Amós Oz

Houve uma época em que eu lia muito Amós Oz. É um escritor que me desconcerta, me sensibiliza tanto quanto Kenzaburo Oe. Mas faz tempo que não o leio e, tendo resolvido falar sobre meus livros, achei que deveria enfrentar o relato de Pantera no porão (Panter bamartef), de que tanto gostei há alguns anos. Li o livro e preciso consultá-lo outra vez para comentá-lo, porque aspectos objetivos da história me escapam. A sensação que o escrito me causou permanece íntegra, no entanto. Senti uma afinidade enorme com o narrador, Prófi, que teve uma conexão forte com um militar britânico em Jerusalém, antes da criação de Israel. Uma conexão forte pode ser aquela em que duas pessoas trocam conhecimentos, impressões e experiências em contexto de sinceridade. O relacionamento entre os dois não era bem compreendido na época em que se lutava para que a Grã-Bretanha deixasse Israel e o país ficasse independente e reconhecido perante a comunidade internacional. E Prófi foi chamado de traidor. E explicou que nunca sequer disse seu nome ao inglês: ”A única coisa que fiz foi ler a Bíblia com ele em hebraico e lhe ensinar algumas palavras modernas que não estão na Bíblia, e em troca ele me ajudou a aprender os rudimentos do inglês” (Companhia das Letras, 1999, p. 35). E então o livro trata da influência que o coletivo exerce sobre as pessoas, principalmente em épocas de silêncios e opressões. E o livro trata da linguagem, dos conceitos, e de livros. E trata da amizade e dos costumes rotineiros que todos nós temos, decorrentes do temperamento que nos leva, irremediavelmente, a ser aquilo que já poderia ter sido previsto, ou que era esperado. E pensei que o livro suscita as perguntas: O que faz com que um escritor torne-se, realmente, um escritor? O que o impulsiona a contar a história? Amós Oz enfrentaria o assunto da criação da história depois, em Rimas da vida e da morte, também publicado pela Companhia das Letras.

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