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Um pouco sobre “se o que eu vi”, de andré caramuru aubert

30 de agosto de 2019

Poesia é como música; não consigo explicar, tecer um discurso.

Registro aqui a de André Caramuru Aubert, cujo livro (Editora Patuá) tem esse nome lindo e a capa mais ainda: se o que eu vi.

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São 93 poemas.

Fotografei alguns:

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Há outros mais longos e igualmente bonitos no livro.

Já li, de André Caramuru Aubert, poeta, tradutor e autor de ficção, o romance Poesia Chinesa (Sesi-SP).

O personagem é professor e também se chama André. Ele ensina poesia chinesa e conhece muito a norte-americana. Acreditei no romance com sua aluna, Simone. E tem a Clara, da vida real.

A poesia está no livro todo, André (autor) conseguiu levar para a ficção. As aulas dele (agora falo do personagem) são muito boas e ele gosta de Bob Dylan e Charlie Haden.

Quase não falo de música, mas é porque gosto muito, e Bob Dylan está no grau máximo da minha predileção.

Charlie Haden também também é um dos preferidos.

https://youtu.be/3VkHjig6MSI

Quem nunca se sentiu sozinho no deserto extremo?

5 de setembro de 2012

Livros ardem. Davi acorda. Não tem ninguém. Só as coisas. Os DVDs, fogos de artifício, os lugares, existem. A Avenida Paulista existe.  As pessoas, não. Só as roupas ficaram. Mas ele nunca gostou das pessoas, mesmo. Com exceção de Vivian, eu acho.

Outros  sobreviveram, espalhados: um bebê, um prisioneiro político na China, uma passageira em um avião, uma maníaco-depressiva em Nova York, um pesquisador na Antártida.

E ele, Davi. Um homem comum. Sem qualidades.

Davi e os personagens de seus livros. Mas ele ainda pode ver as pessoas em DVD. E a certa altura, ele diz: “A verdade é que não existe arte quando há apenas uma pessoa no mundo. Sem interlocução não existe poesia. Todos os filmes que Davi assistiu, até mesmo as produções mais requintadas, dirigidas com maestria, perderam o poder de transfigurar. Kurosawa, Bergman, Wenders…” (p. 101).

Faz tempo eu penso sobre isso, sobre a existência da arte. Essa é só uma das indagações que o livro de Luiz Bras (http://luizbras.wordpress.com) , “Sozinho no deserto extremo”, publicado pela  Prumo, suscita. A gente lê o livro junto com as lembranças de Kafka, Canetti, Musil, Nietzsche. Nietzsche e o eterno retorno.

Uma das primeiras lembranças que eu tenho de meu pensamento era um exercício de imaginação que me dava aflição: e se nada existir, nem mesmo eu? Meu pensar surgiu a partir da ideia do nada. Para Davi, ainda sobrou ele mesmo. E a pergunta inversa é: será que ele existe, sem os outros?

Onde está o deserto extremo?

Deserto extremo?

O deserto é aqui.

( livros ardem)

Marçal Aquino no B_arco Centro Cultural

30 de junho de 2012

Marçal  Aquino

Hoje fui ao B_arco Centro Cultural, em São Paulo (www.obarco.com.br).

Marçal Aquino falou  para público que frequenta as oficinas literárias coordenadas por Marcelino Freire.

Gosto dos dois escritores. Marcelino entrevistou, Marçal contou.

Contou sobre suas experiências  como jornalista, repórter policial, depois como roteirista. Falou de Amparo, sua cidade, de seu pai, de cinema, de “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios” (Companhia das Letras), de como o título do romance foi bem recebido e eventualmente não tão bem recebido. A tradução para o alemão não segurou o título, por exemplo. Fiquei curiosa para saber como ficou o livro em alemão, vou pesquisar. Li  em português. A história de amor é palpitante e às vezes triste (ela é toda meio melancólica, não estou contando final do livro, de jeito nenhum, até que termina bem). Adorei a ironia do diálogo do texto com o texto do professor Schianberg (quem leu sabe, não vou falar para não tirar a graça). Gostei tanto do livro que não quis assistir ao filme de Beto Brant, mesmo sabendo que é ótimo. É que a escritura faz parte da história e não sei se o filme manteve a intimidade da narrativa em primeira pessoa.  Cauby é um grande personagem. Imagens mudam tudo.

