Joan Miró, François Truffaut, quatro livros e a neve

Aconteceu uma coisa importante, eu vi a neve. Em Bariloche, na Argentina.

Achei tão linda quanto o mar.

E estou lendo quatro livros: El vientre de la ballena, de Javier Cercas, Stoner, de John Williams, Senhor Proust, de Céleste Albaret, A ponte, de David Renmick. Os dois primeiros, ficção. O penúltimo, relato de uma senhora que trabalhou para Proust muitos anos, cuidando dele, acompanhando a construção de sua literatura sem se envolver diretamente com o texto. É um livro comovente que mostra pessoa maravilhosa que ele foi. Estou lendo a biografia de Barack Obama, também, A ponte. Mas parei no meio e não sei se continuo porque quis saber como ele se tornou quem é e essa parte já passou, pelo menos na fase inicial. Talvez eu retome logo, ainda não guardei o livro.

Não achava certo ler tantos livros ao mesmo tempo; acreditava que quem lia vários não lia nenhum. Mas hoje acho que, para mim, é o jeito possível de ler. Eu me canso e mudo. Depois volto. A internet e o celular fragmentaram o conhecimento, a fantasia e a informação e acabei me adaptando.

Stoner é bacana. Perdi na Argentina o livro publicado pela Rádio Londres, que tem uma capa muito boa, por sinal, e aí comprei a versão digital, em inglês. Estou gostando mais do livro em inglês. A narrativa fica mais natural, até por que Stoner é professor de literatura inglesa. Quero saber quando conhecerei melhor o personagem e essa hora não chega. Não chega porque ninguém conhece ninguém profundamente, não há certezas possíveis e o livro pega, para mim, por causa dessa nebulosidade assumida do narrador. Stoner não chega a ser ambíguo, mas é reservado. Estou curiosa para entender como enfrenta a timidez. Não sei se o narrador distante e íntimo ao mesmo tempo permitirá que eu adivinhe.

Hoje fui ao MIS ver a exposição sobre Truffaut.

Cena do filme Um só pecado, de François Truffaut

Cena do filme Um só pecado, de François Truffaut

Muito cheia de imagens em movimento. A exposição é montada de um jeito que quem vê precisa se movimentar, também, como se fosse parte de um filme, o filme sobre a exposição. Há textos explicativos de tudo, mas grudamos nas imagens. Simpatizo demais com Antoine Doinel, personagem que amadurece no transcorrer de várias películas, começando por Os incompreendidos. Houve uma época em que eu era muito ligada em Truffaut. Hoje essa ligação foi renovada.

E também quero falar sobre a exposição de Miró no Tomie Ohtake. Pela primeira vez gostei de Miró sem qualquer ressalva, acho que antes eu não compreendia muito bem sua aparente simplicidade. Não só os trabalhos são maravilhosos, como os filmes mostrados na exposição, principalmente as entrevistas.

miroescultura

Como eu tinha visto uma enorme escultura de Miró em Chicago, prestei bastante atenção no que ele fala sobre esculturas.

Miró

As esculturas expostas no Tomie Ohtake também são autênticas no sentido de que expressam tudo com absoluta clareza. São primitivas, puras. Antes delas, não havia nada.

Gostei dessa, que tem nome de personagem (Personnage):

personagem

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5 Respostas to “Joan Miró, François Truffaut, quatro livros e a neve”

  1. izilda Biichara Says:

    Sempre é bom encontrar aqui seu olhar para o mundo à sua volta. Gosto de te ler/ouvir. É como se você estivesse pensando em voz alta.
    Ah, também leio vários livros ao mesmo tempo. Alguns nunca termino. Outros, volto a ler depois de alguns anos.
    Beijos,
    Izilda

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  2. izildabichara Says:

    Sempre é bom encontrar aqui seu olhar para o mundo à sua volta. É como se estivesse pensando em voz alta.
    Ah, também leio vários livros ao mesmo tempo. Alguns nunca termino. Outros, volto a ler depois de alguns anos.
    Beijos,
    Izilda

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  3. Juan Esteves Says:

    ótimo Paula 🙂 tbm me pergunto isso as vezes…leituras múltiplas. Um dica : Proust e a Fotografia, escrito por Brassai ( Zahar) livro rápido e delicioso, bom para estar entre tantos outros 🙂

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