Sobre “O irmão alemão” de Chico Buarque

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Faz tempo penso no último livro do Chico, “O irmão alemão” (Companhia das Letras).

Penso também no filme “Chico-artista brasileiro”, vi duas vezes. Eu gosto tanto do Chico – como se gosta de um irmão, primo, um super amigo, alguém de quem você não precisa dizer que gosta, é mais do que óbvio gostar. Ele está lá, aqui, ouço sempre que quero, leio quando quero, ele não me cobra nada, não está nem aí.

Agora fui ao youtube e vi “O que será que será”, “Cálice”, conversa com Tom Jobim, com Caetano, a Globo tinha um programa, “Chico e Caetano”, vi um pouco outra vez, eu sou da época desse programa. O livro sobre o irmão alemão é bem atual na forma, Chico acompanhou o tempo, soube chegar a 2015 sem deixar nada no caminho. Ou melhor, deixou muito, e se transformou, o filme mostra muito a transformação.

A história do livro se completa no filme, quando o próprio Chico surge em Berlim, uma cidade de bruscas e drásticas transformações.

O irmão alemão do Chico existiu mesmo, não é o mesmo irmão do livro, mas é o do filme, ele era artista também, na DDR, Alemanha oriental. Ficou do outro lado do muro.

No filme, a Marília Pera lê partes do livro. A voz da Marília Pera. Uma voz que fica.

Aí o Chico discutiu outro dia com alguém na rua sobre política, na verdade discutem com ele, e alguém filma, o vídeo viraliza. As pessoas ficam curiosas para ver como é o Chico discutindo na vida real. Eu não cheguei a ver. Vi só o começo do filme, fiquei sem paciência, era uma roda de homens falando, sei lá. Então é o Chico pessoa e o Chico artista e o personagem do livro que tem o irmão, o Chico que tem o irmão, de quem estou falando?, que importa, eu nem conheço pessoalmente.

No livro o Chico fala dos livros do pai dele com uma intimidade, poderiam ser os meus livros, os livros do meu pai e da minha mãe, que eram outros livros.

Ele fala em W.G. Sebald uma vez e eu vinha pensando muito em Sebald e nas imagens que ele insere entre os textos. Os espaços vazios de Sebald alargam a literatura ao infinito. O mundo ao infinito. Sebald era alemão. Por que será que Chico falou de Sebald?

No documentário mais recente Chico fala da infância e no youtube ele fala da infância, do pai dele que vivia estudando, lendo e escrevendo, quando perguntam ele fala que não participava das conversas de adulto (mas é verdade que ouvia a música de Vinícius, amigo do pai dele).

Quantas vezes um artista conta a sua infância? E se começar a contar de um jeito diferente, será que as pessoas percebem?

Em “O irmão alemão” ele faz isso, conta tudo de novo de um jeito diferente, como se fosse outro, ou como se tivesse sido.

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2 Respostas to “Sobre “O irmão alemão” de Chico Buarque”

  1. izildabichara Says:

    Tão bom ler você, Paula! Gosto do seu jeito coloquial de dizer o que pensa e sente e me identifiquei muito com esse seu gostar do Chico, que também é meu. Meu exemplar de O irmão alemão chegou ontem, pelo correio, e estou louca para começar a ler, sem interrupções. Ainda não consegui. Deixo para depois do Natal, mas já vou apurando o gosto e a vontade por meio deste seu post. Feliz Natal!

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