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Retrospectiva pessoal e literária ou “A vida secreta de Walter Mitty”, último filme de Ben Stiller

28 de dezembro de 2013

Estava aqui pensando que poderia escrever o último post de 2013. Escreveria sobre tantas coisas e, se resolvesse escrever sobre tudo o que vem à cabeça, terminaria um livro. E livro não posso escrever aqui. Então vou escrever sínteses, algumas listas, algo assim, sem ordem cronológica ou qualquer outra. Nem tudo esse ano esteve voltado à literatura. Houve fatos e incidentes. Foi um ano forte. Conto só a parte literária. Aliás, esse post meio que sintetiza outros, com exceção de algumas anotações.
1)- Publiquei “Viagem sentimental ao Japão” (Apicuri, 2013). Anette, a personagem, tem vida que vai muito além da minha, e isso foi bom de perceber. A Livraria da Vila da Fradique ficou lotada de amigos queridos, fiquei super contente com cada um, me lembro de todo mundo que estava lá. A Editora Apicuri fez um trabalho maravilhoso, agradeço Jozias e Rosangela por tudo.

2)- Participei do Grupo Literário Martelinho de Ouro. Publicamos um livro juntas, de contos, “Achados e perdidos” (RDG, 2013, coord. Regina Junqueira). Escrevi três contos para o livro.
3)- Participei de algumas reuniões do Grupo de Crítica Jardim Alheio na Livraria Martins Fontes.
4)- Coordenei grupos de leitura no Pauliceia Literária. Muito legal.
5)- Participei da pré Balada Literária organizada por Marcelino Freire no B_arco. Falei sobre meu romance. Foi ótimo.
6)- Mergulhei na leitura digital. Tenho um Kobo e adoro. Minha leitura ficou mais rápida e mais volátil. Agora ando com muitos livros e posso escolher o que ler e em que língua. Às vezes leio o mesmo livro em português e em inglês, para sentir as diferenças e quebrar monotonia (ler é gostoso e necessário e importante, mas às vezes cansa). Chego à conclusão de que temos ótimos tradutores.
7)-Tenho muitos contos escritos e terminados e concluídos e estou pensando em publicá-los só em formato digital.
8)- Fiz cursos com John Vorhaus no B_arco que valeram muito a pena. Quero saber mais sobre escrita de comédia. Não é na Seleções que está que “rir é o melhor remédio?”. Fui leitora assídua da Seleções, minha avó colecionava e até hoje sou discípula de minha avó, Ieta Bajer.
9)- Aprendo muito com minha querida professora de espanhol, Mónica. Lemos juntas contos de Cortázar, Benedetti.
10)- Fui a Itacaré, Londres, Rio dw Janeiro, Paraty e Ubatuba Sempre Ubatuba.
11)- Fomos à inauguração de uma praça, em Santos, que tem o nome de minha mãe, Ana Maria Babette.
12)- Estou quase terminando meu segundo romance. Falta pouco. Ainda não descobri quem matou Chef Lidu. Tinha encontrado o assassino, mas mudei de ideia. Ou a ideia mudou sozinha, não sei bem. É um romance policial.
13)- Gostei do último filme de Ben Stiller, “A vida secreta de Walter Mitty”. Vou ver de novo. O tema do filme, como diria John Vorhaus, poderia ser “siga seu sonho”, ou “faça o que tem a fazer”, ou “seja você mesmo”. E na vida também é assim.
14)-Tomara que tudo se realize no ano que vai nascer.

