Ano novo
Olhando a internet na página uol, vi chamada para os crimes da década. Qual a graça de recapitular os crimes da década? Chamar atenção daqueles caras que adoram os aspectos sórdidos da convivência. Só pode ser.
Hoje já vi retrospectiva melhor: os cds brasileiros da década. Los Hermanos, Mallu Magalhães, Nando Reis, e outros. Ouço muita música, mas do século passado: Bowie, Dylan, Arnaldo Antunes (50 anos, ele vai fazer), Secos e Molhados (comprei na banca de jornal), Egberto, Keith Jarrett. Qual a graça de lembrar os cds da época? Promover os cds, formar um retrato do gosto musical de um povo em um dado lugar e em certa época. Quem gosta do quê? As pessoas gostam do que gostam ou do que são induzidas a gostar? Quem induz quem a quê?
Agora na internet tinha outra retrospectiva: piores acidentes naturais da década.
No filme José e Pilar, um dizer de Saramago ficou na memória, ele disse mais ou menos que, em termos de comunidade, estamos péssimos. Não usou essas palavras, mas eu entendi assim o que ele disse.
Saramago me pareceu muito cético, ou lúcido. Sou pessimista, só que tenho irritante ingenuidade. Crio falsas esperanças de que as pessoas são boas e tenho a ilusão de nosso mundo está progredindo.
Aí resolvi começar a ler o Evangelho segundo Jesus Cristo, que eu guardo em um lugar nobre da estante sem ter lido, e estou encantada. Em espanhol diria, “me encanta el libro”. Saramago pode não ter acreditado em Deus, mas o texto dele é poderoso. Como a história de Cristo é triste…ficar pregado na cruz do jeito que ele ficou…(não cheguei nessa parte, mas já adianto minha aflição com essa parte da história que com certeza virá). A ressurreição dele não me surpreende tanto, a crucificação é que me espanta. Mas era uma forma de punição corriqueira, muito usada na época. Cristo foi julgado, condenado segundo regras jurídicas estabelecidas.
No fim, vamos todo para debaixo da terra e os cremados ficarão guardados em urnas ou voarão pelos ares, não sei o que é pior. Se ressuscitaremos ou não, já não posso dizer.
Vi uma série sobre a vida no dvd e fiquei impressionada com o esqueleto de um pinguim afundando no mar depois de trucidado por um animal gigante, não me lembro se uma baleia assassina ou um outro peixe grande.
Não sou muito de retrospectivas, vivo um dia a cada dia e a vida inteira e não classifico muito os acontecimentos, embora sinta necessidade, depois dos 40, de fazer listas e formar conjuntos.
Estou na praia agora, é dia 31 de janeiro, os fogos estão pipocando, assobiam antes de explodir e os cachorros têm medo. Por que as pessoas soltam fogos no fim do ano?
Pra terminar essa crônica de ano novo, quero contar que estou revendo Reds com Warren Beatty e Diane Keaton. O filme obteve um Oscar em 81. É de 81, mas entra na minha retrospectiva da última década. Algumas tomadas, alguns diálogos, ficaram um pouco datados. Não gosto das partes em que as pessoas do período (começo do século XX), mais velhas, narram impressões sobre o que aconteceu, elas estão enrugadas, fica esquisito. Documentário americano é um pouco assim, eles colocam pessoas narrando ou contando histórias anos depois. Pesquisando, vi que Warren Beatty começou as entrevistas em 1970. As entrevistas são consideradas ponto alto do filme. Não gosto, prefiro entrar no romance. Tirando isso, o filme é bom também porque tem como personagem Eugene O’Neill (Jack Nicholson), além de Louise e Jack, sempre tentando escrever da melhor forma. Ele dizia a ela que o texto precisa tirar o fôlego do leitor.
John Reed é um dos personagens que eu admiro. Eu queria escrever como ele escrevia, com vida. O texto dele é esperto e colorido. Ele acredita naquele texto dele.
Minha proposta para 2011 é acreditar no meu texto e ouvir um disco por dia, todo dia, porque a música desperta a alma. Existe a alma? Tive uma dúvida, agora, mas é claro que existe.
Tags: 2011, Diane Keaton, John Reed, Reds, retrospectiva, Saramago, Warren Beatty
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