Disney

Foi uma semana intensa, a Disney não é pra qualquer um. A gente se sente na cidade universitária, os parques são como as faculdades (a analogia é meio estranha, mais espacial que ideológica). É que as avenidas são largas e há verdes campos. Andamos de ônibus porque ficamos em um hotel dentro da Disney. Aí era muito fácil, os ônibus vinham e iam, a música que ouvíamos no caminho tinha a temática do hotel, Port Orleans Riverside. Se tivéssemos ficado no French Quarter as músicas provavelmente seriam francesas.

Tudo é falso na Disney, menos a Disney. A realidade é palpável: eles conseguiram criar um ambiente onde tudo- menos o calor e os quilômetros que andamos a pé- é agradável, simpático, amável e arriscado: no limite. Quando queria uma informação da telefonista do hotel, à noite, ela se despedia dizendo “have magical dreams”. E de manhã ela dizia “have a magical day”. Não me lembro de ter ouvido vozes masculinas atendendo telefone. Mas vi mulheres dirigindo ônibus; uma mulher, na verdade.

Nesses dias voei por montanhas de neve, mares, com o vento batendo no rosto e nos meus pés pendurados. Andei de avião, fui a Marte, a Atlanta, ao México, à África, à Ásia (não entrei no elevador assombrado e não enfrentei a montanha russa de ponta cabeça). Vi foguetes e almocei com um astronauta de verdade no Kennedy Space Center.

Vi a querida orca Shamu, os golfinhos, o Cirque de Soleil. Remy cozinhou pra mim, entrei no Japão e adquiri lindos adesivos japoneses e cartões postais de Hiroshige. Jantei com as princesas todas no castelo norueguês. Vi elefantes, girafas, tubarões malignos.

Os americanos estavam todos lá, gentis, amáveis, às vezes não, dependendo. Comi waffle com maple syrup quase todos os dias, quebrando a dieta de todos os dias. Sabia que o maple syrup é um xarope extraído de seiva de árvore? Pensei que fosse totalmente artificial, mas não é. Tomei iogurte, contrariando minha nutricionista preferida e nossa recusa à lactose.

Cheese cake e cookies, muitos cookies, entraram na minha alimentação. Nada concedi aos ovos e as lingüiças, no entanto. Havia cenourinhas e pepinos em caixinhas plásticas, mas quem ousaria? O máximo que admiti foram as pequenas uvas sem caroço, lavadas, que levava para o quarto. E morangos. Comi muito camarão, também.

Senti falta do Mickey e da Minie, não apareceram no meu caminho. Mas vi Alice no país das maravilhas e Mulan. O castelo da Cinderella estava impávido, mas não pudemos entrar, não entendi bem. E falei inglês, muito inglês. Poderia ter falado espanhol, mas deixei as palavras em casa. De manhã eu ficava confusa, trocava as frases. Depois ia melhorando.

Fiz pouquíssimas compras, fiquei nas lembranças de viagem e arrisquei uma máquina fotográfica. Não visitei outlets. Ouvi que as roupas americanas são resistentes (máquinas de lavar e passar) e baratas, mas gosto de comprar perto da minha casa e parceladamente. Em viagens não sou consumista.

Tenho dado muita risada desde que cheguei, mas já estou ficando preocupada outra vez. Ah, também adquiri um massageador de costas no aeroporto. Não passou no raio x, precisou ser verificado. Tudo bem, era um inocente objeto de consumo de uma brasileira mais tensa.

Sei que sobrevivi e ainda estou digerindo a diversidade experimentada, tão confusa e tão igual, na verdade. Fiquei com vontade de conhecer mais os Estados Unidos.

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