Flip 2012 – Qual é meu livro de cabeceira?

Fui ao encerramento da Flip 2012 em Paraty no dia 8 de julho, domingo. Vi  Hanif Kureishi e Gary  Shteyngart no telão e assisti ainda ao último encontro em que convidados  leram seus textos prediletos.

Hanif Kureishi é um dos meus escritores favoritos. Li  “Tenho algo a te dizer” (Companhia das Letras) em uma fase importante da minha vida, achei avançado,  um retrato dos personagens em que nos tornamos todos, de um jeito ou de outro.

Não conhecia Gary Shteyngart  e quero ler um de seus livros, vou ainda decidir qual. Ele é sutilmente engraçado, me fez rir. Disse que importa escrever com honestidade. É o que procura transmitir a seus alunos. Fiquei me perguntando se escrevo com honestidade.

Hanif Kureishi também ensina e acha que pode ajudar os alunos a organizarem o material que têm. Pode dar dicas, ser um pouco editor. Falou de muitas coisas, mas que a escrita procurou resolver, para ele, uma questão de identidade. Havia uma pergunta vital: De onde você é? Isso foi dito no contexto de uma discussão sobre diferenças culturais. O tema da conversa, por sinal, era “Entre fronteiras”.

O último encontro da Flip, em que escritores leram escritores, foi memorável. Assisti ao vivo, sem intermediação da tela.  Autores presentes, autores passados, leitores, ouvintes – muitos  também escritores-, todos nos deslumbramos com récitas em diversas línguas.

Os convidados  leram autores preferidos nas próprias línguas e não nas línguas em que escritos e foi maravilhoso. Digo para mim mesma que isso está certo, meu texto preferido é o texto que leio e  li e não o texto  como foi escrito. Pode até ser o texto não traduzido. Mas na maioria das vezes minha própria língua me mostra o escrito do outro e me mobiliza e emociona. Foi gostoso  ouvir  Lygia Fagundes Telles na voz de Zoé Valdez, em espanhol. No fim fiquei com a impressão de que tinha confundido línguas, leituras e leitores. Não estaríamos todos inseridos em uma mesma língua? Teríamos ouvido o mesmo texto?

Javier Cercas leu Cervantes e Juan Gabriel Vásquez  leu Onetti. Onetti precisa ser lido com calma, digo eu. Não é uma leitura fácil, embora seja uma leitura linda. Na Colômbia se fala um espanhol claro, luminoso. Luis Fernando Verissimo leu Millôr em português, com a nossa cadência daqui, o nosso modo de pronunciar as palavras e cantar as frases.

Saí feliz de Paraty. Voltei para Ubatuba tarde, para a minha praia nublada e chuvosa. Que eu adoro.

Fiquei pensando no texto  que diria em voz alta, se chamada fosse a tanto. Fiquei pensando no texto que recitaria para mim mesma, na minha sala de estar.  Pensei nas Viagens de Gulliver. Aliás,  Gulliver também estava em Paraty.

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