O perfil de Philip Roth que David Remnick publicou na The New Yorker, que está no livro da Companhia das Letras intitulado Dentro da Floresta: Perfis e outros escritos da revista The New Yorker (2006-Coleção Jornalismo Literário coordenada por Matinas Suzuki Jr.), vai além da escrita. A leitura continua depois de terminada. Lê-se o que está ali, narrado por uma pessoa que parece muito próxima, e também tudo o mais que se puder enxergar e interpretar, dependendo do leitor. É um texto aberto. É aberto porque a obra de Roth suscita inúmeras constatações e indagações, porque os Estados unidos continuam a influenciar e a ter importância no mundo. Os personagens de Roth têm problemas maduros, sérios e decorrentes de um contexto político e social que não preserva os indivíduos: cada um que viva sua vida como puder, sem clemência. Fica-se sabendo, entre tramas lidas e contadas, que Roth veste-se “como um acadêmico do final dos anos 1950”, faz ginástica, caminha, mora sozinho, escreve o dia inteiro e, às vezes, à noite e quando mais quiser. Tornou-se estrela quando publicou O complexo de Portnoy, em 1969. O livro vendeu, no lançamento, mais de 400.000 exemplares. O protagonista, rapaz judeu que quer se libertar da família e ao mesmo tempo não consegue plenamente, tem cenas cômicas narradas em sessões de análise e revoltou a comunidade judaica. Os livros posteriores de Roth vêm fazendo muito sucesso. O perfil de Remnick fala de muita coisa, inclusive da profunda admiração de Roth por Saul Bellow, grande escritor americano com quem aprendeu a escrever, sem comiseração, sobre a geração que, depois da guerra, foi da Europa para a América. O aprendizado não captou o estilo, mas a liberdade de escrever. E é essa liberdade – ausência de medo- que faz um bom escritor, ou um escritor pelo menos razoável. Essa a mensagem do perfil de Philip Roth, se é que um perfil pode ter alguma mensagem.
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