Grupo de Leitura na Pauliceia Literaria: Diário da queda

28 de julho de 2013

Amanhã vou coordenar grupo de leitura na Pauliceia Literária, na Associação dos Advogados de São Paulo (www.pauliceialiteraria.com.br). O livro é Diário da queda, de Michel Laub (Companhia das Letras, 2011).
Antes de falar sobre o livro, é importante falar sobre o autor. Nada melhor que transcrever a apresentação que está em seu blog (michellaub.wordpress.com):
“Michel Laub nasceu em Porto Alegre, em 1973. Escritor e jornalista, foi editor-chefe da revista Bravo e coordenador de publicações e internet do Instituto Moreira Salles. Hoje é colunista da Folha de S.Paulo e da revista Vip, além de colaborar com diversas editoras e veículos. Publicou cinco romances, todos pela Companhia das Letras: Música Anterior (2001), Longe da água (2004, lançado também na Argentina), O segundo tempo (2006), O gato diz adeus (2009) e Diário da queda (2011), que teve os direitos vendidos para onze países e virará filme. Seu novo romance, A maçã envenenada, sairá em agosto de 2013. Recebeu os prêmios Bienal de Brasília (2012), Bravo Prime (2011) e Erico Verissimo (2001) e foi finalista dos prêmios Portugal Telecom (2005, 2007 e 2012), Zaffari&Bourbon (2005 e 2012), Jabuti (2007) e São Paulo de Literatura (2012). Também tem contos publicados em antologias no Brasil e no exterior. É um dos integrantes da edição Os melhores jovens escritores brasileiros, da revista inglesa Granta”.
 A leitura de Diário da queda suscita muitas reflexões e especifico, aqui, alguns pontos para debate:
1)- Crimes contra a humanidade (antissemitismo, banalidade do mal, Hannah Arendt, genocídio, Tribunal Internacional). Primo Levi: É isto um homem?;
2)- Discriminação;
3)- Adolescência. Construção da identidade;
4)- A festa de 13 anos de João, em que os convidados não o seguram depois de o lançarem ao ar na 13ª vez;
5)- Culpa individual pela queda de João, culpa coletiva. Confronto com a ideia de culpa que está também no livro Longe da água, de Michel Laub;
6)- Silêncio dos que sofreram presos nos campos de concentração e sobreviveram (memória);
7)- Identidade judaica. Identidade. Pertencimento.
8)- Pai com Alzheimer. Examinar junto com o filme argentino O filho da noiva, em que a mãe tem Alzheimer;
9)- A memória que se esvai com Alzheimer, o desejo de lembrar.
10)- Registros escritos do avô. Escrevia verbetes anódinos. O diário do pai, o diário do narrador. O diário para organizar, o diário da revolta, o diário da redenção, discurso ao filho;
11)- Estilo literário. Relação de causa e efeito entre os fatos da vida. Movimentos circulares no enredo e na construção dos parágrafos;
12)- Refletir sobre autobiografia, autoficção, ficção (J.M.Coetzee).
Textos também consultados:
-“O gosto de areia na boca- sobre Diário da queda”, de Michel Laub, por Stefania Chiarelli, em O futuro pelo retrovisor: Inquietudes da literatura brasileira contemporânea (organizado por Stefania Chiarelli, Giovanna Dealtry e Paloma Vidal, Rio de Janeiro, Rocco, 2013, p. 17-32).
-A arte de ler, ou como resistir à adversidade , Michèle Petit ( São Paulo, Editora 34, 2009).
-Autores e ideias, Mona Dorf (São Paulo, Saraiva, 2010, p. 191-196);
-Origens do totalitarismo, Hannah Arendt (São Paulo, Companhia das Letras, 1989).
-Entre nós: um escritor e seus colegas falam de trabalho, de Philip Roth ( Roth entrevista Primo Levi – São Paulo, Companhia das Letras, 2008, p. 9-26)
Biblioteca vertical, blog de Guilherme Sobota: http://bibliotecavertical.blogspot.com.br/2013/04/e-isto-um-homem-primo-levi.html
Em um grupo de leitura, tudo pode acontecer. Pode haver participantes que leram o livro diversas vezes, outros que leram uma só vez, os que leram mais ou menos, os que leram resenhas, os que não leram trecho algum, só ouviram falar, os que leram outros livros do autor, mas não o livro em questão.
A presença de todos é importante, assim como as contribuições, inclusive os silêncios. O diálogo sobre o livro, o diálogo com o próprio livro, o momento em que os interessados, reunidos, ouvem e falam e silenciam sobre os os temas da vida às quais o texto remete, são, sempre, memoráveis.
Gosto de participar de grupos de leitura.

Romance policial (3): Grupo de leitura na Pauliceia Literária – Em defesa de Jacob, de William Landay (Record)

11 de junho de 2013

Capa Em Defesa de Jacob V3 RB.ai

Em setembro acontece, em São Paulo, a Pauliceia Literária 2013 (www.pauliceialiteraria.com.br), realização da Associação dos Advogados de São Paulo com curadoria de Christina Baum.

A programação inclui prévios grupos de leitura sobre livros de escritores que participarão de mesas e debates. Estive na AASP ontem para o primeiro grupo de leitura.

Discutimos Em defesa de Jacob, do norte-americano William Landay (http://www.williamlanday.com).

A Pauliceia Literária é realização de importante associação de advogados e é natural que, no contexto, sejam debatidos romances policiais de diversos estilos. E a conversa em torno dessa literatura interessante e especial proporciona, evidentemente, reflexão sobre sistemas jurídicos de punição.

Há várias razões para se ler um bom romance policial. Renato Mezan, em artigo publicado na coletânea Escritas do desejo: crítica literária e psicanálise, “Por que lemos romances policiais?” (Ateliê Editorial, p. 127-158), discorre longamente sobre o assunto.

O prazer de ler o romance policial está na curiosidade, na participação do leitor em um jogo que transforma o crime em problema intelectual cuja resolução lida com medo e angústia sublimados na investigação.

Renato Mezan relata conclusões da psicanalista francesa Sophie de Mijolla-Mellor relacionadas ao estudo da obra de Agatha Christie: quem gosta do gênero sabe que a história é de ficção, mas ainda assim a leitura mexe com dúvidas latentes sobre sexo, vida e morte. Ele escreve: “Talvez resida aí o apelo mais forte do gênero: por meio do que propõe em cena, ele mobiliza elementos psíquicos há muito esquecidos, mas que nem por isso perderam sua eficácia dinâmica- e a arte do escritor nos permite desfrutar deles sem risco nem culpa” (p. 158).

Ontem, no grupo de leitura, muitos temas vieram à tona: relação entre pai e filho, entre marido e mulher, dinâmica familiar, relação entre autoridade que investiga e colegas de trabalho, entre autoridades e advogados, sistemas de punição brasileiro e norte-americano, importância da defesa no processo penal, comunicação em redes sociais, adolescência, bullying.

Tudo isso está no livro e foi debatido pelo grupo formado por coordenador competente – Leonardo Sica – e leitores sensíveis e atentos.

Há alguns anos atrás, advogados e agentes políticos da persecução penal falavam muito pouco com a sociedade. Quando o faziam, usavam conceitos técnicos complexos e nem sempre bem compreendidos. Hoje, a situação é bem diferente. As pessoas querem saber como são feitas as investigações e os julgamentos e querem dar sua opinião.

Ao realizar a Pauliceia Literária, a AASP integra literatura e direito, mundos diferentes, mas focados, ambos, na difícil arte de conviver.