Quem nunca se sentiu sozinho no deserto extremo?

Livros ardem. Davi acorda. Não tem ninguém. Só as coisas. Os DVDs, fogos de artifício, os lugares, existem. A Avenida Paulista existe.  As pessoas, não. Só as roupas ficaram. Mas ele nunca gostou das pessoas, mesmo. Com exceção de Vivian, eu acho.

Outros  sobreviveram, espalhados: um bebê, um prisioneiro político na China, uma passageira em um avião, uma maníaco-depressiva em Nova York, um pesquisador na Antártida.

E ele, Davi. Um homem comum. Sem qualidades.

Davi e os personagens de seus livros. Mas ele ainda pode ver as pessoas em DVD. E a certa altura, ele diz: “A verdade é que não existe arte quando há apenas uma pessoa no mundo. Sem interlocução não existe poesia. Todos os filmes que Davi assistiu, até mesmo as produções mais requintadas, dirigidas com maestria, perderam o poder de transfigurar. Kurosawa, Bergman, Wenders…” (p. 101).

Faz tempo eu penso sobre isso, sobre a existência da arte. Essa é só uma das indagações que o livro de Luiz Bras (http://luizbras.wordpress.com) , “Sozinho no deserto extremo”, publicado pela  Prumo, suscita. A gente lê o livro junto com as lembranças de Kafka, Canetti, Musil, Nietzsche. Nietzsche e o eterno retorno.

Uma das primeiras lembranças que eu tenho de meu pensamento era um exercício de imaginação que me dava aflição: e se nada existir, nem mesmo eu? Meu pensar surgiu a partir da ideia do nada. Para Davi, ainda sobrou ele mesmo. E a pergunta inversa é: será que ele existe, sem os outros?

Onde está o deserto extremo?

Deserto extremo?

O deserto é aqui.

( livros ardem)

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