As editoras Apicuri e Oito e meio acabam de lançar Carnebruta, de Rodrigo Novaes de Almeida. A capa é cor-de-rosa, mas o livro, de rosa, não tem nada.
Logo no início, está epígrafe de Milan Kundera: “sexo é violação”. Depois, na página seguinte, vem a dedicatória: “para Chris, com amor”.
E o livro é todo assim, a rosa misturada com dor e amor.
Começa com valete-de-espadas e termina com valete-de-espadas. Valete-de-espadas é o avatar, Joaquim Proença de Rara-Sana. Eu me identifico com a ideia do avatar. Depois, quase no fim do livro, Joaquim Proença de Rara-Santa aparece de novo. Aí, dá pra ficar sabendo mais.
Gostei muito do “Carnebruta”, que está nas páginas 38 e 39. Adorei esse conto. A linguagem, o [VOCÊ] aparecendo várias vezes, o conto na primeira pessoa do plural, é curto e leio várias vezes. Fico com a frase: “[VOCÊ] fuma um Marlboro vermelho na varanda da sala”.
“Adeus ao paraíso” remeteu-me às cidades invisíveis de Ítalo Calvino e aos lugares imaginários descritos por Alberto Manguel. Também pensei nas viagens de Gulliver. Nesse conto, as mulheres reinam. Sereias de Ulisses.
Mesmo nos contos mais violentos as mulheres prevalecem: as fantasias masculinas.
“Queima de arquivo” é muito bom, lida com o escrever do próprio conto, mostra a importância dos textos ocultos: “O leitor precisa ser informado, antes de prosseguirmos, de que a tal questão delicada não será esclarecida no decorrer desta história” (p. 57). Na vida real, também não se sabe tudo. Raramente as questões delicadas são esclarecidas.
Vale notar, por último, a edição caprichada. As ilustrações de Julia Debasse são bem bonitas e a diagramação deixa o texto aparecer.
Gostei. Gostei e vou ler outras vezes porque a cada leitura percebo o inusitado.
Rodrigo Novaes de Almeida estará na Primavera dos Livros, em São Paulo, em mesa do dia 24, sobre “Conflitos humanos e conflitos literários”. Integram a mesa, também, Juliano Garcia e Marcelo Mirisola. A programação está aqui:
http://libre.org.br/noticias.asp?ID=359
Tags: Apicuri, Carnebruta, Primavera dos livros, Rodrigo Novaes
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