Laura. Não sei por que, me lembro de contas de cristal quando falo Laura em pensamento.
O original de Laura, de Nabokov, é isso mesmo, o livro original, aquele que Nabokov escrevia quando morreu. E o filho Dmitri publicou da maneira mais honesta possível: publicou o original, as fichas manuscritas.
As fichas estão em inglês. Traduzidas para o português na página ao lado.
Incrível alguém escrever em fichas. Antigamente fichas eram guardadas em arquivos resistentes. Era fácil encontrar os apontamentos, geralmente os assuntos estavam organizados em ordem alfabética. Hoje guardamos tudo em computadores, hds, nas diversas nuvens. E se um dia a internet sumir?
Sempre tenho curiosidade de saber o que pensam os escritores e como alcançam a liberdade necessária para escrever. Os originais de Nabokov mostram essa liberdade quase plena. Não é plena porque a escrita aprisiona sempre, mesmo que um pouco. A escrita limita. E, mesmo assim, Nabokov é livre ao rabiscar, ao narrar o que a imaginação e a fantasia apresentam. Hubert H. Hubert aparece no original de Laura.
As últimas palavras anotadas são: anular, expungir, apagar, deletar, remover, eliminar, obliterar.
O processo da escrita está nas fichas. Ele não deu acabamento. E o texto não terminado, inconcluso, interrompido, ficou, finalmente, pronto. Talvez, neste caso, tenha ficado melhor do que se tivesse sido editado pelo próprio autor.
As fichas de Nabokov são quase poemas. São como as epifanias de Joyce, lançadas há pouco pela Iluminuras. Na verdade, são mais bonitas que as epifanias de Joyce, se é possível uma comparação assim.
Vale ler, além do livro, matéria da revista Bravo: http://bravonline.abril.com.br/materia/original-laura-vladimir-nabokov
Tags: Nabokov, O original de Laura
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