Leituras dispersas

Leio vários livros ao mesmo tempo. A falta de método atrapalha a compreensão total dos textos e das histórias e a memória perde encadeamentos necessários para uma eventual narrativa.
Se eu fosse contar a alguém o que me lembro de Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas, diria que é a história de um escritor que tenta se esvaziar de si mesmo para encontrar um personagem possível. No enredo ele desaparece, mas eu compreendi que vai murchando, esvaziando, enquanto viaja.
E ainda parei no meio de Cidade Pequena, de Lawrence Block. Um escritor é suspeito de assassinato e aproveita essa situação para promover seu livro. Será isso? Deixei o livro de lado faz um tempo e olho de vez em quando com vontade de recuperar a escrita natural de Lawrence Block, mas acabo lendo outras coisas.
Li um livro sobre a construção virtual da memória, encontrei no aeroporto. Esqueci o nome. O autor diz que podemos passar todas as nossas experiências para meios digitais e, se soubermos arquivá-las com método, serão encontradas quando precisarmos. Achei interessante, mas deve ser chato ter essa preocupação o tempo inteiro. Outro dia deletei mensagens do celular e depois fiquei meio triste, e se eu quiser escrever minha autobiografia, as mensagens não seriam úteis? Aí pensei, mas por que eu iria escrever minha autobiografia? E aí pensei, mesmo as pessoas cujas personalidades não têm repercussão podem escrever sua autobiografia. Memórias são sempre memórias. É, mas é melhor lembrar de tudo de um jeito esfumaçado, sem apontar datas em linhas do tempo.
E ontem à noite li Drummond, A falta que ama, li e reli Elegia transitiva. “Onde habitas agora, onde saber tuas joias errantes?”.

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