Marçal disse que o escritor cria a partir da imaginação, da observação e da experiência.  Cada leitor lê de um jeito, recebe o livro de um jeito particular. Ao responder pergunta sobre seus autores prediletos, disse que são muitos.  Mas citou, especialmente, Graciliano Ramos.

Sempre que posso, assisto aos escritores, quando falam. Marçal Aquino pensa muito rápido, fala rápido.  Pensa e fala ao mesmo tempo, sempre criando e recriando. Do encontro, ficou, entre tantas impressões, a frase, “eu sou escritor”.

Daniel Kehlmann, Michel Laub e tirashi no Sushi Guen

17 de abril de 2011

Estava achando chato Fama, de Daniel Kehlmann. Parei, li Longe da Água, de Michel Laub (Companhia das Letras, 2004) e resolvi dar outra chance ao livro (Fama, D. Kehlmann).

O romance  lida com a possibilidade de transformação e de alteridade. Todo mundo pensa em ser outra pessoa, em mudar de personalidade, de corpo, de mente, de amigos, de família. O tema é super atual; na biologia, na psicologia, na psicanálise, estuda-se o tanto que o cérebro e sua química são importantes para a formação da consciência  (livro não fala em química, eu é que fiz a associação).

A literatura reflete sobre a separação entre corpo e mente, entre tempo e espaço, todo o tempo. O  escritor nada mais faz do que entrar em mundos diversos e leva o leitor com ele, para o mundo imaginário de cada um (não necessariamente o mesmo).

Gosto do Sushi Guen da  Brigadeiro Luis Antonio na hora do almoço. Sento no balcão, como um tirashi, leio um livro. O livro do dia era Longe da Água. Fiquei totalmente envolvida com o texto e com o tom da escritura, leve, mas denso. Duvidei um pouco do jeito como terminou, destoou um pouco da naturalidade do caminho inicial. Poderia ter terminado antes, ou terminado de outro jeito. Mesmo assim, o livro é muito bom.

Lendo pela metade

11 de abril de 2011

Sou fã da literatura alemã, de Thomas Mann a Ingo Schulze e Günter Grass, Peter Handke, e tudo o mais. E não conhecia Daniel Kehlmann, comprei por acaso Fama: um romance em  nove histórias, publicado pela Companhia das Letras recentemente. O livro é fino, 159 páginas. Estou impressionada com o estilo seco que mostra as cenas com realismo e permitindo, ao mesmo tempo, a fantasia. As nove histórias se entrelaçam, parece, mas só li as três primeiras: quero terminar logo. Li na orelha do livro que Daniel Kehlmann nasceu em 75 e a Companhia das Letras já publicou, dele, A medida do mundo, que vou comprar amanhã. Há uns vídeos dele na internet, ele tem energia, fala com força. Aliás, falando em vídeos de escritores falando sobre literatura, etc, vale ver os de Alan Pauls na internet. Ele não é só handsome, mas sério, compenetrado, analítico. Procurando na internet, encontrei entrevista dele em um programa jornalístico alemão, onde está link, também, para Günter Grass. Quem quiser ouvir alemão e espanhol em mesmo espaço e tempo, dito e traduzido, é só acessar: http://video.zeit.de/video/627200367001.

Bom, parei de escrever e voltei aqui, logo confessando que  deixei  o livro do Kehlmann. Comecei super bem intencionada, mas em uma das histórias, sobre a senhora  doente que  segue para a Suíça para morrer, fiquei confusa e quis parar. Tem uma técnica interessante na história, o escritor e narrador acaba tendo uma voz como responsável pelos acontecimentos, ele aparece do fundo do palco, abre a cortina e fala com a personagem; ela fala com ele, é o criador, afinal. Isso é divertido. Mas aí o rumo da trama muda e tudo fica um pouco desinteressante e eu parei de ler. Não gosto de parar de ler livros na metade, mas se não aguento continuar eu paro, eu leio porque gosto e não por obrigação. Li os três livros do Stieg Larsson da série Millennium, mas no terceiro pulei um monte de páginas e fui para o final. Fiquei sem paciência e quis ver como terminava. Achei que valeu, gostei muito dos livros, mas o terceiro é um pouco enrolado. Mas sobre o Kehlmann, sou uma leitora que se entedia com facilidade, não se influencie, o escritor é muito bom e o livro só tem 159 páginas.

