As imagens do mesmo rosto estão lá, na parede vermelha (depois de escrever olhei as fotografias e percebi que a parede é azul) .
Primeiro tive a impressão de que eram todas iguais, a mesma imagem da mesma moça (Santa Fabíola).
E fui ler as explicações.
Descobri que as imagens correspondiam a retratos pintados por pessoas diferentes de uma mesma pintura, que se perdeu.
E o artista que concebeu a exposição (Francis Alÿs) recolheu essas imagens em lugares diferentes. E formou a coleção, que agora está na Pinacoteca, em São Paulo, e lá ficará até 7 de julho.
Fiquei um tempo na sala observando as muitas diferenças. Em um primeiro olhar, pareciam iguais. Depois, percebi que eram muito desiguais. Porém, cada pintor acreditou estar fazendo uma cópia, talvez até uma cópia fiel. A sua versão.
Ou, ainda, desenhou de memória.
Ou, ainda, quis representar.
Sua memória provavelmente trabalhou como a minha quando imaginei a parede vermelha da sala da exposição. Que era azul.
A grande questão é que a imagem original de Fabíola desapareceu. Perdeu-se a matriz. O parâmetro. E, assim, cada imagem ficou outra. Ainda assim, todas muito semelhantes.
Está escrito, na explicação na Pinacoteca, que o artista discute, também, autoria e originalidade. Eu, sinceramente, não sei se é só isso. Ele deve discutir, também, homogeneidade. A mesma devoção pela mesma santa. Devoções distintas.
Em um dos retratos, quase se podem ver os olhos do pintor refletindo a beleza.
É comum ouvirmos dizer que as ideias efetivamente originais, na verdade, são poucas. Nossas ideias são transformações de fragmentos de outras e, assim, tornamo-nos contemporâneos, eu acho.
Contemporâneos autênticos.
Se eu me fechasse por meses no quarto, sem assistir TV, ler jornal, ler facebook e internet em geral,
sem ler romance ou livro algum, acabaria escrevendo outro tipo de texto. Ou, quem sabe, eu não escrevesse de jeito nenhum.
Se tivesse uma caneta e cadernos, desenharia casinhas e árvores com maçãs, minhas primeiras expressões.
Diversas casas com jardins, caminhos até a porta de entrada, e muitas macieiras, infinitas macieiras.
E eu que não sei desenhar.
Tags: Francis Alÿs, Pinacoteca, Santa Fabíola
24 de junho de 2013 às 15:43 |
Muito interessante.
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