Dez dias em Nova York. Hoje vou ao Blue Note assistir Joe Lovano. A cidade no verão é bem quente, mas não está tão quente. Fui ao Metropolitan, ao MoMa, ao New Museum, ao Whitney Museum. Queria ver as cenas do Edo de Hiroshige no Brooklyn Museum, mas não estão expostas. Muito de uma viagem é o que a gente quer ver e não consegue. As expectativas. Agora estou na loja NBC no Rockfeller Center. O imaginário de cada um. Quem se identifica com House, Simpsons, Dr. Who, fica horas. Não me identifico com ninguém. House até já acabou.
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Nova York
27 de julho de 2012Ainda sobre Nabokov e Humbert Humbert
15 de julho de 2012Dia 22 de junho escrevi sobre Lolita e Nabokov e hoje, inspirada pela leitura do jornal, volto ao assunto.
No Caderno 2 (O Estado de São Paulo), Luis Fernando Verissimo contou que deu uma entrevista à Radio Batuta, do Instituto Moreira Salles, na Flip, dizendo que seu personagem literário inesquecível é Humbert Humbert, de Lolita, Nabokov. Humbert Humbert é “uma figura monstruosa e fascinante”, ele disse.
Eu também acho. Humbert Humbert é um personagem totalmente verossímel, nós acreditamos nele. Seguimos seus pensamentos com extrema curiosidade e espanto: como ele pôde ir tão longe?
Ele (Humbert Humbert) escreve na prisão. É, paradoxalmente, e talvez por isso mesmo, livre para escrever o que quiser e como quiser. E ele até poderia ir mais longe. Ainda transcrevendo Verissimo, “os explicadores de Nabokov, com a mesma intensidade dos fundamentalistas, combatem a ideia de que Lolita seja pornográfico”.
Nabokov também foi livre para escrever Lolita e sabemos que ele e seu personagem não têm nada em comum. Como lembrou Veríssimo, ele nunca diria, “Humbert Humbert sou eu”.
A revista Serrote 11, do Instituto Moreira Salles, publicou ensaio “Nabokov & Machado”, de Brian Boyd. O ensaio, que vem acompanhado de lindas ilustrações de borboletas, desenhadas por Nabokov, é de uma profundidade intensa. Lerei e relerei para poder escrever sobre o texto que mostra pontos em comum entre dois grandes escritores: Machado de Assis e Nabokov. Por enquanto, hoje, fico com as lindas borboletas.
Segue link para o vídeo da Rádio Batuta: http://ims.uol.com.br/Radio/D1048
Flip 2012 – Qual é meu livro de cabeceira?
11 de julho de 2012Fui ao encerramento da Flip 2012 em Paraty no dia 8 de julho, domingo. Vi Hanif Kureishi e Gary Shteyngart no telão e assisti ainda ao último encontro em que convidados leram seus textos prediletos.
Hanif Kureishi é um dos meus escritores favoritos. Li “Tenho algo a te dizer” (Companhia das Letras) em uma fase importante da minha vida, achei avançado, um retrato dos personagens em que nos tornamos todos, de um jeito ou de outro.
Não conhecia Gary Shteyngart e quero ler um de seus livros, vou ainda decidir qual. Ele é sutilmente engraçado, me fez rir. Disse que importa escrever com honestidade. É o que procura transmitir a seus alunos. Fiquei me perguntando se escrevo com honestidade.
Hanif Kureishi também ensina e acha que pode ajudar os alunos a organizarem o material que têm. Pode dar dicas, ser um pouco editor. Falou de muitas coisas, mas que a escrita procurou resolver, para ele, uma questão de identidade. Havia uma pergunta vital: De onde você é? Isso foi dito no contexto de uma discussão sobre diferenças culturais. O tema da conversa, por sinal, era “Entre fronteiras”.
O último encontro da Flip, em que escritores leram escritores, foi memorável. Assisti ao vivo, sem intermediação da tela. Autores presentes, autores passados, leitores, ouvintes – muitos também escritores-, todos nos deslumbramos com récitas em diversas línguas.
Os convidados leram autores preferidos nas próprias línguas e não nas línguas em que escritos e foi maravilhoso. Digo para mim mesma que isso está certo, meu texto preferido é o texto que leio e li e não o texto como foi escrito. Pode até ser o texto não traduzido. Mas na maioria das vezes minha própria língua me mostra o escrito do outro e me mobiliza e emociona. Foi gostoso ouvir Lygia Fagundes Telles na voz de Zoé Valdez, em espanhol. No fim fiquei com a impressão de que tinha confundido línguas, leituras e leitores. Não estaríamos todos inseridos em uma mesma língua? Teríamos ouvido o mesmo texto?
Javier Cercas leu Cervantes e Juan Gabriel Vásquez leu Onetti. Onetti precisa ser lido com calma, digo eu. Não é uma leitura fácil, embora seja uma leitura linda. Na Colômbia se fala um espanhol claro, luminoso. Luis Fernando Verissimo leu Millôr em português, com a nossa cadência daqui, o nosso modo de pronunciar as palavras e cantar as frases.
Saí feliz de Paraty. Voltei para Ubatuba tarde, para a minha praia nublada e chuvosa. Que eu adoro.
Fiquei pensando no texto que diria em voz alta, se chamada fosse a tanto. Fiquei pensando no texto que recitaria para mim mesma, na minha sala de estar. Pensei nas Viagens de Gulliver. Aliás, Gulliver também estava em Paraty.