 

 

Amós Oz

16 de julho de 2009

Houve uma época em que eu lia muito Amós Oz. É um escritor que me desconcerta, me sensibiliza tanto quanto Kenzaburo Oe. Mas faz tempo que não o leio e, tendo resolvido falar sobre meus livros, achei que deveria enfrentar o relato de Pantera no porão (Panter bamartef), de que tanto gostei há alguns anos. Li o livro e preciso consultá-lo outra vez para comentá-lo, porque aspectos objetivos da história me escapam. A sensação que o escrito me causou permanece íntegra, no entanto. Senti uma afinidade enorme com o narrador, Prófi, que teve uma conexão forte com um militar britânico em Jerusalém, antes da criação de Israel. Uma conexão forte pode ser aquela em que duas pessoas trocam conhecimentos, impressões e experiências em contexto de sinceridade. O relacionamento entre os dois não era bem compreendido na época em que se lutava para que a Grã-Bretanha deixasse Israel e o país ficasse independente e reconhecido perante a comunidade internacional. E Prófi foi chamado de traidor. E explicou que nunca sequer disse seu nome ao inglês: ”A única coisa que fiz foi ler a Bíblia com ele em hebraico e lhe ensinar algumas palavras modernas que não estão na Bíblia, e em troca ele me ajudou a aprender os rudimentos do inglês” (Companhia das Letras, 1999, p. 35). E então o livro trata da influência que o coletivo exerce sobre as pessoas, principalmente em épocas de silêncios e opressões. E o livro trata da linguagem, dos conceitos, e de livros. E trata da amizade e dos costumes rotineiros que todos nós temos, decorrentes do temperamento que nos leva, irremediavelmente, a ser aquilo que já poderia ter sido previsto, ou que era esperado. E pensei que o livro suscita as perguntas: O que faz com que um escritor torne-se, realmente, um escritor? O que o impulsiona a contar a história? Amós Oz enfrentaria o assunto da criação da história depois, em Rimas da vida e da morte, também publicado pela Companhia das Letras.

Roland Barthes

13 de julho de 2009

A preparação do romance I e II, publicado pela Martins Fontes em 2005, reproduz cursos e seminários de Roland Barthes no Collège de France entre 1978 e 1980. A tradução é de Leyla Perrone-Moisés. O texto cativa porque informal, na linguagem oral, da aula, ou ainda na linguagem das notas preparatórias de uma aula. Barthes fala primeiro do querer escrever. Proust e Em busca do tempo perdido falam do desejo  de escrever. Refletindo sobre como se passa das notas ao romance propriamente dito, Barthes introduz, nas conversas, o haicai. O haicai é ato mínimo de enunciação e encanta ao não permitir análise alguma do que diz. Há um desejo de haicai. Entre um haicai e a narrativa existe uma forma intermediária:  a cena. E ele trata das formas breves, da frase, das anotações, para chegar ao romance, que mistura a verdade das anotações ao falso do imaginário. Para conseguir escrever um romance é preciso conseguir mentir, misturar o verdadeiro com o falso. O volume II disseca o ato de escrever e o ato de ler, indagando se é possível, enquanto se escreve, ler, também. Ler o livro de Roland Barthes é mergulhar na escrita (por meio de falas em aulas), procurando desvendar os mistérios da compulsão por escrever, a localização do assunto, o modo como ele  toma conta do escritos. Barthes usa Proust durante quase todo o tempo e o livro, nesta edição, termina com anotações para seminário sobre “Proust e a fotografia”, em que são analisadas fotografis de pessoas que inspiraram os personagens de Em busca do tempo perdido.