“Geração 90: manuscritos de computador” (Boitempo, 2001), organizado por Nelson de Oliveira, é um clássico – ou uma referência. Traz contos de autores destacados em fase da literatura brasileira – e universal- que compreende o tempo da tecnologia e da informação (e da TV).
Nelson de Oliveira reuniu contos de Marçal Aquino, Amilcar Bettega Barbosa, Fernando Bonassi, João Carrascoza, Sérgio Fantini, Rubens Figueiredo, Marcelino Freire, Altair Martins, João Batista Melo, Marcelo Mirisola, Cíntia Moscovich, Jorge Pieiro, Mauro Pinheiro, Carlos Ribeiro, Luiz Ruffato, Pedro Salgueiro, Cadão Volpato.
Ele mesmo, organizador do livro e da ideia que o particulariza, não se incluiu entre os autores.
Se, naquela época, o organizador do livro era Nelson de Oliveira, agora ele é também Luiz Bras, autor de “Sozinho no deserto extremo” (Prumo, 2012) e de “Máquina Macunaíma” (Edição do Autor, 2013), entre outros muitos livros.
A apresentação que Luiz Bras escreveu em 2001 para “Geração 90: manuscritos de computador” tem título que não poderia ser mais profético: “Contistas do fim do mundo”.
Hoje, ele publica “Máquina Macunaíma”, livro de contos com tiragem de cinqüenta exemplares (com trema, mesmo, porque os textos estão revisados parcialmente segundo o novo acordo ortográfico e essa advertência é feita logo no início, com dois vivas: ao trema e ao acento agudo no pára).
Máquina Macunaíma traz os contos do fim do mundo de Luiz Bras.
A edição do autor é super bem acabada, a capa é verde e amarela e cheia de símbolos gráficos, matemáticos, científicos (capa de Teo Adorno e Teresa Yamashita).
Os contos falam, ficcionando, de máscaras sociais, superglobalização, cidades sencientes, fanatismo religioso, distúrbios urbanos, conflitos conjugais, cyberpunk, mergulhos subjetivos, engenharia genética, indústria cultural, ciborgues, inteligência artificial, psicopatas e sociopatas, implantes neurológicos, viagens no tempo, países imaginários, steampunk, guerra dos sexos, física quântica, aliens e tudo o mais que você possa imaginar.
Luiz Bras, com o novo livro, que ele mesmo editou, como quis, segundo suas próprias regras, caminhou para além da visão e da razão e afastou – pelo menos aqui e agora – as possibilidades da impressão em massa. A tecnologia foi usada para alcançar a edição precisa e exata.
Os contos são: Virtuais, Heidegger não voltará jamais, Onde vivem os monstros, Impostor?, Mecanismos precários, O índio no abismo do eu, Coisas que a gente não vê todo dia, Humana, demasiado humana, Distrito Federal, Os olhos do gato, Galáxias, Primeiro de Abril: Corpus Christi.
Algumas frases são geniais:
“Onde estará o desintegrador de almas? Com quem estará?” (Heidegger não voltará jamais).
Tem outro parágrafo que eu acho muito bom: “O idioma falado também não importa muito. Mesmo se ela for japonesa, indiana, queniana, alemã ou argentina e mesmo se ele for australiano, chinês, egípcio, francês ou mexicano, para o propósito desta narrativa os dois falarão português” (Mecanismos precários).
A frase diz algo que eu li assim (a leitura é sempre muito pessoal): as línguas importam muito pouco, cada vez mais entramos em um mesmo discurso. É claro que sempre haverá as diferenças todas, mas há um plano com mesmos códigos: a internet.
No mesmo conto, os personagens surpreendem-se personagens. Ela pergunta: “Você planeja nos matar?” A resposta: “Infelizmente sim. Porém farei de um jeito que todos pensam que foram vocês que se mataram. Como eu disse, movidos pelo ciúme e pelo rancor. É mais interessante assim” (Mecanismos precários).
O conto que eu mais gosto é o último: “Primeiro de Abril: Corpus Christi”.
Nele está: “Esmiucei as últimas horas de vida de meus mortos prediletos: encarnei a Mulher-Maravilha, o gato de Botas, o Chapeleiro Louco, o Homem de Lata, todos eles. recuperei suas inquietações, suas dúvidas. Seu desespero. Suas palavras derradeiras. Morreram em combate.”
E continua. Não vou contar o fim. É literatura.
E ainda há um parênteses que tudo subverte:
(Também dizem que o Homem de Lata nunca foi encontrado).
Tags: ficção científica, geração 90, Luiz Bras, manuscritos de computador, Máquina Macunaíma, Nelson de Oliveira
12 de julho de 2013 às 19:23 |
Fiquei interessada em ler. Legal.
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20 de dezembro de 2014 às 11:48 |
Eu procurei. A edição parece que está esgotada, mas espero que o Luiz Bras lance logo uma nova.
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