade entre os Guarani e os brancos, mesma descontinuidade que estes se reservam em relação ao seu Deus” (p. 68).

O livro faz referência a um filme no youtube, Guarani-MbYá: Bicicletas de Nhamderú. Procurei, está aqui:

2)- A Revista de Fotografia Zum traz muitas matérias sobre os povos indígenas e na de número 9 está “Os trabalhos e os dias”, matéria assinada por Eduardo Viveiros de Castro e Miguel Rio Branco. As fotografias são de Viveiros de Castro.

3)- Diários índios, de Darcy Ribeiro: Os Urubus Kaapor”(Companhia ds Letras). O livro traz diários de expedições do autor entre 1949 e 1951 às aldeias dos Urubus-Kaapr. O livro tem mais de 600 páginas. Gosto de diários. Não têm a formalidade ou o cuidado dos textos acadêmicos, aqueles escritos para serem estudados. Falam o que a gente precisa saber e compreender sem os filtros dos raciocínios elaborados.

Aqui está uma anotação:

“22/jan./50-Não tenho escrito nada esses dias. Ocupo meu tempo em remendar, para publicação, um material ofaié que trouxe e preparar a viagem. Foerthman está adoentado e ainda não pode partir, mas não demorará. Eu irei logo, também. A situação aqui é deplorável, há 32 doentes de cama com sarampo, gripe, terçol e outras atrapalhadas. Depois que chegamos já morreram cinco pessoas, o que é um recorde para tão pouco tempo e população tão pequena. Não temos remédios para ajudá-los e a Inspetoria só se lembrou de passar um telegrama me autorizando a tomar todas as medidas administrativas que julgar convenientes. Ora, bolas, dessas medidas a única boa seria demitir todos os funcionários do SPI no Pará, ele inclusive (p. 165).

4)- Por último, a biografia de José de Alencar escrita por Lira Neto:

O inimigo do rei, editora Globo. Li o romance Iracema na escola há muitos anos e nunca soube bem quem era Iracema, qual sua história. Depois li, ou ouvi, ou concluí, que Iracema era uma personagem muito romantizada e talvez inadequada a uma atmosfera de confronto cultural. Minha curiosidade por Jose de Alencar surgiu dessa primeira lembrança. Não li O guarani, a história de Peri e Ceci escrita em folhetim, 54 capítulos. Lira Neto conta que o folhetim virou mania:

“Os exemplares do Diário do Rio de Janeiro passaram a ser avidamente disputados, a circular de mão em mão. No meio da rua, de dia ou de noite, fosse à luz do sol ou dos lampiões da iluminação pública, o transeunte se deparava aqui e ali com aglomerados de pessoas, reunidas ao redor de algum assinante do Diário, que imediatamente era convocado a ler o eletrizante capítulo do dia. Nunca se assistira a tamanho fenômeno no Brasil. O guarani arrancava gritos de entusiasmo dos rapazes e suspiros dolentes das moçoilas”(p. 162).

Hoje, por coincidência,  El país publicou texto de Eliane Brum sobre O Guarani, de José de Alencar. Segue Eliane Brum:

“O indígena, habitante nativo que vivia na terra antes do domínio europeu, seria o herói genuinamente brasileiro da nação que se declara independente da metrópole. Mas com todas as qualidades atribuídas à cavalaria, na Idade Média, transplantadas para seu corpo e sua alma. A coragem, a lealdade, a generosidade, a partir de um ponto de vista que servia à manutenção do sistema feudal, e o amor cortês. Para escritores da época de José de Alencar e de Gonçalves Dias, que viviam o período pós-independência do Brasil, escrever era um ato de patriotismo. Eles teriam de dizer com sua obra o que é “ser brasileiro”. É também essa referência que o ideólogo do governo procura resgatar e enaltecer.

Os negros, corpos escravizados que moviam a economia do Brasil e serviam às suas elites, não estavam presentes como formadores de uma identidade nacional nestes romances de fundação. Se os escritores buscavam uma identidade nacional, ela era forjada dentro da matriz europeia. Como seria possível escrever em língua portuguesa, a do colonizador, sem ser colonizado na linguagem, foi uma questão crucial para a qual Alencar e outros também tentaram dar uma resposta no século 19. Mas este é um tema longo para outra conversa” (coluna de Eliane Brum em El país, 16 de janeiro de 2019).

5)- Revista Piauí de janeiro de 2019 – dois textos muito bons, que dialogam:

“Povos da megadiversidade: o que mudou na política indigenista no último meio século”- Manuela Carneiro da Cunha.

“Genocídio”- Norman Lewis

6)- Livros que examinam o aspecto jurídico.


Há muitos mais, mas por enquanto mostro esses dois, escritos por amigos meus que estudam há anos como o direito vê e como deve ver os povos indígenas:

Os direitos dos índios: fundamentalidade, paradoxos e colonialidades internas (Editora Café com Lei. Pode ser encontrado também em e-book, na plataforma da amazon).

-Direitos Territoriais indígenas: uma interpretação intercultural, de José Araújo Junior (Editora Processo)

7)- Também li Quarup, de Antonio Callado, A marcha para oeste, de Orlando e Cláudio Villas Bôas, e revi, recentemente, o filme de Hector Babenco, “Brincando nos campos do senhor”.

Compartilho com vocês essas fontes sem qualquer metodologia, são as fontes que encontro ao mergulhar em uma realidade nova para mim, mas não para o Brasil. Afinal, falo de povos originários, que aqui já estavam em 1500, e eram milhões, e diversos também.

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