A Pauliceia Literária realizada pela AASP (Associação dos Advogados de São Paulo) começou com êxito.
Na abertura, Manuel da Costa Pinto discorreu, de maneira muito articulada e inteligente, sobre a literatura de Patrícia Melo, a escritora em foco do festival.
Depois, Patrícia subiu ao palco. Falou bem. Disse que não pode ser considerada, até o momento, escritora de romances policiais. Escreve sobre crimes, paixões humanas, mas isso não significa, tecnicamente, que sua literatura seja policial. Seu próximo romance, porém, será.
Hoje, em O Estado de São Paulo, Raphael Montes, autor de Suicidas, romance muito comentado, diz: “Tento explorar o que me parece o futuro do romance policial: histórias mais ágeis, sem o detetive como personagem principal” ( Caderno 2, C3).
Os temas debatidos na Pauliceia Literária giram – não só – em torno da literatura que discute crime e justiça.
Leio romances policiais, especialmente Agatha Christie, Patricia Cornwell, Lawrence Block e Raymond Chandler. Chandler é meu preferido. Neles, os investigadores são céticos e ambíguos.
Os personagens me conduzem ao fim do livro. A solução do mistério não importa tanto. Se bem que, em Agatha Christie, a solução é importante, porque quase sempre inusitada. Mas, nos outros, quero saber como Marlowe, Bernard Rhodenbarr, Scudder e Scarpetta, terminarão. Torço por eles, assim como torço por mim.
Estou escrevendo um romance policial em que dois personagens pesquisam um homicídio.
Dr. Magreza e Elvis, escrivão inexperiente que o auxilia e acompanha, têm uma relação de subordinação hierárquica irreverente.
O morto é Chef Lidu, dono de restaurante envolvido em tramas amorosas e alimentares. Ele também é um personagem interessante, embora póstumo.
Mudando um pouco de assunto, mas ainda no assunto, li “O aluno relapso – Afastem-se das hélices”, que a Editora Apicuri publicou recentemente, de Lêdo Ivo.
O livro reedita, com importante acréscimo (Afastem-se das hélices), livro publicado em 1991 por Nemar e Massao Ohno.
Em uma parte, Lêdo Ivo fala: “A função da literatura não é a de refletir a realidade, sim a de criar uma realidade que só a linguagem tem condições de produzir. A literatura é a realidade da linguagem, e não a realidade da vida, que se exprime através de uma des-linguagem”. (p. 35).
Está no livro, ainda, breve poema:
Mistério policial
A chave do enigma
Não decifra nada.
Abre para a porta
Sem ferrolho e chave.
Leva ao labirinto
Desenhado na água.
Escrevo tudo isso para dizer que, na literatura policial, é esse labirinto desenhado na água que me chama. Além dos detetives: insisto neles. Eles têm aquela chave que não decifra nada e sabem disso.
A vida de verdade é outra história. A vida de verdade está no campo da des-linguagem, como disse Lêdo Ivo (ou das hélices, penso eu).
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