Aaron Swartz, americano dedicado à tecnologia da comunicação por computadores, morreu 11 de janeiro, aos 26 anos. Li que ele estava sendo processado nos EUA e tinha sido condenado a uma pena muito alta por ter aberto oportunidade para download de textos acadêmicos. Aaron Swartz ajudou a criar o Creative Commons, o sistema RSS e o Reddit. Sua morte suscitou manifestações diversas de apoio a uma internet mais livre.
Os limites da liberdade na internet são difíceis de serem definidos porque, embora a comunicação precise ser eficiente, também não devemos nos prejudicar uns aos outros publicamente. Só que o que Aaron Swartz teria feito não tem nada a ver com ofensas pessoais, mas com divulgação de artigos científicos.
Tudo bem que a divulgação dos artigos científicos deva ser feita por quem tenha seus direitos, mas é importante saber que o conhecimento pode ser compartilhado e debatido. E ele sempre deixou isso bem claro.
Isso não tem nada a ver com Aaron Swartz – pelo menos não diretamente-, mas também li, no jornal, que muitas pessoas estão dando cursos em canais do Youtube. Às vezes assisto. É incrível como elas se dispõem a gravar instruções, desde pontos de tricô e crochê até aulas de japonês, espanhol, receitas de comidas e quase tudo o mais.
Algumas pessoas ensinam de um jeito tão legal. E são super pacientes, realmente dedicadas a transmitir valiosas informações, ninguém sabe quais títulos elas têm, se os têm. Não é importante.
As aulas são detalhadas e me lembram Cortázar, que ensina a chorar, a subir escadas, a cantar, a ter medo (Manual de instrucciones).
Eu me pergunto se ainda há espaço para círculos fechados de conhecimento cultivados em academias. Quando falo em academia, não me refiro a uma universidade específica, mas a qualquer universidade que limite as discussões a poucos acostumados às notas de rodapé com citações de autores que ninguém conhece e não vai conhecer porque os exemplares de seus livros estão escondidos em prateleiras quase secretas ou em ambientes virtuais trancados. Ou citações de autores famosos, mas que as pessoas não leem direito, mas reproduzem porque são bacanas e situam o texto em um contexto ideológico específico e adequado à política acadêmica. Pior quando os textos efetivamente lidos não são referidos porque escritos por autores não tão adequados à política acadêmica.
Na Campus Party que acaba de terminar em São Paulo as contribuições de Aaron Swartz foram bem debatidas e as repercussões futuras de seu trabalho analisadas. Vale ver o que aconteceu, aqui: http://rafazanatta.blogspot.com.br/2013/01/qual-o-legado-de-aaron-swartz.html.
Independentemente de tudo isso, o que motiva este post é o uso da internet para a democratização de formas de expressão artística, informações e conhecimentos.
Ontem, assisti ao filme de Werner Herzog, “A caverna dos sonhos esquecidos”. Já vi havia visto pinturas rupestres de verdade na Chapada Diamantina. As nossas pinturas, no Brasil, são maravilhosas. Herzog chamou atenção para o movimento dos desenhos, a certa altura comparados à dança de Fred Astaire. Fred Astaire aparece dançando no filme, é lindo, leve. A caverna na França (Chauvet) é muito escondida, é proibido entrar lá, é tudo tão escuro, e, no entanto, pudemos ver o que ele viu com nitidez impressionante. Tecnologia em ação.
Como preservaremos a nossa arte, nosso conhecimento, nossas impressões? Não sei se todos nós conseguiremos guardar textos e ideias que produzimos, ou nos interessam, não sei se sabemos fazer isso. E temos cada vez menos espaço físico para livros e papéis.
E se tudo sumir, quem seremos para os outros?
A internet não pode ser uma caverna na qual as pessoas de agora ou do futuro não possam ou não saibam entrar. Não sei o que propor ou concluir porque não sei como a internet funciona, como ela acontece de verdade, tecnicamente falando. Mas os jovens como Aaron Swartz sabem. Ele sabia.
Tags: A caverna dos sonhos esquecidos, Aaron Swartz, academia, Campus Party, internet, Werner Herzog
8 de fevereiro de 2013 às 16:04 |
Boa discussão…
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