O livro é sobre Michel Foucault, sobre o pai de Mathieu, editor (Jérôme Lindon), e sobre uma geração, ou duas gerações, porque Foucault era muito mais velho. Todos então fomos surpreendidas pela AIDS, que mudou tudo.
Essa proximidade entre Lindon e Foucault aconteceu em vida, mas tive a impressão de que, depois da morte de Foucault, a amizade continuou. Depois que as pessoas morrem, elas continuam falando com a gente.
Não estou me referindo aqui a qualquer contato do outro mundo, mas à comunicação que acontece a partir de lembranças e prognósticos dessas lembranças.
É mais ou menos como a cena em que David Copperfield procura sua tia e o que o move é a lembrança de um relato que sua mãe fez sobre o último encontro que tiveram, e que ela vislumbrou, em um gesto, certo carinho. Essa impressão de carinho deu a David energia para procurar a tia, que o rejeitara, quando ele nasceu, porque desejava uma sobrinha mulher.
O livro de Mathieu é também sobre o que não se diz, ou se diz sem dizer, e a fala só se completa depois, muito depois, até depois da morte, se é que ela vem. Acho que não é “o que amar quer dizer”, mas como e quando dizer o tanto que se ama.
Mathieu Lindon diz para nós o que estaria dizendo a Foucault e ao pai. Na verdade, fala para eles.
Não vou contar o que é dito para não estragar a surpresa de quem lê, porque a narrativa se transforma ao longo do texto e há suspense, a gente quer chegar ao fim.
Curiosa, procurei Mathieu Lindon no site do Liberation. Vou ler sempre suas crônicas e reler o livro daqui a um tempo para compreender outras falas que não percebi, nunca se percebe tudo, ou alguns textos só se revelam quando lidos uma outra vez.
Tags: Mathieu Lindon; O que amar quer dizer, Michel Foucault
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