Em “A turma de 42”, Luiz Antônio Giron, no Mente aberta, blogue da Revista Época, conta que, em 2013, obras de Robert Musil, Bruni Schulz, Roberto Arlt e Stefan Zweig entraram em domínio público, significando isso que podem ser publicadas sem correspondente pagamento de direitos autorais (http://colunas.revistaepoca.globo.com/menteaberta/2013/02/15/a-turma-de-1942).
Andando muito pela internet, vejo como é importante encontrar textos que podem ser lidos, baixados, sem medo de ferir direitos. Estão lá para serem lidos, conhecidos, comentados, desfrutados, e só.
Agora tenho, em leitor digital, a obra completa de Machado de Assis. Baixei em segundos e paguei valor praticamente simbólico. Leio Machado de Assis em minhas edições impressas, digitais e em blogues na internet. É muito legal colocar o nome de Machado no google e, aleatoriamente, encontrar um conto pra ler, qualquer conto, a qualquer momento. Tenho uma dúvida sobre um conto de Machado e resolvo no mesmo instante.
A forma de ler interfere na interpretação do texto. Ler Uns braços na internet e ler Uns braços em casa, no sofá, em livro, são experiências totalmente diferentes. Comparo Uns braços com a Missa do galo na tela do computador e penso que D. Severina e D. Conceição são sutilmente parecidas e diferentes. Como estou na internet, vou de um conto ao outro e penso que Machado nunca, mas nunca mesmo (será?) imaginou ser lido desse jeito tão volátil, inconstante e ao mesmo permanente que é o jeito digital.
O texto vira imagem, compreendo visualmente o que ele diz. Um texto dialoga com outro e não mais, apenas, com o único leitor. A comunicação é ampliada. A nova leitura participa da escrita de tal forma que é como se cada leitor reescrevesse o texto. Na interpretação, o leitor é, também, autor. Pode lê-lo como quiser e não precisa, nem mesmo, seguir sua sequência. Lê ao mesmo tempo o fim e o começo e para quando acha melhor. Não que um livro não possa ser lido do fim para o começo. Pode, mas a leitura assim é meio fora dos padrões. Na internet, dificilmente se lê algo inteiro do começo ao fim. O normal é flanar, combinar diferentes informações.
Julio Cortázar, em O jogo da Amarelinha, já fez isso. Escreveu capítulos que podem ser lidos em outra ordem, não na sequência em que publicados. Dois livros diferentes em um livro: um progride com o virar das páginas e outro em ordem diversa. Nunca li o segundo livro. O primeiro me surpreendeu do começo ao fim. Ainda é o livro que me deu vontade de escrever de verdade.
Tags: domínio público, internet, Julio Cortázar, leitor digital, leitura digital, Luiz Antônio Giron, Machado de Assis, Missa do galo, O jogo da Amarelinha, Uns braços
Deixe um comentário